O globo, n.31453, 18/09/2019. Rio, p. 12

 

Oposição, mas nem tanto

Paulo Cappelli

18/09/2019

 

 

Partido com maior número de deputados na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) —são 12 —, o PSL do presidente Jair Bolsonaro rompeu oficialmente com o governador Wilson Witzel (PSC). Mas, apesar de o presidente da legenda no estado, o senador Flávio Bolsonaro, ter determinado a entrega de cargos na administração fluminense e uma postura de oposição, o clima não deverá ser de enfrentamento entre os parlamentares e Witzel, que terá votações importantes na Casa, como a renovação do Regime de Recuperação Fiscal com a União. Nos corredores do Palácio Tiradentes, a bancada do PSL foi apelidada de “oposição aspirina”, pois não faria “mal a ninguém”.

Na madrugada de ontem, Flávio reforçou aos deputados estaduais a orientação de que devem endurecer com o governo. Em um grupo de troca de mensagens, ele criticou Witzel pelo fato de o governador ter aprovado uma homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco, do PSOL, criando o Dia Estadual das Defensoras e dos Defensores de Direitos Humanos. O rompimento foi oficializado anteontem, após declarações de Witzel minimizando a influência de Jair Bolsonaro em sua eleição para o Palácio Guanabara em 2018.

Ocorre que a afinidade ideológica entre Witzel e PSL, ambos do campo conservador, dificulta um novo posicionamento do partido de Bolsonaro na Alerj.

—Não tem essa classificação de oposição. Toda pauta que envolva a reestruturação financeira do estado, a segurança pública e a valorização das forças policiais continuará sendo defendida por nós. Não existe possibilidade de um parlamentar de bem ser contrário a pautas para reerguer o Rio — disse Rodrigo Amorim, um dos deputados do PSL mais próximos de Witzel.

São atribuídas a Amorim indicações no programa Segurança Presente. Ele afirmou que não vai pedir ao governador que reveja essas nomeações:

—Nunca existiu toma lá dá cá em troca de apoio político. Indicações de cunho técnico sempre foram para a melhoria de políticas públicas.

Atualmente, dois políticos do PSL comandam secretarias no governo Witzel. Leonardo Rodrigues, à frente da pasta de Ciência e Tecnologia, diz que ficará no cargo. Ele é suplente de Flávio Bolsonaro no Senado.

—Não tenho motivo para deixar a secretaria. Sou um quadro técnico. A saída foi ordenada para quem tem mandato, quem tem voto. Eu sou uma escolha do próprio governador —argumentou.

Já a secretária de Vitimização e Proteção à Pessoa com Deficiência, a deputada federal licenciada Major Fabiana, espera conversar pessoalmente com Flávio Bolsonaro para anunciar os próximos passos.

‘O ESTADO ESTÁ ACIMA’

Líder do PSL na Alerj, Dr. Serginho fala em “oposição construtiva”:

— Não existe hoje alinhamento com o governo por motivações políticas, mas o estado está acima de qualquer questão. Nenhum deputado vai mudar seu posicionamento ideológico por uma questão político-partidária.

Líder do governo Witzel na Alerj, Márcio Pacheco (PSC) tentará fazer com que Flávio Bolsonaro reveja a orientação de enfrentamento:

—É prematuro dizer se há uma ruptura imediata ou se a gente ainda consegue buscar um consenso. Formalmente, até agora, nenhuma mudança foi feita. O PSL não encaminhou o desembarque do governo através do vice-líder do governo, Alexandre Knoploch. Não é do nosso interesse que uma bancada tão robusta deixe de caminhar conosco.

Além da renovação do Regime de Recuperação Fiscal com a União, que deverá ser votada no plenário da Alerj em outubro, Witzel enviará um outro projeto considerado essencial para o governo ainda este mês: a desvinculação de fundos, que permite remanejamento de verbas. Há ainda a votação do Fundo de Combate à Pobreza, que pode garantir ao governo alguns bilhões a mais em 2020.

Alexandre Knoploch disse que aguarda se encontrar com Witzel para comunicar que abandonará o posto de vice-líder e os cargos preenchidos por ele na Alerj por conta de sua função. Contudo, o deputado não pedirá ao pai, Maurício Knoploch, que deixe o cargo de assessor na Câmara Metropolitana.

— A nomeação para a Câmara Metropolitana foi uma escolha técnica do então secretário de Governo (Gutemberg Fonseca, exonerado em julho) —afirmou.