O Estado de São Paulo, n. 46145, 19/02/2020. Economia, p. B3

 

Guedes fica até ultimo dia, diz Bolsonaro

Julia Lindner

Jussara Soares

19/02/2020

 

 

Declaração ocorre dias depois do ministro chamar servidores de parasitas; presidente deve enviar esta semana reforma administrativa   

Por trás dos risos. Guedes estaria pressionando Bolsonaro a enviar a proposta de reforma administrativa ao Congresso

Sem que tivesse vindo à tona qualquer ruído sobre a saída do governo do ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente Jair Bolsonaro decidiu falar sobre o assunto e negar o que ninguém havia afirmado.

Em evento realizado ontem no Palácio do Planalto, Bolsonaro disse que Guedes seguirá até o fim do governo. A declaração ocorreu dias após o ministro causar polêmica ao chamar os servidores públicos de “parasitas”, o que o levou a fazer sucessivos pedidos de desculpas e a esclarecer que desejava chamar o “Estado” de parasita.

“Se Paulo Guedes tem alguns problemas pontuais e sofre ataques, é muito mais pela sua competência do que por possíveis deslizes, que eu também já cometi muito no passado. O Paulo não pediu para sair, tenho certeza de que de que ele vai continuar conosco até o último dia. Ele não é militar, mas foi um jovem aluno do colégio militar de Belo Horizonte”, afirmou Bolsonaro, durante a cerimônia de posse de ministros.

Bolsonaro evitou esclarecer por que mencionou a permanência de Guedes no discursos e disse a jornalistas que “é só ver o vídeo” de suas declarações. Na semana passada, Guedes causou outra polêmica ao afirmar que o dólar mais barato estava prejudicando as exportações e permitindo que “todo mundo”, incluindo empregadas domésticas, pudessem ir para a Disney.

A afirmação de Bolsonaro sobre a permanência de Guedes no governo não foi gratuita. A equipe econômica está insatisfeita com a demora do Palácio do Planalto no envio da reforma administrativa para o Congresso e pressiona Bolsonaro a anunciar a medida ainda esta semana. O texto está na gaveta do presidente Bolsonaro desde o ano passado.

Outro ponto de atrito é a negociação das mudanças no orçamento impositivo. A equipe econômica se queixa de falta de entendimento da ala política em relação ao impacto dessas alterações, que vão dificultar a administração das despesas e o bloqueio para o cumprimento da meta fiscal. “Há muita desinformação”, diz um integrante do time de Guedes.

Ontem à tarde, Bolsonaro reuniu ministros em seu gabinete para discutir os detalhes finais da proposta do Orçamento. Para auxiliares do ministro, a declaração do presidente foi um afago em Guedes, após declarações recentes dele, que tiveram repercussão negativa.

Sinal. Ontem, Bolsonaro quis dar um sinal de comprometimento com as reformas, depois de ser criticado por titubear sobre o envio das medidas ao Congresso. Ele disse que passaria a noite estudando a proposta de reforma administrativa que o governo quer encaminhar ao parlamento ainda nesta semana.

“Vou papirar (estudar) hoje à noite. Vou estudar a noite toda, peguei o consolidado agora”, disse o presidente ao chegar ao Palácio da Alvorada.

Bolsonaro chegou a cancelar um evento sobre o Programa Mais Brasil para discutir a reforma com sua equipe. O cancelamento foi anunciado cerca de meia hora antes, quando os convidados chegavam ao Palácio.

No fim do dia, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que o governo sinalizou que enviará a proposta com mudanças nas regras dos servidores públicos nesta quinta-feira. Em São Paulo, Maia demonstrou que está confiante na aprovação das reformas tributária e administrativa até o fim do primeiro semestre, antes, portanto, das eleições municipais. Antes disso, Maia havia rejeitado a possibilidade de a administrativa ficar para o ano que vem, atraso que poderia ocorrer em razão do calendário apertado e do número de propostas em discussão em outras áreas, como a reforma tributária e a PEC emergencial.

Aluno de colégio militar

“O Paulo não pediu para sair, tenho certeza de que de vai continuar conosco até o último dia. Ele não é militar, mas foi um jovem aluno do colégio militar de Belo Horizonte.”

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE

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Presidente afirma que não será 'refém' do Congresso

Jussara Soares

Daniel Weterman

19/02/2020

 

 

Bolsonaro manda que seus auxiliares voltem a negociar para não ficar ‘pedindo dinheiro’ para os parlamentares

Uma semana após o governo anunciar um acordo com o Congresso sobre os vetos no Orçamento impositivo, o presidente Jair Bolsonaro determinou que seus auxiliares voltassem à mesa de negociação. Irritado, Bolsonaro disse a ministros que não quer ficar “refém” do Legislativo, pedindo dinheiro aos parlamentares e ameaçou até judicializar a questão caso seus vetos sejam derrubados no Congresso.

O acerto fechado com o Congresso na semana passada foi comemorado no Planalto como uma vitória do ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, após o Parlamento ameaçar impor uma derrota histórica ao governo para controlar R$ 46 bilhões do Orçamento da União. O acordo devolveria ao Executivo o controle sobre R$ 11 bilhões das chamadas despesas discricionárias, que incluem investimentos e custeio da máquina, antes “carimbadas” pelos parlamentares para emendas. Também ficariam de fora do projeto, por exemplo, o prazo de 90 dias que havia sido estabelecido pelo Congresso para o governo garantir o pagamento das emendas e também a punição, caso o Executivo não efetuasse as transferências. Na reavaliação dos termos do acordo, Bolsonaro avaliou que não era vantajoso.

Ontem à noite, uma reunião convocada às pressas na casa do Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), reuniu os ministros Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, e Paulo Guedes, da Economia.

A conversa também teve a participação do líder do governo no Congresso, o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), o relator do Orçamento, deputado Domingo Neto (PSD-CE), e Cacá Leão (PP-BA), relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e do projeto que teve vetos de Bolsonaro. Juntos, eles tentavam desenhar um novo termo que satisfizesse o presidente. A pessoas próximas, Bolsonaro chegou a dizer que não seria transformado em uma “rainha da Inglaterra”, uma alusão à ideia de que não seria o mandatário do País, mas sem poder de decisão.

Projeto. À tarde, o presidente teve uma conversa com Davi Alcolumbre em seu gabinete, no Palácio do Planalto. Preocupado com o controle do Congresso sobre as emendas parlamentares, o governo avalia alterar a extensão do projeto. “Nada que não possa ser superado com diálogo e debate entre lideranças e as áreas econômica e política do governo”, disse o senador Eduardo Gomes.

O parlamentar confirmou que o governo vai encaminhar o projeto acordado com o Congresso alterando a extensão do orçamento impositivo só depois do Carnaval.

Diálogo

“Nada que não possa ser superado com diálogo e debate entre lideranças e as áreas econômica e política do governo.”

 Eduardo Gomes

LíDER DO GOVERNO NO CONGRESSO