Título: Aos poucos, a vida é retomada
Autor: Pedreira, Vinícius
Fonte: Correio Braziliense, 01/11/2012, Mundo, p. 19

Os norte-americanos tentam retomar a rotina em meio aos resultados de uma das maiores catástrofes naturais da Costa Leste. Autoridades e moradores informaram que linhas de ônibus em Nova York já circulam e a Bolsa de Valores de Wall Street voltou a operar, depois de ficar dois dias fechada — um fato considerado inédito desde 1888. Os aeroportos internacionais de Newark (Nova Jersey) e John F. Kennedy (Nova York) também reabriram, embora funcionem com limitação de voos. Além disso, shows da Broadway e do Metropolitan Opera abriram suas portas. O transporte de barcas de Manhattan para Nova Jersey também foi reiniciado.

Por outro lado, os aeroportos de La Guardia e Teterboro permanecem fechados. O metrô, que atende a 6 milhões de pessoas todos os dias, voltará a oferecer seus serviços hoje, ainda que de forma parcial. Em Nova Jersey, a região mais atingida, cerca de 2 milhões de residências continuavam sem energia, enquanto que na Pensilvânia, o número de pessoas afetadas pelo blecaute chegava a 850 mil.

Os desafios da população e das autoridades estão longe de serem pequenos. Analistas norte-americanos ainda fazem os cálculos dos prejuízos causados pelo fenômeno. A consultoria de gestão de riscos Eqecat estima que os valores dos danos oscilem entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões. Por sua vez, economistas da consultoria IHS Global Capital Insight calculam perdas menos modestas — de US$ 30 bilhões a US$ 50 bilhões. Sandy deixou 58 mortos nos Estados Unidos, sendo 28 somente na megalópole Nova York.

Dificuldades

Ao relatar os momentos de tensão vividos em Manhattan, durante a passagem da supertempestade, o brasileiro Rob Langhammer, 38 anos, diretor de filmes e residente na cidade desde 2010, citou a dificuldade de transporte e a falta de água e de luz como principais problemas. “Algumas pessoas aqui de Manhattan estão caminhando mais de 60 quadras para trabalhar. Vários lugares sofreram danos elétricos. Ainda vai demorar um pouco para voltarmos à normalidade”, comentou ao Correio.

Segundo Pedro Contaifer, publicitário de 23 anos, sua universidade (Lehman College) está há três dias de portas fechadas. Já o empreendedor Radan Sousa, 25, morador do Brooklyn, conta ao Correio que teve que esperar mais um pouco para poder se mudar para o distrito financeiro próximo a Wall Street. “O prédio para o qual eu iria está com a entrada inundada, assim como o poço dos elevadores. Estou esperando uma definição para poder me mudar”, completa.

Sandy deixou os hospitais em uma situação comparável ao dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Hospitais como o da Universidade de Nova York, o Mount Sinai (Manhattan) e o Coney Island (Brooklyn) tiveram de transferir seus pacientes por causa das enchentes nas suas instalações e dos cortes de energia. “Chegaram, de uma vez, mais de um paciente em estado crítico sem nenhum registro do seu estado e apenas com um par de documentos molhados e amassados”, relatou à agência France-Presse o médico Carlos Cordon-Cardo. Outros centros médicos, como Bellevue, também em Manhattan, tiveram seus porões inundados e precisaram trabalhar com geradores de emergência. “Esta é, talvez, a situação mais complexa que vivi em Nova York nos últimos 30 anos”, disse Cordon-Cardo.

Nações Unidas

Os problemas provocados pela supertempestade Sandy na sede das Nações Unidas, em Nova York, levaram o Conselho de Segurança a se reunir ontem em um prédio anexo. A sala onde normalmente o conselho delibera fica no porão do prédio da ONU, ao lado do East River, uma das áreas mais afetadas pelas inundações dos últimos dias. Dessa forma, os 15 membros se mudaram temporariamente para o Edifício North Lawn, também situado no complexo das Nações Unidas, mas em uma área mais afastada que não sofreu prejuízos. Segundo fontes diplomáticas, a entrada principal da sede da ONU ficou muito danificada por isso, não há previsão para a reabertura.

O show continua

A vida artística de Nova York volta a pulsar. Embora sucessos como Rei Leão e Mary Poppins permaneçam fora de cartaz, grande parte dos 38 shows voltou a ser encenada, incluindo Cyrano De Begerac, Jersey Boys e The Book of Mormon. “A Broadway é um ícone tão importante para a cidade de Nova York como o metrô, então voltar ao trabalho é sinal de que tudo está voltando ao normal”, disse Patrick Page, o intérprete do vilão Comandante de Guiche de Cyrano. Em Washington, os prejuízos e mortes provocados pela supertempestade Sandy, porém, acabaram levando a Casa Branca a cancelar a tradicional festa de Halloween.