Título: Macarrão pega 15 anos
Autor: Ferreira, Pedro ; Lopes, Valquiria
Fonte: Correio Braziliense, 24/11/2012, Brasil, p. 10

O ex-amigo do goleiro Bruno Luiz Henrique Romão é condenado pelo homicídio da modelo. Fernanda Castro também é considerada culpada, porém cumprirá pena em regime aberto

Belo Horizonte — Dois anos e cinco meses depois que se tornou público o desaparecimento e morte de Eliza Samudio, a Justiça condena os dois primeiros dos oito réus no processo. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo de infância e braço direito do goleiro Bruno Fernandes de Souza, foi condenado pelos crimes de sequestro, homicídio qualificado e cárcere privado, com pena de 15 anos de prisão. Já Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do jogador, foi considerada culpada pela participação no sequestro de Eliza e de Bruno Samudio, filho da modelo e do atleta que à época tinha quatro meses de idade. Fernanda foi condenada a cinco anos de detenção, em regime aberto. Os demais réus, entre eles o goleiro Bruno, serão julgados em4 de março de 2013.

O resultado foi anunciado no fim da noite de ontem, depois de cinco dias de julgamento. O promotor Henry Vasconcelos de Castro, apesar das condenações, evitou comemorar o veredicto. "Dizer que o resultado foi satisfatório é complicado, porque uma pessoa morreu, então não há uma vitória, e sim uma maneira de recomposição", opinou pouco antes da leitura da sentença. A princípio, Macarrão foi condenado a 20 anos de prisão, mas o fato de ter confessado o crime abaixou a pena em 12 anos — a mínima para homicídio qualificado. Pelos demais delitos, ele recebeu mais três anos, que poderão ser cumpridos em regime aberto. Na sentença, ajuíza Marixa Fabiane Rodrigues afirmou que o réu não tinha o que poderia ser considerado como bons antecedentes, pelo fato de haver indícios de envolvimento com tráfico de drogas. No caso de Fernanda, a magistrada destacou atenuantes como o fato de ela realizar serviços sociais, ter emprego fixo e bons antecedentes. Após manobras jurídicas e um desmembramento do processo, o restante dos réus será julgado em março. Bruno, o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola—acusado de ter sido o autor do assassinato —já estão presos há dois anos e cinco meses. Além deles, será levada a júri, Daiane Souza, ex-mulher do jogador, que é acusada de sequestro e cárcere de Eliza.

Embate no tribunal

A promotoria e os advogados ocuparam quase todo o dia e o início da noite para apresentar os argumentos de acusação e defesa dos acusados de matar Eliza Samudio. O debate, que antecedeu o veredicto, foi marcado por troca de farpas entre as duas partes. O promotor Henry Vasconcelos apresentou provas contundentes contra Luiz Henrique Romão, o Macarrão, e Fernanda de Castro, ex-namorada do goleiro Bruno Fernandes, e pediu a condenação. Já a defesa manteve a mesma linha dos depoimentos para tentar convencer o corpo de sentença da inocência dos réus. Logo após a abertura da sessão, o promotor Henry Vasconcelos recorreu inúmeras vezes ao processo para apresentar aos jurados as evidências do sequestro e morte da ex-amante de Bruno. Três provas foram consideradas cabais por ele para que o crime viesse à tona: o aparecimento do bebê, que havia sido levado para execução, mas foi poupado por Bola, segundo testemunhas; as marcas de sangue de Eliza na Range Rover de Bruno em que ela foi levada do Rio de Janeiro para Minas Gerais em junho de 2010; e a apreensão do veículo que tinha sinais de limpeza incapaz de esconder as marcas. Ele levou ao conhecimento dos jurados os depoimentos das testemunhas e a prova pericial que mostra a presença de sangue de Eliza no veículo. Outro ponto alto foi o uso da tecnologia capaz de comprovar o cruzamento de ligações telefônicas entre os réus, os locais por onde estiveram e a relação de cada um com os crimes de que são acusados. Ao corpo de jurados, o promotor recomendou a condenação e pediu justiça para que essa "conta fosse paga à sociedade". Se a estratégia da promotoria para condenar Luiz Henrique Romão, o Macarrão, pelo sequestro, cárcere, morte e ocultação de cadáver de Eliza Samudio centrou fogo no rastreamento das ligações do réu no dia do homicídio, a defesa cuidou de pôr em dúvida a autenticidade do relatório da quebra de sigilo telefônico, dando a entender que houve alteração, feita pela Polícia Civil, nos documentos. O advogado de Macarrão afirmou que em nenhum momento seu cliente desejou ou planejou a morte de Eliza. Falou do sonho de Luiz Henrique de ser goleiro. Como não conseguiu, foi morar com Bruno no Rio de Janeiro, administrando a vida financeira e a casa do amigo. Para Leonardo Diniz, Macarrão não passava de um serviçal do goleiro. Ele pediu aos jurados que interpretassem a relação entre um serviçal e um ídolo, um amigo que saiu da favela e que se encontrava em destaque no futebol.