Título: Para Obama, não houve vazamento
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 15/11/2012, Mundo, p. 21

Ex-diretor da CIA deve falar sobre ataque que matou embaixador dos EUA em Benghazi

O presidente Barack Obama disse ontem que não há indício de vazamento de informações no caso envolvendo o ex-diretor da CIA, David Petraeus. Em sua primeira entrevista coletiva após conquistar a reeleição, dia 6, o líder negou que a história tenha comprometido a segurança nacional. “Não tenho nenhuma evidência, nesse momento, de que informações sigilosas tenham vazado ou de que o caso tenha tido algum impacto para a segurança nacional”, afirmou o presidente.

Obama ao falar do caso se negou a dar detalhes da investigação. “Não há prova alguma, no momento, de que informações secretas tenham sido divulgadas com consequências negativas para nossa segurança nacional”, declarou na coletiva à imprensa Casa Branca, a primeira desde sua reeleição, dia 6. Como já havia feito anteriormente, Obama saudou os serviços “extraordinários” de Petraeus.

O ex-diretor da CIA David Petraeus, que hoje deve comparecer ao Congresso para dar explicações sobre o ataque ao consulado de Benghazi (Líbia), foi elogiado pelo presidente. O general envolvido no escândalo com sua biógrafa deve dar aos senadores a sua versão do ataque ao consulado que terminou com a morte do embaixador Chris Stevens. Indícios de que documentos encontrados na casa da ex-amante, sua biógrafa Paula Broadwell, contenham “arquivos classificados” aumentaram as pressões para que ele prestasse esclarecimentos ao parlamentares.

A informação de que o ex-diretor da CIA e general aposentado falará à Comissão de Inteligência do Senado foi confirmada pelo senador republicano John McCain. A sessão deverá ser a portas fechadas. Os parlamentares não abriram mão de ouvir Petraeus sobre o ataque de 11 de setembro que, além do embaixador, terminou com a morte de três americanos – dois dos quais, agentes da CIA. Em outubro, Broadwell afirmou, em uma palestra na Universidade de Denver, que a agência mantinha prisioneiros líbios em instalações anexas ao consulado de Benghazi. Na época, segundo o jornal americano Washington Post, ela deu a entender que sua fonte seria Petraeus. As informações foram negadas pela CIA na segunda-feira.

Mas uma reportagem do mesmo jornal, ontem, citando fontes do FBI, afirmou que a investigação ganhou novos rumos depois que a polícia encontrou documentos sigilosos na casa de Broadwell, uma ex-major do Exército. Computadores e caixas de papéis foram apreendidos na residência, na noite de segunda-feira, e a polícia estaria agora tentando descobrir como ela teve acesso aos arquivos “classificados”.

Na Austrália, acompanhando a secretária de Estado, Hillary Clinton, o secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, expressou apoio ao general John Allen, chefe das tropas no Afeganistão. “O general Allen fez um excelente trabalho à frente das forças da Otan”, declarou o secretário. Allen foi ligado ao caso após o FBI detectar conexões entre ele e Jill Kelley, a socialyte da Flórida estopim do escândalo. Kelley relatou à polícia ter sido vítima de ameaças de Broadwell em uma suposta crise de ciúmes de Petraeus, amigo da socialyte. Mas os emails ameaçadores mostraram uma conexão entre Kelley e Allen, apesar de não ter sido confirmada nenhuma relação entre eles. Petraeus está sob investigação do FBI, mas o caso de Allen ficará a cargo do Pentágono.

Duas perguntas para Ian Davis – diretor da ONG NATO Watch, que monitora as atividades da Otan

Qual o impacto desse escândalo para os conflitos sob a supervisão da Otan? O verdadeiro escândalo é que, dadas todas as preocupações com a política militar dos EUA na última década, no Afeganistão, no Iraque e com parte da chamada “guerra ao terror”, é só o adultério que chama a atenção sobre o comportamento ético de seus mais altos generais. Além disso, embora haja alguma ironia no fato dos chefões da segurança nacional dos EUA terem suas carreiras destruídas pelo sistema de vigilância que eles mesmo implementaram, continua inexplicável o monitoramento de praticamente todas as informações até mesmo daqueles que seguem à risca a lei.

O senhor vê consequências para o conflito no Afeganistão após o chefe da Isaf, John Allen, ter sido ligado ao caso? O escândalo de grandes proporções complica os planos de Barack Obama para estabelecer um novo gabinete e pode reverberar entre as decisões de política externa. Mas quanto ao Afeganistão, é no campo de batalha e não na cama dos generais dos EUA que a guerra está sendo perdida. Mesmo assim, o impacto sobre as estratégias do conflito é mínimo e a Otan deixará o país mesmo se as forças de segurança locais não estiverem prontas.