Título: PIB cai 0,52% em setembro, diz BC
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 15/11/2012, Economia, p. 12

Prévia do Produto Interno Bruto tem o pior resultado em 11 meses. Planalto vê retomada consistente e incentiva aumento dos investimentos

Apesar de todo o alarde do governo, de que a economia retomou o fôlego, o Banco Central mostrou ontem que a força da atividade ainda está aquém do desejável pelo Palácio do Planalto. O IBC-Br, prévia do Produto Interno Bruto (PIB) calculado pelo BC, registrou queda de 0,52% em setembro, interrompendo um ciclo de alta que vinha animando a presidente Dilma Rousseff. Foi o pior resultado dos últimos 11 meses. A ordem do Palácio do Planalto foi capitalizar, porém, o desempenho do terceiro trimestre, que, pelas contas da autoridade monetária, apontou crescimento de 1,1% ante o mesmo período de 2011. Dilma acredita que esse número comprova a retomada da economia brasileira.

Para o presidente da Consultoria Macroplan, Cláudio Porto, o governo está otimista demais. Todos os indicadores que antecipam o ritmo de atividade, como o consumo de energia e o transporte de cargas nas estradas, apontam ainda para uma recuperação lenta. Ele ressaltou que, apesar da resistência da demanda das famílias, a economia está se ressentido da falta de investimentos produtivos. O empresariado está preferindo manter o dinheiro em caixa a assumir os riscos de ampliar fábricas diante da fragilidade da atividade global e das constantes mudanças de regras feitas pelo governo em setores considerados estratégicos, como o de energia elétrica.

Na avaliação de Porto, na melhor das hipóteses, o PIB deste ano crescerá 1,6%. Para 2013, ele estima avanço de 3,5%. Isso, se o governo conseguir recuperar a confiança dos empresários. "Dadas as condições atuais da economia, não há a menor possibilidade de se chegar ao crescimento de 4% no ano que vem", disse. É o que também acredita o economista Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do BC. "O Brasil enfrenta hoje um grande problema: a desconfiança do capital. As empresas não vão trocar a segurança da liquidez (dinheiro aplicado e disponível a qualquer momento) por ativos fixos, como uma unidade industrial, sem ter a certeza de que o futuro que as aguarda será de regras claras e consistentes", assinalou. "O governo decidiu tabelar o lucro em alguns setores. E o capital não gosta disso. Enquanto continuar o impasse, teremos crescimento anual entre 2,5% e 3%", emendou.

Desconfiança é grande

Segundo Felipe Queiroz, da Consultoria Austin Rating, com o resultado do terceiro trimestre vindo ligeiramente pior do que ele esperava, não há a menor possibilidade de revisão das estimativas para o PIB deste ano. "Mantemos a nossa projeção de incremento de 1,7%", afirmou. No seu entender, haverá uma retomada gradual da economia nos últimos dois meses do ano, mas nada muito significativo. "Há os efeitos cumulativos dos estímulos às famílias por meio da constante redução dos juros, das restituições recordes do Imposto de Renda e do pagamento do 13º salário", destacou.

Na opinião de Constantin Jancso, economista do Banco HSBC, além do péssimo desempenho da indústria, o fraco resultado do varejo ajudou a derrubar o IBC-Br em setembro e a limitar a expansão no acumulado do terceiro trimestre. Segundo ele, há, sim, sinais de que a economia brasileira está se recuperando, mas a velocidade é muito menor do que a esperada e desejada pelo governo. Isso não impedirá, inclusive, que a instituição faça mais uma revisão, para baixo, da estimativa para o PIB deste ano, que está em 1,7%. Essa projeção é endossada pelo Banco Santander, que atrela a retomada da economia à melhora do crédito, devido ao elevado endividamento das famílias.

Para Carlos Eduardo de Freitas, a fragilidade da recuperação já está contaminando 2013. Por isso, as constantes reduções nas projeções de crescimento para o terceiro ano de mandato de Dilma Rousseff. Apesar de o governo insistir em um avanço entre 4% e 4,5%, puxado pelo incremento dos investimentos e dos projetos de concessão de portos, rodovias e aeroportos, o desânimo domina, sobretudo porque o Brasil não terá a ajuda da economia mundial. A China está em processo de ajuste, com avanço em torno de 7%, os Estados Unidos vão continuar patinando e a Europa não sairá do atoleiro tão cedo. Portanto, acrescentou Cláudio Porto, o momento é de o Brasil contar com os seus próprios esforços. O problema é que, em vez de ajudar, o governo está atrapalhando ao estimular tanta incerteza, inclusive em relação aos rumos da inflação, que se mantém muito acima do centro da meta, de 4,5%.

No limbo

Mais otimista que a média do mercado, o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, disse que , mesmo com o desempenho ruim da indústria e do varejo em setembro, o PIB do terceiro trimestre apontou avanço de 1%, um sinal de que a retomada da atividade é para valer. "Para outubro, o crescimento apresentado pelas vendas de veículos e a alta esperada para a indústria apontam para continuidade do processo de recuperação gradual da economia", completou, por meio de nota.

O dado oficial do Produto Interno Bruto (PIB) entre julho e setembro será divulgado, no próximo dia 30, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Como fez ontem, ao convocar uma entrevista de última hora, aberta a todo tipo de pergunta, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já preparou a artilharia a fim de defender o ponto de vista do governo. E, se possível, convencer o capital de que o Palácio do Planalto não é seu inimigo, mas parceiro.

Falências em alta Com a atividade em ritmo fraco e a inadimplência em disparada, 152 empresas pediram falência em outubro, volume 12,6% superior ao de setembro, quando foram registradas 135 solicitações, segundo o Indicador de Falências e Recuperações da Serasa Experian. Do total, 82 foram de micro e pequenas empresas, 45, de médias e 25, de companhias de grande porte. Segundo a Serasa, o aumento no número de falências decorreu do maior número de dias úteis em outubro (foram 22 contra 19 em setembro). Na comparação com outubro de 2011, houve elevação de 16% nos pedidos encaminhados à Justiça. De janeiro a outubro, foram computadas 1.654 falências, alta de 13,8% ante o mesmo período de 2011.