Título: Um líder presente
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 01/11/2012, Mundo, p. 18

Barack Obama deixa de lado o papel de candidato, visita Nova Jersey e promete ajuda de longo prazo às vítimas da supertempestade Sandy. Romney retoma a campanha republicana na

Durante a passagem da devastadora supertempestade extratropical Sandy pela Costa Leste dos Estados Unidos, Barack Obama disse que as eleições eram o menos importante neste momento. No entanto, com a aproximação do dia de votação no país, na próxima terça-feira, é praticamente impossível dissociar o presidente do candidato democrata em busca da reeleição. Tanto sua campanha como a republicana suspenderam eventos no começo da semana, e Obama passou a dominar a exposição na mídia com a sua posição natural de líder do país.

Analistas e jornais americanos afirmaram ontem que ainda era cedo para avaliar sua postura e os impactos sobre as eleições, assim como fazer comparações com o ex-presidente George W. Bush durante a passagem do furacão Katrina, em agosto de 2005. Mas os elogios do governador de Nova Jersey, Chris Christie — uma das principais apostas do futuro republicano —, ao comentar a resposta do governo federal à devastação em seu estado, abafaram qualquer crítica da oposição ao comportamento do presidente.

Obama e Christie, inclusive, inspecionaram juntos ontem os locais atingidos pela tempestade, e voltaram a trocar amabilidades. “É muito importante ter o presidente dos Estados Unidos aqui”, disse Christie. Em resposta, Obama afirmou que o governador “está trabalhando incessantemente”. Na terça-feira, o republicano já havia comentado que o presidente “tem sido formidável”. Ontem, entre fotos e abraços com moradores da cidade de Brigantine, a apenas 5m de Atlantic City, Obama reafirmou a ajuda às vítimas e prometeu que sua administração ficaria ali “a longo prazo”, aparentemente sem levar em conta a possibilidade de seu mandato se encerrar em 20 de janeiro de 2013. O presidente candidato deve retomar seus eventos de campanha hoje, com visitas aos estados de Nevada, Colorado e Wisconsin.

Enquanto isso, Romney voltava ontem a se empenhar na caçada aos votos, na Flórida. No dia anterior, transformou um local destinado a um comício em Ohio em centro de doações, recebidas por ele pessoalmente. Romney se viu obrigado a lidar com os questionamentos sobre declarações durante as primárias de que reduzirá o orçamento da Agência Federal de Gestão de Emergências (Fema, na sigla em inglês), responsável em responder às tragédias. “Nós estamos enfrentando um trauma em grande parte do país”, admitiu o republicano.

As ações do candidato, porém, não foram capazes de aplacar as críticas contra ele. “Infelizmente, o serviço voluntário da chapa Romney-Paul Ryan é apenas uma maneira de distrair os eleitores da crueldade de suas propostas políticas”, escreveu em um artigo no The Nation Ben Adler, analista do Center for American Progress, citando os comentários de Romney sobre a Fema. “Todas as latas de sopa que eles coletarem não substituirão o poder do governo federal para resgatar ou cuidar das vítimas.”

Reação rápida

Obama suspendeu os compromissos de campanha e decidiu permanecer em Washington, antes de viajar a Nova Jersey para gerenciar a crise. Ele assinou declarações de emergência para os estados de Nova York e Nova Jersey. Numa ação para obter rápida resposta às consequências deixadas pela tempestade, anunciou que o governo federal tinha dinheiro suficiente para ajudar prontamente milhões de pessoas prejudicadas pela tragédia. Até ontem, o número de mortos era de 58. O candidato republicano chegou a criticar a reação do presidente, dizendo que ele agia com interesses políticos.

Mas para o cientista político David Rohde, da Duke University (em Durham, Carolina do Norte), os “notáveis” comentários do governador de Nova Jersey barraram qualquer possibilidade de os republicanos fazerem uso político negativo dos atos presidenciais. Rohde ponderou, entretanto, que o impacto da resposta do governo Obama sobre as eleições levará alguns meses para ser percebido. O analista lembrou que a passagem do Katrina por Louisiana, em 2005, foi seguida de uma resposta falha e muito criticada da administração Bush, mas considerou que é cedo para fazer comparações. “Há decisões tomadas que não são visíveis agora”, ponderou, em entrevista ao Correio.

58 Total de mortes provocadas pela tempestade Sandy, durante sua passagem pelos Estados Unidos. O número pode aumentar

67 Número de vítimas do então furacão Sandy no Caribe, na semana passada