Título: PPS sonha com o Planalto
Autor: Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 24/11/2012, Política, p. 8

Apesar de a legenda ter encolhido nas urnas em outubro passado, integrantes da sigla discutem lançar candidatura à Presidência em 2014

No balanço da eleição municipal deste ano, o Partido Popular Socialista (PPS) fez as contas, verificou queda no número de vereadores e prefeitos em relação à disputa de 2008 e, mesmo assim, saiu das urnas animado a lançar, pela terceira vez, candidatura própria à Presidência da República. Algumas alas da legenda já dão como certo o nome de um integrante na lista de presidenciáveis de 2014.

O diretório nacional do PPS reuniu-se ontem em Brasília para discutir, entre outras coisas, o resultado das eleições municipais e o futuro da sigla. Já no início do encontro, o líder do partido na Câmara, Rubens Bueno (PR), derrotado na disputa em Curitiba, na qual fez parte da chapa de Luciano Ducci (PSDB) como vice, declarou: "Nós temos agora que discutir um projeto nacional, independente, fora do PT e do PSDB, buscando um perfil sintonizado com o nosso pensamento e com as exigências da sociedade". O pronunciamento arrancou aplausos da plateia.

Ao Correio, Bueno assegurou que a decisão de o PPS ter um nome para 2014 já havia sido tomada no último congresso nacional da sigla. "Estamos agora montando um plano para o país e depois vamos ver quem se encaixa melhor no perfil que queremos", comentou. O presidente do partido, deputado federal Roberto Freire (SP), evitou ser incisivo como o colega. "A primeira hipótese é a de termos candidato próprio, porque só depende de nós. O partido está preparado para2014, sabemos que vamos tentar derrotar o atual governo, mas é precipitação acharmos que o cenário já está definido."

Caso a candidatura se oficialize, tanto Bueno como Freire são cotados para assumir o desafio. O comandante do partido já foi candidato à Presidência em 1989, quando integrava o PCB, e é o principal fundador do PPS. Já o líder da bancada, que também é secretário nacional da sigla, coleciona no currículo a conquista da prefeitura de Campos Mourão (PR) e já foi deputado estadual (um mandato) e três vezes federal. Mas já perdeu a disputa em outras prefeituras e pelo go­verno estadual.

Renovação

Outro nome que pode despontar é o da ex-vereadora e ex- apresentadora de TV Soninha Francine, que já tentou ser prefeita de São Paulo duas vezes, sem sucesso. Soninha não comenta o futuro político, mas ontem, em resposta aos seguidores no Twitter — que questionavam a dificuldade de o PPS crescer a ponto de "eclipsar gigantes como o PT e o PSDB" —, deu sinais de que toparia grandes desafios. "Tudo é cíclico e um dia os "gigantes" se esfacelem. E, mesmo sem "crescer a ponto de eclipsar", é possível ser Davi (contra Golias) e ganhar eleições", respondeu.

Memória

Origem comunista

O PPS foi criado em 1992 por um grupo dissidente do extinto Partido Comunista Brasileiro (PCB). Na época, o hoje deputado federal e presidente da legenda, Roberto Freire, reuniu dissidentes do chamado Partidão e organizou uma nova sigla, para se distanciar do comunismo da União Soviética. No entanto, ainda hoje, o PPS atrela sua história à do Partido Comunista, afirmando que houve apenas uma mudança de nome. O Partidão, porém, manteve-se, na época, nas mãos de intelectuais como o arquiteto Oscar Niemeyer e o cartunista Ziraldo. Depois, dissolveu-se em grupos que mais tarde formaram, além do PPS, o PCdoB e refundaram o PCB.

Nos 20 anos de existência, o PPS já teve em seu quadro nomes como o do ex-presidente e ex-senador Itamar Franco, o atual líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AP), e o ex-deputado e ex-ministro Ciro Gomes, hoje no PSB.

A sigla foi oposição ao governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) no primeiro mandato e ocupou um ministério no segundo. Inverteu a ordem durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva: começou com uma pasta e passou à oposição. O PPS lançou candidatura própria à presidência duas vezes, em 1998 e 2002, ambas com Ciro Gomes, sem nunca ultrapassar 12% dos votos.