Título: Segredo das melhores é investimento
Autor: Castro, Grasielle ; Pompeu, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 23/11/2012, Brasil, p. 10/11

No Distrito Federal, o ranking do Enem atesta a realidade do ensino médio no Brasil: nas três melhores colocações, estão escolas particulares, todas com mensalidades acima de R$ 1.000; as três últimas do ranking, públicas. Há apenas cinco anos em Brasília, o Colégio Olimpo tornou-se destaque na capital federal. Pela segunda vez consecutiva, a instituição ficou em primeiro lugar no Enem por escolas. Na classificação geral, o colégio cresceu. No ano passado, ficou em 35º lugar no país, neste ano, está em 31º.

Para o diretor do Olimpo, Dalton Franco, o sucesso vem de trabalho árduo e dedicação da equipe. “O grande trabalho do grupo de professores aliado a grandes alunos que querem realmente ser vencedores e destaques é a explicação. Além disso, a dedicação e empenho da direção pedagógica e de ensino são fundamentais”, analisa Dalton.

As turmas são reduzidas para maior interação entre professor e aluno. Os plantões para tirar dúvidas das disciplinas ocorrem durante toda a semana. De segunda a sexta, as aulas do ensino médio vão das 7h10 às 12h50. Estudante do primeiro ano do Ensino Médio na melhor escola do Distrito Federal, segundo o ranking do Enem, Pedro Henrique Ferreira Vogado, 15 anos, acertou 120 do total de 180 questões somadas nos dois dias de prova. Aspirante a uma vaga no curso de engenharia aeronáutica no Instituto Tecnológico de Engenharia (ITA), em São Paulo, o aluno relaciona o bom desempenho à escola onde estuda. “Como a minha intenção não é estudar na Universidade de Brasília (UnB), optei por vir a uma escola que sinto que prepara para centros de ensino superior de fora do DF”, conta.

No 2° ano do Ensino Médio, Elisa Scandiuzzi Maciel, 16 anos, também se prepara para encarar a forte concorrência: ela quer cursar medicina. “Sei que tenho muito esforço a fazer para entrar no curso que quero, por isso preciso aprofundar os conteúdos. E nesse aspecto, o Olimpo é o melhor colégio em que já estudei. Aqui, a gente aprende e revisa, então, acabamos entendendo mais sobre cada assunto”, diz.

A segunda colocação na classificação geral do DF ficou com uma escola que aparece pela primeira vez no ranking, o Pódion. Criada há três anos — antes, funcionava apenas como curso pré-vestibular —, a escola já começa a se destacar. O diretor do colégio, Ismael Leite Xavier Júnior, diz que ter poucos alunos — a escola tem 150 estudantes nos três anos do ensino médio — é uma característica que ele pretende manter. “Em uma turma pequena, o professor conhece o estudante pessoalmente, ele pode dar mais atenção aos alunos, mas não é só isso. A carga horária de trabalho aumentada também interfere. Aqui, em dois dias por semana temos aulas à tarde. São 45 horas/aula por semana”, explica.

Mantendo a mesma classificação no terceiro lugar no ranking da capital federal, está o colégio Galois. No terceiro ano do ensino médio, Julia Roberta Freitas Pereira veio do Rio de Janeiro para estudar e gosta muito da instituição. “A estrutura é boa e temos bons professores. Podemos vir toda tarde estudar aqui. Fora isso, o apoio dos docentes ajuda e muito na hora de estudar”, diz. No quarto posto da lista, o colégio Sigma caiu uma posição. No ano passado, a escola estava em terceiro.

Para a presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe), Fátima de Mello Franco, entretanto, não é possível avaliar a qualidade das escolas apenas pelo ranking do Enem. Ela considera que as melhores da cidade são boas e tem colocações altas na listagem nacional, mas faz ponderações quanto ao método utilizado pelo Enem para avaliar as escolas. “Apenas um dos fatores é avaliado, o relacionado a conteúdos. No entanto, a avaliação não trata do projeto pedagógico dos colégios, por exemplo”, diz. “Outra questão é sobre a participação no concurso. Ele não é obrigatório, então fica difícil avaliar a qualidade dos colégios. Apenas os melhores alunos podem fazer ou os piores de um centro de ensino, por exemplo”, diz.

Piores Na parte de baixo da tabela, abrindo as três piores escolas do DF, o Centro de Ensino Médio (CEM) 304 de Samambaia teve 207,5 pontos a menos que o primeiro colocado Olimpo. Logo abaixo, o Centro Educacional 310 de Santa Maria ficou 207 pontos a baixo da melhor escola da capital. A pior classificação da lista ficou com o Centro Educacional Taquara, em Planaltina. O diretor da escola, Volemar Ornelas, atribui o mau resultado nas provas do Enem a diversos fatores, o principal deles, a falta de motivação dos estudantes. Segundo o diretor, a maioria dos estudantes do ensino médio trabalha no período da tarde e a atividade acaba sendo uma distração para os estudos. Ornelas assumiu a direção há cerca de dois meses e ressalta também o pouco investimento na estrutura física da escola, que é a mesma desde a década de 1960.

O professor do mestrado em educação da Universidade Católica de Brasília (UCB) Afonso Celso Danus Galvão é enfático ao dizer que a situação do ensino médio do Brasil, de modo geral, é fraco e a qualidade da etapa no DF não é diferente. Ele acredita que o ensino para os adolescentes passa por uma crise de identidade. “Por um lado, a rede privada sofre um delírio conteudista. Os estudantes até alcançam bons resultados, mas não recebem formação cidadã. Nas escolas de responsabilidade do governo, as greves, falhas de qualidade, violências em torno das unidades, a tendência de evasão é grande e os que concluem não desenvolveram o que deveriam”, aponta Galvão. (JC e AP)

Colaborou Luiz Calcagno

Para saber mais Porta de entrada O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 para avaliar o que o aluno aprendeu nos anos finais da educação básica, porém, ao longo desses 14 anos vem se tornando um grande vestibular. Quem faz o Enem no Distrito Federal, por exemplo, pode concorrer a uma oportunidade em diversas instituições de ensino superior do país. Algumas usam a nota como critério único de seleção, outras como requisito para algumas vagas ou complementação da nota do vestibular. A Universidade de Brasília (UnB) adota o exame como critério de seleção das oportunidades que não foram preenchidas no vestibular tradicional. No segundo semestre deste ano, sobraram mais de mil vagas.

O exame atesta ainda a conclusão do Ensino Médio aos que atingirem 400 pontos, na escala de zero a mil. Programas de incentivo ao acesso no ensino superior do governo federal, como o Ciência sem Fronteiras e o Programa Universidade para Todos (ProUni), também são calcados no teste. Ambos exigem do candidato uma pontuação mínima no Enem. Já a regra para participação no Financiamento Estudantil (Fies) estabelece que todo candidato que concluiu o ensino médio após 2010 comprove que fez o exame.

Mais informações As provas do Enem 2012 foram aplicadas em 3 e 4 de novembro para cerca de 4,17 milhões de alunos. Os inscritos no sistema prisional e cerca de 400 alunos que apresentaram algum problema específico no dia da avaliação, como o caso da menina que deu à luz minutos antes do teste, prestarão o exame nos próximos dias 4 e 5. O resultado sai em 28 de dezembro. Em iniciativa inédita, o espelho de correção das redações estará disponível para consulta a partir do dia 15 de fevereiro de 2013.

R$ 1.000 Valor médio das mensalidades das escolas mais bem colocadas no DF