O globo, n.31453, 18/09/2019. Economia, p. 22

 

Guedes: "Petróleo quem resolve é a Petrobras"

Manoel Ventura 

Jussara Soares 

18/09/2019

 

 

O Ministério da Economia garantiu que não haverá interferência na política da Petrobras. Ontem à tarde, o presidente Jair Bolsonaro chamou o ministro Paulo Guedes para uma reunião no Palácio da Alvorada, para discutir a crise provocada pelos ataques a instalações petrolíferas da Arábia Saudita e seus efeitos sobre o preço dos combustíveis no Brasil. Depois do encontro, ao ser perguntado por jornalistas sobre o assunto, Guedes respondeu:

—Petróleo quem resolve é a Petrobras.

Na véspera, Bolsonaro havia declarado, antes da Petrobras, que a estatal não iria repassar imediatamente a alta do petróleo. Só depois da fala do presidente, na noite de segunda-feira, a companhia informou publicamente que a alta de 14% da commodity poderia ser atenuada e, por isso, acompanhará a variação do mercado nos próximos dias.

Ontem mesmo, a cotação do barril do tipo Brent recuou 6,48%, a US$ 64,55. Na véspera, havia encerrado a US$ 69,02. Contribuiu o anúncio do ministro de Energia saudita, príncipe Abdulaziz bin Salman, de que metade da produção já foi recuperada e tudo deve estar normalizado no fim do mês.

Mais cedo, antes da reunião entre Bolsonaro e Guedes, o vice-presidente Hamilton Mourão tinha dito que, “por enquanto”, os preços são definidos pelo “pessoal da livre empresa.”

GABINETE ESTRATÉGICO

Além disso, o governo anunciou a criação de dois comitês para monitorara situação, a serem coordenados pelo Ministério de Minas e Energia. Um deles, dentro da pasta, vai monitorar diariamente os efeitos dos ataques na Arábia Saudita sobre os preços do petróleo. Outro, composto ainda pelos ministérios da Economia e da Infraestrutura, com o Gabinete de Segurança Institucional, a Casa Civil e a Agência Nacional do Petróleo,vais e reunir acada dois dias para avaliar eventuais medidas e subsidiar decisões dos ministros.

— O governo instalou, no Ministério de Minas e Energia, um gabinete de acompanhamento da situação para manter o presidente Jair Bolsonaro informado e para a discussão de planos de ação para conter eventuais consequências—disse o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros.

O governo considera remota a possibilidade de greve dos caminhoneiros por causa de uma eventual alta no diesel. Segundo uma fonte, o assunto não repercutiu entre a categoria, que estaria desmobilizada.

O líder dos caminhoneiros no Paraná, Wanderlei Alves, o Dedeco, disse que o governo ainda não procurou a categoria. Esta, segundo ele, acompanha a situação e considerou positiva a declaração de Bolsonaro de que não haverá repasse imediato aos preços dos combustíveis:

— Mas, se o preço subir por esse ataque à Arábia Saudita, não há o que fazer.

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Forte oscilação da cotação do barril preocupa indústria e serviços

Bruno Rosa 

Ramona Ordoñez

Daiane Costa 

18/09/2019

 

 

A forte oscilação do preço do petróleo no mercado internacional nos últimos dias deixou empresas em estado de alerta. Setores como aéreo, químico e de vidro estão preocupados com as incertezas em torno dos preços da commodity, que afetam seus custos.

A maior parte dessas indústrias depende de derivados do petróleo. A Petrobras decidiu aguardar a evolução do barril antes de fazer alterações em seus preços. A crise pode ser mais um fator contra a recuperação da indústria no país. Nos seis primeiros meses do ano a produção industrial encolheu 1,6%, segundo o IBGE.

Para a Abiquim, que reúne empresas químicas, cerca de 40% dos produtos do setor são afetados diretamente pela cotação do petróleo.

—Há preocupação, pois não sabemos qual será a evolução dos preços — diz Fatima Ferreira, diretora da Abiquim.

No caso do gás natural, o contrato é reajustado deforma trimestral eleva em conta os preços médios dos seis meses anteriores, segundo a consultoria Gas Energy.

Segundo Lucien Belmonte, superintendente da Abividro, que representa fabricantes de vidro, o gás natural representa 25% do custo da indústria:

— No Brasil, as distribuidoras de gás transferem imediatamente o custo, exceto em São Paulo, que precisa fazer reajustes extraordinários co malta maior que a prevista.

Segundo o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, o combustível representa 32% dos custos dos aviões. Qualquer alteração impacta os custos das companhias e pode chegar às passagens:

— Até ontem, não tínhamos tido impacto nos preços do combustível, mas acompanhamos com preocupação.

O presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo Lopes, disse que as siderúrgicas vêm otimizando suas atividades par atentar reduzira dependência do transporte rodoviário em suas cargas, diante de uma possível alta dos combustíveis:

—É uma prova de fogo porque o país tem matriz essencialmente no modal rodoviário.