O globo, n.31635, 18/03/2020. Especial Coronavírus, p. 22

 

UE fecha fronteiras pela primeira vez

18/03/2020

 

 

Pela primeira vez na história, a União Europeia (UE) anunciou ontem o fechamento das suas fronteiras externas por 30 dias, proibindo a entrada de todos os cidadãos de outros países, salvo em circunstâncias especiais. O objetivo é tanto conter a expansão do novo coronavírus quanto evitar que controles fronteiriços continuem a ser erguidos entre os 27 países do bloco. Nos dois casos, porém, a medida parece ter chegado tarde demais.

A medida foi divulgada após uma videoconferência de cerca de três horas entre os líderes do bloco. Na semana passada, diversos países europeus já haviam anunciado, por conta própria, a instalação de barreiras nas fronteiras internas do bloco como forma de conter a disseminação da doença depois que a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que a Europa éon ovo epicentro da pandemia. Entre os 10 países que mais registram infectados, seis estão no continente: Itália, Espanha, Alemanha, França, Suíça e Reino Unido.

COORDENAÇÃO NO INÍCIO

Os líderes, que se reunirão novamente na próxima concordaram em coordenar o retor no dos europeus retidos em países fora do bloco, anunciou a chanceler alemã, Angela Merkel.

Segundo a presidente da Comissão Europeia, Ur sula von der Leyen, a Irlanda não aplicará as restrições, uma vez que possui uma área de passagem livreco ma província da Irlanda do Norte, parte do Reino Unido, país que deixou a UE em 31 janeiro e que “não planeja implementar restrições nas fronteiras externas”.

Na segunda-feira, Von der Leyen considerou que o fechamento só seria "eficaz" se fosse aplicado pelos 27 países da UE, assim como por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein, que pertencem ao Espaço Schengen, no qual já livre circulação de pessoas. Em entrevista coletiva, a presidente da Comissão Europeia disse que agora caberá aos países europeus implementar o fechamento para cidadãos de terceiros países.

— O inimigo é ovírus e agora temos que fazer o possível para proteger nosso povoe proteger nossas economias — disse. — Estamos prontos par afazer tudo oque for hesitaremos em tomar ações adicionais à medida que a situação evoluir.

Com o fechamento das fronteiras externas, Bruxelas também acredita que os países revejam os controles internos dentro do bloco. No domingo, os governos português e espanhol anunciaram que as fronteiras terrestres entre os países seriam fechadas ao lazere ao turismo. A Hungria se fechou totalmente, inclusive para a entrada de cidadãos europeus, e a Polônia submeteu a uma quarentena obrigatória os europeus procedentes de países com grande números de casos.

— Há cidadãos europeus bloqueados dentro da UE e isso tem que parar —alertou.

RISCOS PARA O BLOCO

O grande risco para o bloco é que essas barreiras internas se perpetuem e ponham em perigo a sobrevivência do Espaço Schengen e da própria União Europeia, ao afetar o livre mercado e a livre circulação interna de pessoas.

Após o anúncio, o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, alertou que poderia impedir a entrada de britânicos em seu país, caso o Reino Unido não adote medidas mais rígidas para frear a expansão do coronavírus.

—Se países vizinhos como o Reino Unido permanecerem muito tempo sem medidas de confinamento, seria difícil aceitarmos cidadãos britânicos em nosso território .

Muito criticado, o premier britânico, Boris Johnson, reviu sua estratégia e pediu na segunda-feira à população que evite qualquer “contato não essencial” e as “viagens desnecessárias”, trabalhando de casa e não frequentando bares, restaurantes, teatros e outros eventos sociais. O país, no entanto, vem adiando a imposição de medidas mais estritas como as tomadas em outros países europeus.

Mais de 70 países já fecharam fronteiras contra a pandemia,com ações que variam de um bloqueio total à proibição de viajantes de alguns lugares.