Título: Macarrão revela detalhes do crime
Autor: Hemerson, Landercy ; Camargos, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 22/11/2012, Brasil, p. 12
No terceiro dia de julgamento, promotoria diz que amigo de Bruno fez acordo para assumir a culpa pelo sequestro e morte da ex-namorada do goleiro. Em troca, ele acusaria o ex-policial como o autor do assassinato
O júri popular dos acusados de matar Eliza Samudio teve a maior reviravolta ontem, depois de três dias de sessões, com o desmembramento do julgamento de Bruno Fernandes. Ele apresentou novo defensor, que pediu prazo à juíza Marixa Fabiane para estudar o processo. A nova manobra da defesa do goleiro deixou isolado o seu amigo de infância Luiz Henrique Romão, o Macarrão, já que, além de Bruno, o outro acusado do homicídio de Eliza, Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, também teve o julgamento desmembrado.
Às 23 horas, a juíza convocou o depoimento de Macarrão, após defesa e promotoria negociarem um acordo para que o amigo de Bruno assumisse a culpa pelo sequestro e morte de Eliza Samudio. Assim, Macarrão revelaria a participação do ex-policial civil Bola como o executor da ex-namorada de Bruno. O depoimento de Macarrão não tinha terminado até o fechamento desta edição.
Dos cinco réus iniciais, apenas Macarrão e Fernanda de Castro, acusada de manter Eliza em cárcere privado, estão sendo julgados. O julgamento de Dayanne Souza, ex-mulher do goleiro, acusada de cárcere privado, também foi adiado.
Ontem, ao ver Bruno deixando o tribunal, Macarrão chorou. "A defesa está afundando cada vez mais. Agora quero ver como fica o Macarrão", disse o assistente de acusação José Arteiro Cavalcante Lima. "A parte dele, ele (Macarrão) vai assumir, vai dizer que pegou a mulher, entregou para o Bola (ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos), que matou a mando do Bruno (ex-goleiro)", revelou Arteiro.
A presença do advogado Lúcio Adolfo da Silva ocupando o espaço reservado aos defensores, já anunciava mais uma manobra. A certeza veio logo depois, quando o criminalista, que já defendeu o traficante carioca Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, vestiu a beca e anunciou que era o novo advogado de Bruno. A surpresa maior foi quando Adolfo informou que nunca leu uma linha do processo sobre o caso, que tem mais de 15 mil páginas, e pediu o desmembramento do julgamento de Bruno para ter tempo de analisá-lo. A juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues aceitou o pedido, as testemunhas de Bruno foram liberadas e ele voltou escoltado para a Penitenciária Nelson Hungria. O julgamento ficou para 4 de março.
O assistente da acusação ressalva que Macarrão está com medo de entregar Bola. "Para os advogados, o caso passa. Para ele, não. O Bola vai ficar com raiva dele o resto da vida. Ele está com medo do Bola", reforça o advogado. A motivação de Macarrão, segundo Arteiro, é que ele foi abandonado por Bruno. "O acordo já está fechado", assegura o advogado. Em contrapartida, Macarrão teria uma pena muito menor, segundo o assistente de acusação.
Para aumentar a pressão sobre Macarrão, o promotor Henry Wagner apresentou vídeos, no início da noite, com imagens e matérias jornalísticas do caso. No banco dos réus, a estratégia pareceu dar certo, com Macarrão, que até então se mantinha impassível, dando sinais de inquietação e nervosismo.
Depois, foi exibido um vídeo com imagens de Eliza falando sobre as agressões e ameaças praticadas por Bruno e Macarrão para que ela abortasse. O vídeo, que já foi amplamente divulgado, era o começo de uma bem editada sequência em que Macarrão ainda ouviria o goleiro dizendo, em entrevista, que a confiança em seu então "amigo e irmão" estava abalada. Na gravação, Bruno diz que entregou a ele o bebê de Eliza.
Mãe emocionada A mãe de Eliza Samudio, a sitiante Sônia de Fátima Moura, pouco falou de Macarrão ou de Fernanda durante seu depoimento ontem. Sônia, que hoje cuida do neto em Campo Grande (MS), foi questionada apenas sobre o relacionamento dela com a filha. E chorou quando o assistente de acusação José Arteiro quis saber se Eliza tinha vontade de ter um filho. "Ela sonhava em ter um filho. Dizia que se um dia tivesse um, mataria e morreria por ele, que jamais o abandonaria", disse Sônia. Ela informou que sustenta o neto com ajuda do marido e de parentes e reclamou que nunca recebeu qualquer auxílio financeiro da família do goleiro.
"A defesa está afundando cada vez mais. Agora quero ver como fica o Macarrão" José Arteiro Cavalcante Lima, assistente de acusação