Título: Avanços tímidos
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 24/11/2012, Economia, p. 11

Sudeste tem 55,4% da riqueza do país e o Distrito Federal, renda 7,5 vezes maior do que a do Maranhão. Diferenças no país continuam grandes, embora o Produto Interno Bruto das unidades da Federação mostre ganhos para os locais mais pobres

Nem a ascensão de 40 milhões de brasileiros à classe média conseguiu transformar a cara do Brasil. As pessoas estão com mais dinheiro no bolso e há maiores oportunidades de emprego e de negócios. Mas quando se olha para a distribuição da riqueza, o país continua o mesmo de décadas atrás:Norte e Nordeste ainda são os pobres; e Sul e Sudeste, os ricos. Dados apresentados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam a manutenção dessa estrutura. Revelam, porém, que houve uma melhora—um avanço classificado como "tímido" por especialistas, mas que evidencia um país que está no rumo certo e que precisa dar mais passos para deixar de ser emergente e se tornar desenvolvido.

Os números levantam ainda dúvidas sobre o papel das políticas sociais e de distribuição de renda como as principais ferramentas para diminuir as desigualdades. Especialistas ouvidos pelo Correio defendem a importância desses mecanismos para a diminuição da miséria nos últimos anos, mas admitem que é preciso mais, por exemplo, avanços na educação, hoje o calcanhar de aquiles do país. Entre 2002 e 2010, período analisado pela pesquisa do IBGE, as regiões pobres do país ganharam maior participação no Produto Interno Bruto (PIB, soma da produção do país emumano). O Norte, que detinha 4,7% do total, passou para 5,3%; no Nordeste a evolução foi de 13% para 13,5%. Em contraponto, a região mais próspera do Brasil, o Sudeste, perdeu espaço, viu sua fatia encolher de 56,7% para 55,4%.Mesmo assim, o dinheiro continua concentrado nos mesmos lugares.

"A desconcentração é lenta, mas nestes oito anos o grupo dos 22 menores estados—que representam um terço da economia brasileira — apresentou avanços relevantes", afirma o pesquisador do IBGE Frederico Cunha. O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ) Fernando de Holanda Barbosa chamou atenção para os desequilíbrios dentro de cada região."Pernambuco se industrializou mais rapidamente se comparado ao restante doNordeste", resumiu.

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri, afirmou que o Brasil deu passos importantes nos últimos anos, sobretudo de 2001 a 2011, quando milhões foram alçados à classe média e também à classe alta. Na avaliação dele, é preciso levar em conta outras pesquisas, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que evidenciam melhor do que o PIB as mudanças ocorridas no país. "A renda do trabalho cresceu bastante", afirmou Neri. Para ele, o Brasil precisa avançar em outros aspectos, mas tem caminhado bem. "Os frutos mais baixos já foram colhidos com as políticas de distribuição de renda. Agora, vamos colher outros mais altos", diz. "Embora eu ache que é preciso melhorar o ambiente de negócio e a educação, é preciso lembrar também que o grande símbolo da nova classe média é a Carteira de Trabalho. A formalização está crescendo fortemente nessas regiões mais pobres", argumenta.

Queda na disparidade

Os dados de PIB percapita confirmam que houve algum avanço na distribuição da riqueza. Enquanto, em2002, a diferença entre o Distrito Federal e a unidade da Federação mais pobre, na época o Piauí, era de nove vezes, essa distância entre o primeiro e o último, que passou a ser o Maranhão, se reduziu para 7,5 vezesem2010.

Apesar do avanço, especialistas destacam que o fosso ainda é grande, mesmo quando se compara a riqueza do mais pobre com a média do Brasil. "A gente observa que ao longo desse período houve mudanças que foram cruciais. Contudo, avanços precisam ser feitos, principalmente no Norte e no Nordeste", avalia o economista Felipe Queiroz, da agência de classificação de risco Austin Rating.

O professor de economia do Ibemec Gilberto Braga argumenta que falta ao país melhorar sobretudo a educação. "A gente está indo na direção correta, mas não na velocidade ideal. É necessário investimento em geração de emprego, conhecimento científico e educação", ponderou. Segundo Braga, o Brasil ainda dá pouca atenção para a população que está longe das decisões, seja o Nordeste ou a periferia das capitais. (Colaborou Sílvio Ribas)