Título: Execução cirúrgica
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 15/11/2012, Mundo, p. 20

Míssil disparado por Israel mata Ahmed Jabari, chefe militar do Hamas. Extremistas prometem atentados suicidas

Foi um ataque certeiro. Por volta das 16h (meio-dia, em Brasília), o carro em que viajava Ahmed Jabari, líder das Brigadas Izz Al-Din Al-Qassam, transformou-se numa bola de fogo e em ferro retorcido, depois de ser atingido por um míssil lançado por um caça F-16 israelense. O comandante da ala militar do movimento fundamentalista islâmico Hamas, seu filho e um guarda-costas, além de outro palestino, morreram na hora. Jabari foi um dos mentores do sequestro do soldado Gilad Shalit (leia a entrevista) — capturado em 2006 e libertado em 2011. Era o começo da chamada Operação Pilar de Defesa. As forças israelenses destruíram 20 plataformas de lançamento pertencentes à facção e à Jihad Islâmica, além de dezenas de foguetes que, nos últimos dias, têm atingido o sul de Israel. Nos bombardeios de ontem, mais quatro palestinos morreram e 30 ficaram feridos . Até o fechamento desta edição, o sistema de interceptação de mísseis Domo de Ferro tinha destruído 13 foguetes lançados de Gaza em direção ao sul do país — seis caíram perto de Beersheba. Informações do governo israelense davam conta da iminência de uma ofensiva terrestre em larga escala. Alon Lavi, primeiro secretário da Embaixada de Israel em Brasília, afirmou ao Correio que as Forças de Defesa de Israel (IDF) estão comprometidas em prevenir a deterioração da segurança na região e a escalada de violência. “Todas as opções estão abertas ” , admitiu.

O ministro da Defesa, Ehud Barak, por sua vez, ordenou a convocação de reservistas. A ofensiva atraiu a condenação do Egito. No Cairo, a Irmandade Muçulmana pediu ao presidente egípcio, Mohammed Morsi, que reveja os acordos de paz com Israel. A Liga Árabe realizaria, na noite de ontem, uma reunião em caráter emergencial. “O propósito dessa operação foi debilitar severamente a cadeia de controle e de co-mando da liderança do Hamas, bem como sua infraestrutura terrorista ” , justificou o serviço de segurança israelense Shin Bet. “Hoje, mandamos uma clara mensagem ao Hamas e a outras organizações terroristas e, se for necessário , estamos preparados para expandir a operação” , disse o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, em rede nacional de televisão . Os tambores da guerra ecoaram na Faixa de Gaza. “ As opções da resistência estão abertas e elas incluem ataques suicidas em cidades israelenses” , avisou outro líder do Hamas, Ismail Al-Ashkar , citado pelo jornal Y ediot Ahronoth. O assassinato de J abari foi severamente criticado pelo porta-voz do movimento , Fawzi Barhoum. “Isso é uma declaração de guerra real. O inimigo pagará um preço alto. ” A polícia israelense aumentou o alerta em todo o país.

Explosões

Às 19h08 (15h08 em Brasília) de ontem, o jornalista palestino Abdelmajid Zakout, 33 anos, relatou ao Correio que a Cidade de Gaza estava sob bombardeio. “Nesse momento, ouço aviões de reconhecimento sobrevoando os céus de Gaza. De tempos em tempos, escuto o som de caças. Estou ouvindo um barulho muito alto de explosões e posso ver as labaredas, minha casa chacoalha ” , afirmou o morador do bairro de Sheikh Radwan, por meio de um programa de video-conferência. De acordo com Zakout, as regiões mais bombardeadas foram o norte da Cidade de Gaza e uma área chamada Sudania. “Há ataques contra o campo de refugiados de J abaliya e a cidade de Khan Y unis. ” Sob a condição de anonimato, um radiologista do hospital União Médica Alawda disse à reportagem que, entre os mortos, há uma criança. “Muitos dos feridos têm quei-maduras de terceiro grau e fraturas perigosas ” , disse o morador do bairro de Tel Alhwa, na Cidade de Gaza. “Houve várias explosões em meu distrito . Todos estamos com medo. Eles bombardeiam todos os lugares. ” De acordo com Alon Ben-Meir , professor de relações internacionais na Universidade de Nova York, a Operação Pilar de Defesa é uma resposta ao lançamento de cerca de 100 foguetes contra o sul de Israel nos últimos cinco dias. Ele afirma não estar convencido de que Netanyahu lançará uma ofensiva terrestre. Ben-Meir acredita que o Cairo tentará pôr panos quentes na crise . “Se Israel invadir Gaza, o Egito estará preso a um dilema: não poderá ajudar o povo de Gaza e o Hamas sem confrontar Israel. E, se não o fizer , será acusado de ter abandonado os palestinos. ”