Título: Terrorista é executado em Mumbai
Autor: Pedreira, Vinícius
Fonte: Correio Braziliense, 22/11/2012, Mundo, p. 23
"Eu juro por Deus, não farei isso novamente". Esta foi a última declaração do paquistanês Mohammad Ajmal Kasab antes de ser enforcado na prisão de Pune, uma cidade próxima a Mumbai, Índia, às 7h30 (horário local de ontem). Condenado como membro do grupo militante separatista caxemiriano Lashkar-e-Taiba, ele foi responsável, junto com mais nove aliados, pela morte de 166 pessoas em uma onda de terror na capital financeira do país, ocorrida em 26 de novembro de 2008. À época, foram atacados hotéis de luxo, um centro cultural judaico e a principal estação de trem da cidade. Todos os rebeldes foram mortos nos confrontos com as forças policiais indianas e Kasab era o último ainda vivo.
O militante foi sentenciado à morte sob as acusações de conspiração, assassinato e incitação à guerra contra a Índia. O condenado chegou a apelar ao sistema de justiça indiano, mas a Suprema Corte manteve a decisão em 29 de agosto deste ano. A pena capital foi realizada após o presidente da Índia, Pranab Mukherjee, ter negado, em 6 de novembro, mais uma tentativa de absolvição,chamada de pedido de misericórdia. O enforcamento foi realizado em sigilo e representou uma surpresa para a maioria dos indianos, mas foi comemorada por muitos nas ruas de Mumbai e nas redes sociais cinco dias antes do aniversário dos atentados. "Todos os policiais e funcionários que perderam suas vidas na batalha contra os terroristas hoje tiveram justiça", disse o ministro indiano do Interior, Sushil Kumar Shinde, logo após ser cumprida a pena máxima.
Um chefe do grupo militante acusado pela Índia como o mentor das ações afirmou à agência Reuters que Kasab era um heroi e "morrer como Kasab é o sonho de todo combatente." Desde 2004, a Índia não aplicava a pena capital, quando um homem foi condenado por estuprar e matar uma estudante em Calcutá. Segundo o professor de relações internacionais da Universidade de Brasília, Argemiro Procópio, a execução não deve atrapalhar a atual conjuntura de diálogo e acordos comerciais entre Índia e Paquistão, que disputam a região da Caxemira. "Nos últimos tempos, as conversas foram reestabelecidas porque a China tem projetos econômicos com a Índia e é grande a parceira do Paquistão, tendo facilitado diálogo indo-paquistanês", diz. O especialista também ressalta não acreditar em mudanças, no momento, quanto à região. "Os nervos estão à flor da pele no Oriente Médio por causa dos conflitos na Síria e Israel", explica ao Correio.