Título: Do Fatah ao extremismo
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 15/11/2012, Mundo, p. 20
Ahmed Jabari, 52 anos, era comandante das Brigadas de Izz Al-Din Al-Qassam — uma espécie de célula militar do Hamas — desde 2006. Nascido no bairro de Shejaiya, na Faixa de Gaza, ele começou a militância política no Fatah, partido do presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas e rival da facção política que passaria a servir a partir de 1995. A mudança teria sido planejada em 1982, quando o futuro líder do braço armado do Hamas foi preso pelas autoridades israelenses e sentenciado a 13 anos de prisão, acusado de planejar ataques terroristas. A partir daí, Jabari passou a conviver com vários integrantes do então partido rival, tendo conhecido inclusive o cofundador do Hamas Abdel Aziz Al-Rantissi, morto pelas forças israelenses em 2004.
Inimigo do Estado hebraico desde então, Jabari passou a ser um dos principais alvos do Exército de Israel e de sua política de combate ao terrorismo na região. Segundo a rede de tevê Al-Jazeera, ele já teria escapado de quatro tentativas de execução. Em uma delas, perdeu o irmão, o filho mais velho e três outros parentes. De acordo o Exército israelense, Ahmed Jabari é “diretamente responsável por atentados terroristas contra o Estado de Israel nos últimos anos”, o que justificaria a inesperada ofensiva militar na Faixa de Gaza.
De fato, Jabari foi protagonista em dois dos mais sangrentos capítulos recentes de conflitos na região. Em 2007, ele liderou a violenta tomada de Gaza das forças do Fatah, desenvolvendo o arsenal militar do Hamas e deixando claro que a sua simpatia pela sigla que marcou o início de sua luta política havia sido deixada para trás. Sua atuação mais marcante, no entanto, ocorreu um pouco antes, em 2006. Naquele ano, Jabari desempenhou papel-chave na captura do soldado franco-israelense Gilad Shalit, então com 19 anos. Shalit servia como cabo no Exército de Israel, quando foi surpreendido por tropas do Hamas na fronteira com a Faixa de Gaza, capturado e feito refém do grupo por mais de cinco anos. Em 2011, depois de intensa negociação entre Hamas e Israel, o grupo concordou em libertar o jovem soldado em troca de 1.027 prisioneiros palestinos.