O globo, n.31451, 16/09/2019. País, p. 04

 

Um novo tabuleiro 

Marcelo Remigio

16/09/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

No Rio, jogo está entre marcas da Lava-Jato e eclosão do PSL

O quadro de pré-candidaturas para as eleições municipais do próximo ano no Rio e nos seis maiores colégios eleitorais da Baixada Fluminense e da Região Metropolitana ganha forma refletindo as cicatrizes da Lava-Jato e o surgimento de nomes do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro.

Enquanto velhos chefes do MDB do Rio — que controlaram nas últimas décadas movimentos políticos de cada um dos 92 municípios, cedendo pouco espaço para partidos como PT e PSDB — estão ou já passaram pela cadeia após escândalos de corrupção, forças bolsonaristas tentam se cacifar nas cidades mais populosas do estado. Já o PSC, do governador Wilson Witzel, busca alianças, assim como as siglas de esquerda, enfraquecidas, que planejam remodelar seus discursos.

Em jogo, fora os 4,8 milhões de eleitores da capital, estão cerca de 3 milhões de votos, distribuídos em São Gonçalo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Niterói, São João de Meriti e Belford Roxo. O PSL traçou como meta lançar candidatos em todos os 92 municípios. Dois serão os motes de campanha: parcerias com o governo Bolsonaro e ações na área de segurança pública. O senador Flávio Bolsonaro será o principal cabo eleitoral.

Na capital, o MDB, antes cobiçado, ainda não apresenta rumo claro enquanto tenta juntar seus cacos para entender até que ponto a família Picciani continuará com poder. O PSL já cogitou o deputado estadual Rodrigo Amorim, que enfrenta fogo amigo do vereador Carlos Bolsonaro. O prefeito Marcelo Crivella (PRB) buscará a reeleição com discurso conservador contando com possível neutralidade de Bolsonaro, enquanto o grupo de Rodrigo Maia e Eduardo Paes, do DEM, ensaia aproximação com o PSC, do governador Wilson Witzel. O PSDB planeja lançar a ex-secretária de Cultura de Crivella Mariana Ribas, sob as bênçãos do governador de São Paulo, João Doria. O deputado Marcelo Freixo busca imagem menos radical na esquerda.

No estado, o PSC de Witzel lança mão da habilidade de articulação do presidente da legenda, Pastor Everaldo, para viabilizar alianças nos municípios e atrair nomes de partidos adversários, em especial o MDB, que, em 2016, elegeu 21 prefeitos e chegou a ter, anteriormente, mais de 35 prefeituras. A sigla hoje mira as reeleições.

Segundo maior colégio eleitoral do Rio, São Gonçalo, na Região Metropolitana, tem uma lista de pré-candidatos proporcional ao número de eleitores. Já se declararam interessados em disputar a prefeitura pelo menos 14 nomes. O município é uma das maiores apostas da família Bolsonaro. Historicamente, a cidade sempre foi um reduto eleitoral do presidente nas eleições para a Câmara.

QUEDA DE BRAÇO

O PSL estuda uma chapa puro-sangue com o deputado estadual Filippe Poubel e o colega de plenário Coronel Salema, como vice. O deputado federal Ricardo Pericar (PSL) é outra opção.

— Sou soldado da família Bolsonaro na Alerj e participo da executiva do partido. Vamos mostrar que os modelos de governos que passaram por São Gonçalo não deram certo, e que a proximidade com o presidente é necessária para cidade — afirma Poubel, que avalia a pré-candidatura.

O embate em São Gonçalo também terá o atual prefeito José Luiz Nanci (Cidadania), o ex-deputado Dejorge Patrício (Republicanos), o ex-secretário de Cultura Randal Farah (PDT) e candidatos de PSC, PSOL e Avante.

Em Nova Iguaçu, a eleição de 2020 passa por uma rearrumação nos partidos. Rogério Lisboa (PL) tentará a reeleição. Parte do MDB se aproximou de Lisboa e, segundo interlocutores do prefeito, ele tem a bênção de Witzel. Os apoios resultaram em disputas internas no PSC e MDB.

— Mantenho minha base desde que assumi a prefeitura e já abri o diálogo com outras lideranças —diz Lisboa.

Ex-prefeito de Queimados, o deputado estadual Max Lemos (MDB) tenta se viabilizar em Nova Iguaçu. No entanto, encontra resistência de seu partido. Lemos namora com o PDT, ao mesmo tempo em que busca uma solução que leve à sua saída do MDB. A expulsão preservaria seu mandato.

O deputado era o braço direito na Baixada do ex presidente da Alerj Jorge Picciani, em prisão domiciliar, e hoje trava uma briga com seu filho e presidente regional da sigla, Leonardo Picciani.

—As conversas com o PDT avançaram e uma eventual candidatura tem o apoio do partido. O MDB não ofereceu a vaga. Sempre fui fiel e correto com o partido, vamos ver o que poderá ser feito — afirma Lemos, que abriu um gabinete avançado na cidade e soma sete partidos aliados.

No PSC, apesar da aproximação de Lisboa com o governador, o partido negocia com o ex-prefeito e ex-deputado Nelson Bornier sua ida para a legenda. Aliado de Pastor Everaldo, Bornier cobra a fatura de ter apoiado a eleição de Witzel.

Também despontam como pré-candidatos os deputados Delegado Carlos Augusto, líder do PSD na Alerj, e Anderson Moraes (PSL).

Em Duque de Caxias, o MDB trabalha pela reeleição de Washington Reis. Ele deverá encontrar antigos adversários como o ex-prefeito José Camilo Zito (PDT) e o exdeputado Dica (PL). O PSL aposta no deputado estadual e PM Marcelo do Seu Dino.

A candidatura de Reis faz parte de um projeto do prefeito para 2022. Ele pretende lançar candidatos em outras cidades da Baixada de olho no Palácio Guanabara. Reis elegeu irmãos para Câmara, Alerj e Câmara Municipal de Caxias.

Atual prefeito de São João de Meriti, João Ferreira Neto disputará a reeleição, provavelmente pelo DEM. O PSL tem como pré-candidatos o deputado federal Professor Joziel e o vereador Charles Silva, próximo a Flávio Bolsonaro. Os deputados estaduais Giovani Ratinho (PTC) e Leo Vieira, que embarcou no PSC, estão na disputa.

Em Belford Roxo, o prefeito Waguinho (MDB) trabalha com a reeleição ou a candidatura da mulher, a deputada federal Daniele (MDB). O deputado estadual Doutor Deodalto (DEM), o vereador Cristiano Santos (PL) e Júnior Cruz (PSL) estão cotados.

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Após administração de esquerda, Niterói tem onda conservadora

16/09/2019

 

 

A polarização partidária que marcou as eleições presidenciais do ano passado terá em Niterói um novo capítulo. A cidade, com tradição de voto de esquerda e governos de prefeitos filiados ao PDT e ao PT, tem hoje entre os principais pré-candidatos representantes de partidos de centro direita, que defendem uma pauta conservadora.

Na outra ponta, PSOL, PDT e PT estudam nomes de densidade eleitoral para fazer frente a partidos como PSL, PSC e PSD. No segundo turno de 2018, o presidente Jair Bolsonaro recebeu 62% dos votos na cidade.

Reeleito deputado estadual com cerca de 62 mil votos, Flávio Serafini é apontado como o nome mais forte para disputar a prefeitura de Niterói pelo PSOL. Ele terá como principal cabo eleitoral o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL).

Também com um histórico de esquerda, o deputado federal Chico D’Ângelo é cotado para concorrer ao cargo de prefeito pelo PDT. Vice-líder da oposição no Câmara, o parlamentar foi eleito pela primeira vez para a Câmara em 2006, pelo PT. O Partido dos Trabalhadores deverá lançar o deputado estadual Waldeck Carneiro.

Do outro lado da ponta está o também deputado federal Carlos Jordy (PSL). Ex-vereador em Niterói, ele chegou ao Congresso pelas mãos da família Bolsonaro. Jordy tornou-se um dos parlamentares do PSL mais próximo do senador Flávio Bolsonaro. O ex-vereador foi eleito com 205 mil votos.

O atual prefeito, Rodrigo Neves, que chegou a ser afastado do cargo ao ser preso, em dezembro do ano passado, acusado pelo MP/RJ de liderar um esquema que teria desviado reembolso de passagens de ônibus, não poderá concorrer. Reeleito pelo PDT, estuda quem lançará. Entre os nomes estão Comte Bittencourt e o secretário municipal de Planejamento Axel Grael.

O vereador Bruno Lessa (PSDB), cortejado pelo PSC, Paulo Bagueira (SD), Sérgio Zveiter (DEM) e Felipe Peixoto (PSD) também são pré-candidatos. (M.R.)