Título: Retoque nos laços com a base
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 19/11/2012, Política, p. 3

Aliados afirmam que Dilma Rousseff está em um momento "light", no qual tem dedicado mais tempo do que nunca às relações partidárias. A meta da presidente ao polir as alianças é pavimentar o projeto de reeleição para 2014

Após promover jantares para PMDB, PSB, PP e PSD, Dilma Rousseff dá sequência às reuniões com aliados em mais um capítulo que marca o novo estilo da presidente para distensionar as relações da base com o Planalto. Na quarta-feira, ela tem agenda com os senadores do bloco PTB-PR-PSC e PTL, no Palácio do Planalto. O convite mostra o esforço de Dilma para imprimir um novo ritmo de articulação política nos dois anos que restam para terminar o seu primeiro mandato — críticos para o projeto de reeleição em 2014.

Nas últimas duas semanas, ela convidou quatro legendas para jantares reservados no Palácio da Alvorada: PMDB, PSB, PSD e PP. Em todos os encontros, tem mostrado disposição em ampliar a relação com a base, ressaltado a importância da fidelidade no combate aos efeitos das crises internacionais e reforçando os laços para que todos estejam reunidos no mesmo projeto daqui a dois anos.

A mudança de estilo é confirmada até pela organização dos eventos. Há mais de um ano, quando Dilma enfrentava uma crise de relacionamento com os partidos da coalizão governista, ela pediu à ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que agendasse encontros com os líderes e presidentes das legendas que apoiam o Planalto. Nas reuniões deste ano, Ideli é apenas "mais uma das convidadas", segundo apurou o Correio. A definição de quem é chamado, qual pauta entrará no cardápio e quem serão os convidados para os demais encontros é de total responsabilidade da presidente.

Quem conhece Dilma há bastante tempo vê uma presidente mudada. "Ela está mais alegre, mais solta. Conheço a presidente desde o início do governo Dilma. Nunca a vi tão bem humorada como está atualmente", disse ao Correio o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral. O dirigente pessebista, que esteve presente em um dos jantares no Alvorada ao lado do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, enxerga duas motivações para as reuniões políticas: cicatrizar as mágoas e pavimentar a aliança governista. "Ela despertou para a necessidade de ter uma relação mais próxima com a base", afirmou.

Dilma não abre mão da consultoria do mentor político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Antes da reunião com o PMDB, por exemplo, conversou por quase três horas com Lula no Palácio da Alvorada. Na última quarta-feira, novo encontro, dessa vez no escritório da Presidência da República em São Paulo para uma avaliação das conversas com os aliados realizadas até o momento.

As consultas informais não significam, contudo, que a presidente queira terceirizar o diálogo com os aliados. "O foco dela continua sendo a economia e os riscos que o país enfrenta com a crise financeira internacional, mas a política ganha muito com esse novo papel que a presidente passou a exercer", elogiou o líder do PMDB na Câmara e candidato à presidência da Casa em 2013, deputado Henrique Eduardo Alves (RN). "A capacidade técnica começa a se aliar à capacidade política", completou.

Ela também é cirúrgica na hora de abordar os assuntos que interessam aos partidos. Ao PMDB, assegurou o apoio à eleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) para a presidência do Senado e de Henrique Alves na Câmara. Para o PSD, agradecimentos pelo apoio no Congresso. Ao PP, a garantia de que a sigla continuará com a pasta de Cidades. "Ela está craque. Quem quiser discordar dela, melhor nem conversar, senão ela convence", elogiou o presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ).

Ex-ministro Se todos os parlamentares do bloco liderado pelo PTB marcarem presença na reunião de quarta, Dilma se encontrará com um grupo heterogêneo, que inclui Alfredo Nascimento (PR-AM), Blairo Maggi (PR-MT), Fernando Collor (PTB-AL) e Gim Argello (PTB-DF). Será a primeira vez que a presidente estará à mesa com Nascimento desde que o senador foi exonerado do Ministério dos Transportes, em julho de 2011. A presidente afastou o então ministro por conta de denúncias de superfaturamentos e aditivos em obras que seriam usados para abastecer o caixa do PR.

O Planalto e os aliados

Veja como está a relação dos partidos da base com o governo

PMDB Manutenção de Michel Temer como vice-presidente e apoio à eleição de Henrique Alves (PMDB-RN) e Renan Calheiros (PMDB-AL) para as presidências da Câmara e do Senado, respectivamente. Gabriel Chalita (PMDB-SP) é cotado para a Esplanada.

PSD Dilma quer o partido na base de apoio do governo no Congresso. Deve dar um ministério para a sigla, provavelmente o de Micro e Pequena Empresa, ou a Secretaria de Aviação Civil.

PP O partido será mantido no comando do Ministério das Cidades.

PSB O governo não vai levar em conta o resultado das eleições municipais para definir o relacionamento com o partido no plano federal, e a tendência é que não ganhe pastas.

» Com quem Dilma ainda não conversou

Bloco PTB-PR-PSC-PTL Reunião marcada para 21 de novembro.

PCdoB Comanda o Ministério dos Esportes.

PDT Está à frente do Ministério do Trabalho.