O globo, n.31635, 18/03/2020. Especial Coronavírus, p. 24

 

Brasil barra venezuelanos na fronteira

Leandro Prazeres

Renata Mariz

18/03/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro anunciou ontem que o Brasil vai restringir o tráfego de pessoas na fronteira do país com a Venezuela, no estado de Roraima. Segundo o presidente, a medida será publicada na edição de hoje do Diário Oficial da União. As restrições são uma resposta ao avanço do novo coronavírus no Brasil.

O GLOBO apurou que a portaria mencionada por Bolsonaro deverá proibir o ingresso de qualquer cidadão venezuelano em território nacional pela fronteira com Roraima. A restrição não será apenas àqueles venezuelanos que apresentem sintomas da doença.

Brasileiros ficarão livres para transitar pela fronteira. Estrangeiros de outras nacionalidades que estejam na Venezuela e queiram entrar no Brasil pela fronteira também serão impedidos. A restrição deve entrarem vigora partir de hoje, mas ainda não há detalhes sobre o seu prazo de vigência.

A Venezuela tem, até o momento, 33 casos registrados da Covid-19. Roraima tem sido a principal porta de entrada de venezuelanos que fogem da crise social, econômica e política que atinge o país vizinho desde 2015. A fronteira entre os dois país e sé porosa, e háum fluxo diário de pessoas e mercadorias entre Paracaima, no Brasil, e Santa Elena de Uairén, a cidade venezuelana mais próxima, a uma distância de apenas 15 quilômetros.

Na segunda-feira, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, havia apontado dificuldades de comunicação com a Venezuela, embora ressaltasse que não cabia a ele pedir o fechamento da fronteira.

Ontem, o ministro afirmou que os venezuelanos sobrecarregam o sistema de saúde brasileiro.

— Temos uma fronteira complexa com a Venezuela, é um país que não tem mais condições de fazer atendimento de saúde, que já vem cronicamente exportando pacientes com doenças para serem atendidos no Brasil. O sistema de saúde de Roraima já ultrapassou muito o mínimo do razoável. É um sistema completamente colapsado, frágil.

Bolsonaro não deu detalhes específicos sobre como funcionaria essa restrição de tráfego na fronteira. Ele disse, no entanto, que o fluxo de mercadorias entre o os dois países pela fronteira terrestre não será interrompido.

— Não é fechamento total. O tráfego de mercadorias vai continuar acontecendo. Se não, você para a economia de Roraima — afirmou o presidente.

Apesar de anunciar restrições de pessoas na fronteira do Brasil com a Venezuela, Bolsonaro afirmou que é preciso cautela ao falar disso como solução para os problemas causados pelo novo coronavírus. O presidente disse ainda que medidas restritivas precisam ser tomadas com cuidado para evitar que os impactos econômicos sejam mais danosos que os efeitos da doença.

— Se o Brasil parar, vai ser o caos. Vai morrer muito mais gente por causa do caos econômico do que pelo coronavírus —comentou.

A mudança deverá ser feita por portaria dos Ministérios da Justiça e das Relações Exteriores.

OUTROS PAÍSES FECHADOS

Na América do Sul, Chile, Argentina, Colômbia, Paraguai, Peru, Uruguai, Equador, Venezuela e Bolívia decretaram fechamento total ou parcial das fronteiras. Na segunda-feira, o Uruguai decretou o cancelamento de chegadas da Argentina e informou que também tomará medidas em sua fronteira com o Brasil. A Bolívia, que tem 12 casos confirmados de coronavírus, anunciou ontem que vai fechar suas fronteiras para não residentes e suspender todos os voos internacionais.

O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou ontem que o Brasil já deveria ter fechado fronteiras com países vizinhos e diminuídos voos internacionais. Maia afirmou que o tema não foi abordado durante a reunião de líderes da Câmara, mas defendeu a adoção de medidas mais restritivas para evitar que o novo coronavírus tenha uma curva muito acentuada de contágio.

— Não se falou disso, mas acho que o governo já deveria ter fechado as fronteiras, restringindo o voos internacionais e já deveria ter restringido as circulação de pessoas, principalmente nos estados onde há projeção de problemas maiores, como Rio de Janeiro e São Paulo — apontou Maia.