Correio braziliense, n. 20757, 22/03/2020. Mundo, p. 12

 

1 bilhão de confinados e recorde de mortes

22/03/2020

 

 

Um mês depois de registrar a primeira morte em decorrência da Covid-19, a Itália vive um momento crônico da pandemia. O país bateu novo recorde em número de mortes: 793 em 24 horas. De acordo com último balanço, o total de óbitos subiu para 4.825, o maior desde o início da crise de saúde. A situação crítica italiana e a disseminação do novo coronavírus pelos continentes têm levado os países a adotarem medidas mais graves, como o isolamento obrigatório e o fechamento total das fronteiras. A estimativa é de que, neste fim de semana, quase 1 bilhão de pessoas, em 35 países e territórios, estão confinadas.

Submetidos a medidas cada vez mais restritivas, os italianos acompanham balanços diários cada vez mais duros. As igrejas estão fechadas, filas se formam nas entradas dos supermercados, onde se entra gota a gota, os velórios têm sido realizados com poucas pessoas e a polícia realiza buscas constantes nas ruas — tarefa que passará a contar com a ajudas de homens do Exército.
A região de Milão, na Lombardia, onde os serviços de saúde já estão sobrecarregados, registrou o número maior das mortes (546) ontem, e metade dos novos casos. Das pessoas originalmente infectadas em todo o país, 6.072 haviam se recuperado totalmente até ontem, em comparação com 5.129 no dia anterior. Havia 2.857 pacientes em terapia intensiva contra 2.655, na sexta.
Com fim previsto para 3 de abril, as medidas de contenção na Itália serão estendidas. E são apoiadas por quase todos os cidadãos, de acordo com uma pesquisa publicada, na última quinta-feira, pelo jornal La Repubblica. “Eu fico em casa” é o novo slogan dos italianos, que, desde 10 de março, aparecem na varanda ou na janela de suas casas para cantar e aplaudir os profissionais da saúde.
Porém, na opinião do vice-presidente da Cruz Vermelha chinesa, Sun Shuopeng, que foi à Itália ajudar com a experiência com a pandemia, “as medidas tomadas não são suficientemente restritivas”. “Deve-se parar com tudo. Todo mundo tem que ficar em casa”, advertiu na última quinta-feira.
Multas
Vinte e dois países, que somam cerca de 600 milhões de habitantes, adotaram o confinamento obrigatório, com a aplicação de multas a quem desobedecer. Itália, Espanha e França fazem parte do grupo. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, descartou adotar medida do tipo para todo o território nacional. Mas a Califórnia, o estado de Nova York, Nova Jersey e Illinois, Pensilvânia e Nevada decretaram a paralisação de todas as atividades não essenciais.
As três maiores cidades do país — Nova York, Los Angeles e Chicago — estão paradas e seus 100 milhões de habitantes em casa.“Estamos todos em quarentena”, resumiu, na última sexta-feira, Andrew Cuomo, governador do estado de Nova York, ao anunciar a “medida mais radical que poderíamos tomar”. Cuomo alertou ontem aos nova-iorquinos que o isolamento deve se estender por meses. “Não acho que seja questão de semanas”, frisou.
Infraestrutura
O avanço do novo coronavírus na África segue aumentando. Os casos passaram de mil, com 40 países afetados. O continente tem sentido o impacto com menos velocidade do que Ásia e Europa — sendo que a maioria dos casos relatados é de estrangeiros ou de pessoas que retornaram de outros países. As condições da infraestrutura hospitalar e do saneamento básico de alguns países, porém, preocupam autoridades.
Entre as nações do continente africano com maiores registrados de infectado estão Egito e África do Sul, com 285 e 240 casos, respectivamente, seguidos de Argélia (95) e Marrocos (86). Dados divulgados ontem confirmaram os dois primeiros casos da doença em Angola, e a primeira morte na Ilhas Maurício. O Zimbábue relatou a primeira infecção na última sexta-feira, e a segunda ontem. Muitos países africanos já fecharam suas fronteiras, escolas e universidades e proibiram grandes aglomerações de público para limitar a disseminação do vírus.
Vice será testado
Mike Pence, vice-presidente dos Estados Unidos, anunciou ontem que fará teste para a Covid-19, depois do resultado positivo de um dos colaboradores do líder político. Mas, segundo Pence, nem ele nem o presidente Donald Trump estiveram em contato direto com o infectado. “Rastreamos todos os contatos e, embora o médico da Casa Branca tenha dito que não há motivos para crer que estive exposto, dadas às funções únicas que tenho, minha esposa e eu nos faremos um teste nessa tarde”, declarou em uma coletiva de imprensa.
Egito fecha mesquitas e igrejas por 15 dias
Todas as mesquitas e igrejas do Egito ficarão fechadas por duas semanas para frear a propagação do novo coronavírus. Em dois comunicados, o ministério de Bens Religiosos e a Igreja copta ortodoxa alertaram sobre o “risco” de propagação da Covid-19 que “representam as congregações em massa”. A medida foi anunciada ontem,  depois de fiéis irem em massa às mesquitas para participar da oração das sextas-feiras. No mesmo dia, o país contabiliza 285 casos de infecção e oito mortes, segundo o Ministério da Saúde. Há dúvidas, porém, quanto à veracidade desses números, já que muitos países registraram casos de infecção em pessoas que estiveram no Egito recentemente. Até o próximo dia 31, escolas e universidades, museus, aeroportos, cafés, restaurantes e casas de show também não podem funcionar.
Milhares peregrinam a mausoléu no Iraque
Desafiando o toque de recolher imposto por autoridades, dezenas de milhares de iraquianos se reuniram ontem para uma peregrinação em comemoração a uma figura importante do Islã xiita. Em Bagdá, a segunda capital mais populosa do mundo árabe, com 10 milhões de habitantes, os peregrinos convergiram para o mausoléu dourado do imã Kazem – o sétimo dos 12 imãs xiitas – nas margens do rio Tigre. Há vários dias, iraquianos a pé, a camelo ou a cavalo, caminharam em direção ao distrito sagrado de Kazimiya, onde está localizado o mausoléu. Enfrentando uma falta crônica de médicos, remédios e hospitais, o Iraque fechou todos os lugares sagrados e o grande aiatolá Ali Sistani proibiu orações coletivas. Porém, o influente líder xiita Moqtada Sadr pediu aos partidários que participassem da peregrinação.
Moscou ergue hospital no “estilo chinês”
A Rússia corre contra o tempo para montar um hospital em um terreno baldio, nos arredores de Moscou, para atender pacientes com a Covid-19. O trabalho é ininterrupto, dia e noite. Parte dos 3.200 trabalhadores da construção vive no mesmo local, em tendas e barracas de acampamento. Segundo a Prefeitura de Moscou, a intenção é erguer o edifício em tempo mínimo, inspirada na “experiência dos parceiros chineses”. Em Wuhan, epicentro da pandemia, montou um centro hospitalar pré-fabricado com capacidade para mil leitos em apenas 10 dias. A obra russa deve durar um mês, e o hospital terá capacidade para 500 leitos. O país contabiliza oficialmente 199 casos da Covid-19.
Isolamento total para idosos turcos
A Turquia impôs o confinamento total para pessoas com mais de 65 anos e para quem tem doenças crônicas. O Ministério do Interior justificou que essas pessoas “continuam a ir a espaços públicos, como parques ou usar transporte sem ser necessário, o que representa um alto risco para sua saúde e a de todos”. De acordo com o órgão, grupos de apoio formados por policiais e voluntários ajudarão aqueles indivíduos em isolamento que não têm família a recorrer. A decisão foi tomada após um aumento no número de casos: são 670 infecções e nove mortes. Estão fechados escolas, bares e restaurantes e suspensas conexões aéreas com 68 países.

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América Latina intensifica ações protetivas

22/03/2020

 

 

Toque de recolher, confinamento voluntário, quarentena total e fechamento de fronteira. São distintas as formas com que países da América Latina têm reagido ao avanço da pandemia da Covid-19. Em comum, as autoridades contabilizam o aumento do número de infectados e, consequentemente, o de mortes.
Na manhã de ontem, o Chile registrou o primeiro óbito em decorrência da doença — uma mulher de 83 anos — e somou 103 novos casos positivos registrados nas 24 horas anteriores. Ao menos 530 pessoas estão infectadas no país, sendo a maioria delas, 359, na capital. Na última quarta-feira, foi decretado o “estado de catástrofe”, que concede ao governo poderes para restringir a liberdade de movimento das pessoas, entre outras medidas. A expectativa é de que, em “48 ou 24 horas”, um cordão sanitário seja aplicado em algumas localidades devido à alta concentração de pessoas, como os balneários da costa central.
O governo interino da Bolívia decretou quarentena total no país, que registra, de acordo com o último balanço, 19 casos. Apenas uma pessoa por família poderá sair para fazer compras em centros de suprimentos que abrirão, diariamente, até as 12h. “É uma decisão difícil, mas necessária para o bem de todos”, justificou a presidente Jeanine Áñez. Também foram determinados o fechamento das fronteiras aéreas e terrestres e a limitação dos transportes interdepartamental de passageiros.
Desde sexta-feira, a Argentina segue uma quarentena obrigatória, com fim previsto para o próximo dia 31. Há 158 casos confirmados e quatro mortes. A Colômbia, por sua vez, entrará em isolamento geral obrigatório a partir da terça-feira. Até o momento, foram registrados 145 casos da Covid-19 e nenhuma morte.
O presidente da Guatemala, Alejando Giammattei, anunciou a aplicação de um toque de recolher parcial, com suspensão das aulas, proibição de aglomerações e restrição de circulação de transportes públicos, entre outras ações. Há, no país, 17 infectados e uma morte. A princípio, a medida durará sete dias. “Estamos entrando nas semanas mais perigosas. De fato, esta semana é uma semana-chave para conter o vírus”, disse Giammattei.