Título: Novo comando na polícia de SP
Autor: Chaib, Julia
Fonte: Correio Braziliense, 27/11/2012, Brasil, p. 8

Diante da criminalidade que matou pelo menos 20 pessoas só no último fim de semana, novo secretário de Segurança Pública troca comandante da PM e chefe da Civil

Em meio à onda de violência que assola São Paulo há mais de um mês, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) anunciou ontem oficialmente as mudanças nos comandos das polícias Civil e Militar do estado. As trocas ocorreram após o novo secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, assumir a pasta. Com as decisões — que devem ser publicadas hoje no Diário Oficial do Estado — o novo comandante-geral da PM será o coronel Benedito Roberto Meira, que assume no lugar de Roberval França. Na Polícia Civil, Luiz Maurício Blazeck ficará à frente da delegacia-geral e substituirá Marcos Carneiro Lima. O anúncio das novas chefias foi feito após um fim de semana com alto número de homicídios: da noite de sexta-feira até a madrugada de ontem, pelo menos 20 pessoas foram assassinadas.

A série de mudanças veio à tona após o balanço divulgado pela SSP que revelou outubro como o mês mais violento do ano: foram 176 vítimas de homicídios na capital paulista. Na comparação com outubro de 2011, o crescimento foi de 114%. Em relação a setembro, que havia registrado o maior número de assassinatos do ano até então, o número é 23% maior. A onda de violência levou cerca de 200 pessoas, no início da tarde ontem, a realizarem um ato pela paz. Familiares de vítimas, entidades religiosas, sindicais e políticos se reuniram no Pátio do Colégio, região central de São Paulo.

Durante a posse no Palácio dos Bandeirantes, na quinta-feira passada, Fernando Grella ressaltou três pontos de destaque no combate à criminalidade no estado. “Esse objetivo só será alcançado com aperfeiçoamento dos mecanismos de transparência, com a participação da sociedade civil organizada e com a atuação conjunta e a permanente troca de conhecimento entre as polícias: Militar, Civil e Científica”, ressaltou.

O comando da Polícia Técnico-Científica foi o único sem alterações. O perito criminal Celso Perioli foi mantido na chefia do setor que responde pelo Instituto de Criminalística (IC) e Instituto Médico Legal (IML). O novo comandante da PM, Benedito Roberto Meira, é paulistano e tem 50 anos — 31 deles dedicados à corporação. Representando a Polícia Civil, o delegado-geral Luiz Maurício Blazeck, 46 anos, é formado em direito pela Faculdade de Direito de Sorocaba, com pós-graduação em Gestão de Segurança Pública. Ele está há 26 na Polícia Civil paulista.

Conflitos Pelo menos 15 pessoas morreram na Grande São Paulo no último fim de semana. De domingo até a madrugada de ontem, três pessoas foram assassinadas. Duas delas seriam assaltantes em confronto com a polícia. Os suspeitos invadiram uma residência e mantiveram os moradores reféns na Rua Ursa Maior, 240, em São Mateus. Após serem cercados, bandidos trocaram tiros com a polícia e foram atingidos.

A terceira morte ocorreu na noite de domingo. O corpo de um homem baleado foi encontrado na Rua Miguel Arquerons pela polícia, no Grajaú. O caso foi registrado no 101º Delegacia de Polícia (Jardim Embuias). No fim da tarde, um empresário de 38 anos já havia sido baleado em um posto de gasolina na Avenida Engenheiro Caetano Álvares, no Mandaqui, na Zona Norte.

Para o cientista político Guaracy Mingardi, doutor pela Universidade de São Paulo (USP), a onda de violência no estado ocorre em função de uma guerra silenciosa entre facções criminosas e a Polícia Militar. “Houve uma mudança no padrão de criminalidade homicida, com ataques. As mortes aumentaram consideravelmente. Os assassinatos são cometidos por um conjunto de pessoas que saem à noite, muitas vezes de motocicletas, e matam pessoas. Os grupos também podem ser formados por integrantes da PM, que matam pessoas com ficha criminosa ou então com rosto suspeito”, diz.

Já o especialista em segurança pública do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais Renato Devito acha que não é fácil reduzir os homicídios a uma rixa entre bandidos e policiais. “Há um aumento enorme no número de homicídios, a causa disso, no entanto, é difícil de apontar. Afirmar se a culpa é da organização criminosa ou é da polícia, é complicado. Exige uma investigação cautelosa de cada inquérito”, opinou.

176 Quantidade de pessoas assassinadas na capital paulista em outubro

PMs denunciados por homicídios O Ministério Público de São Paulo denunciou na última sexta-feira os cinco policiais militares envolvidos na morte do servente Paulo Batista do Nascimento. O crime ocorreu no dia 10, no bairro de Campo Limpo, Zona Sul. A ação dos militares foi filmada por uma testemunha. Os PMs foram denunciados por homicídio duplamente qualificado. O promotor Felipe Eduardo Levit Zilberman também pediu a prisão preventiva dos acusados, que estão detidos temporariamente no presídio Romão Gomes, da Polícia Militar. Para Zilberman, os policiais cometeram o “crime por motivo torpe, por vingança, querendo fazer justiça com as próprias mãos e, além disso, não deram chance de defesa à vítima”.