Título: Sob pressão, relator adia parecer
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 23/11/2012, Política, p. 7
Odair Cunha garante que não vai indiciar mais ninguém, mas pode retirar acusações contra alguns nomes. Perillo diz que vai processá-lo
Pressionando pela oposição, o relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), adiou mais uma vez a leitura do relatório final “para fazer melhorias no texto”. Ele já decidiu que não vai incluir nenhum novo nome na lista de 46 indiciados, mas deixou em aberto a possibilidade de retirar alguns dos citados originalmente. “Estou apenas ganhando mais prazo para dialogar com o conjunto dos membros da comissão. Sobre o conteúdo, eu não vou falar. Sempre é possível fazer aperfeiçoamentos”, justificou ele. Na segunda-feira, o relator irá conversar com líderes partidários para mapear as insatisfações e as reivindicações dos variados grupos políticos interessados no resultado da CPI.
Uma das mais fortes pressões está relacionada ao indiciamento por formação de quadrilha de cinco jornalistas. Odair Cunha era contra o enquadramento, mas o PT decidiu que o relator deveria responsabilizá-los. Os nomes só foram incluídos no relatório no último dia do prazo de entrega do documento. Já a decisão de solicitar que o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) investigue o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foi tomada pessoalmente pelo deputado.
O relatório aponta que Gurgel não deu prosseguimento às investigações referentes à Operação Vegas, iniciada em 2008 pela Polícia Federal. Para o relator, não foi apresentada nenhuma justificativa. O inquérito da Polícia Federal foi remetido à Procuradoria-Geral da República em 2009. No entanto, a subprocuradora Cláudia Sampaio, mulher de Gurgel, entendeu que não havia indícios para o prosseguimento da apuração contra as autoridades com foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF). Ontem, Gurgel afirmou que o posicionamento é uma retaliação que parte de inconformados com a atuação do órgão.
Ontem o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), Jayme Eduardo Rincón, anunciaram que vão processar Odair Cunha por calúnia e difamação. O relator sugeriu o enquadramento de Perillo pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa, advocacia administrativa, tráfico de influência, falso testemunho, lavagem de dinheiro e, ainda, descumprimento da Lei de Licitações. Rincón foi responsabilizado por formação de quadrilha, corrupção passiva e advocacia administrativa, além das penalidades previstas na Lei de Licitações. O governador alegou que está sendo vítima de uma perseguição política.
Na manhã de ontem, parlamentares do PPS, PSol, DEM, PDT e PMDB entregaram a Roberto Gurgel um relatório paralelo dos trabalhos da CPI. O procurador-geral da República disse que a representação deve trazer elementos novos para embasar procedimentos investigatórios do Ministério Público Federal. Ontem, a mulher do contraventor Carlos Augusto Ramos, Andressa Mendonça, postou uma foto do casal nas redes sociais. Na foto, tirada em um posto de gasolina, o bicheiro está visivelmente mais magro e com muitos cabelos brancos.