Título: Cotas contra os contrastes
Autor: Castro, Grasielle ; Pompeu, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 23/11/2012, Brasil, p. 10/11

O resultado do Enem por escolas expôs o contraste entre as instituições públicas e particulares. Das 100 melhores, apenas 10 são públicas e, destas, oito são federais. Algumas ainda selecionam os melhores alunos na hora da matrícula. “A que tem um processo rigoroso de seleção tende a ter um desempenho muito melhor. E a maioria das escolas do Brasil são porta aberta, 88% são públicas e 86% são estaduais”, ressalta o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.

Embora os números apontem grandes divergências entre as privadas e públicas, ele destaca que os melhores da rede estadual estão acima da média das particulares. Os 37,5 mil concluintes com melhor desempenho no exame tiveram média de 630,4. A média dos 150 mil melhores foi de 582,2 — maior do que a da média das particulares e do que a de 26 privadas do Distrito Federal. Esses seriam os estudantes que poderiam concorrer ao sistema de reserva de vagas da Lei de Cotas Sociais e Raciais, aprovada neste ano e válida para 2013.

Segundo Mercadante, as dificuldades só aparecem à medida que se aumentam a cota. “Temos o desafio que é melhorar a qualidade do ensino médio para garantir que essa diferença de nota entre rede pública e privada possa diminuir ao longo dos próximos anos.” O especialista em educação Remi Castioni faz o mesmo alerta: “Se não houver empenho em mudar essa realidade, vamos colher resultados ruins nas universidades”. De acordo com Castioni, é importante que as faculdades se aproximem dos ensinos médios, principalmente, na formação dos professores. “Outra solução, é claro, deve se aprimorar a estrutura dos colégios. É preciso dar opções de metodologia para o ensino-aprendizagem.”

Entre as propostas de mudanças em articulação no Ministério da Educação está o redesenho do currículo do ensino médio a ser apresentado no próximo dia 29. Mercadante destaca que também é preciso aprimorar o material didático e o projeto pedagógico, além de modernizar os métodos de ensino. Os responsáveis pelas melhores escolas também serão chamados para colaborar com essas reformas. Enquanto as alterações não entram em vigor, o ministério trabalha na elaboração de políticas de apoio aos alunos. “Vamos fazer uma tutoria de reforço pedagógico aos que necessitam, e os alunos de baixa renda vão ter uma bolsa de estudo de permanência.” (GC e Júlia Chaib)