Correio braziliense, n.20759, 24/03/2020. Mundo, p.12

 

Europa registra 10 mil mortos

24/03/2020

 

 

No momento em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertava sobre a aceleração da pandemia do novo coronavírus (leia na página 14), a Europa atingia o número de 10.058 mortos pela Covid-19, a Espanha enfrentava o dia mais letal na luta contra a doença e o Reino Unido ordenava o confinamento quase absoluto de três semanas. A notícia mais alentadora veio da Itália, com  desaceleração no número de mortes nas últimas 48 horas: 651 no domingo e 601 ontem. A França determinou o fechamento de mercados ao ar livre e limitou as saídas de cidadãos à realização de atividades físicas — segundo o premiê Edouard Philippe, elas devem ocorrer “dentro de um raio de um quilômetro em torno da casa, durante um hora, sozinho e uma vez por dia”. Aqueles que descumprirem essa regra poderão ser multados em até 1.500 euros (cerca de R$ 8,3 mil) em caso de reincidência dentro de 15 dias.
Em Londres, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, admitiu a “maior ameaça vivida pelo país em décadas” e afirmou que os cidadãos somente terão permissão de sair de suas casas para comprar artigos de necessidade básica, realizar exercício físico uma vez ao dia, buscar assistência médica e viajar a trabalho — desde que a atividade em casa não seja possível. Todo o comércio não essencial ficará fechado e reuniões públicas de mais de duas pessoas que não vivam juntas estão proibidas. A polícia terá poderes para impor o isolamento. “Nenhum premiê quer adotar medidas como estas. (…) Vocês devem ficar em casa”, disse Johnson.
“Ainda não é hora de cantar a vitória, mas vemos uma  luz no fim do túnel”, desabafou Giulio Gallera, chefe de Saúde do governo da Lombardia, no norte da Itália, a região da península mais afetada pela pandemia, com 28.761 contaminados e 3.776 mortos. Em todo o território italiano, 6.077 pessoas morreram, 63.297 foram infectadas e 7.432 se curaram. Morador de Suisio, cidade situada a 20km de Bérgamo (Lombardia), Agostini Cristian, 41 anos, contou ao Correio que muitos idosos morreram na localidade. “Ninguém da minha família foi afetado pelo vírus, mas tenho conhecidos que perderam parentes”, comentou. “Todos os dias, ouvimos os sinos das igrejas anunciando mortes e sirenes de ambulâncias. É difícil prosseguir, há muita resignação. A esperança é de que tudo isso acabe rapidamente, mas há muito medo. Ficar dentro de casa tem sido a única forma de evitar o contágio.”
Com os hospitais superlotados, a polícia de Bérgamo começou a redistribuir os cilindros de oxigênio que eram usados por pacientes que não sobreviveram. Ante a sobrecarga nos necrotérios, o Exército italiano se viu obrigado a utilizar caminhões para entregar urgentemente os caixões nos cemitérios. “Acho que é muito cedo para prevermos uma redução nos casos. Temos de aguardar o restante desta semana. Mas, nós, de Bérgamo, estamos em uma situação muito difícil”, disse Cristian.
Entre domingo e ontem, a Espanha contabilizou 462 mortes pela Covid-19, o dia mais letal desde o início da pandemia — no total, 2.229 espanhóis sucumbiram ao novo coronavírus. O país é o segundo mais castigado da Europa, atrás da Itália. Em 24 horas, o número de infecções aumentou de 28.572 para mais de 35 mil. A ministra da Defesa, Margarita Robles, informou que militares espanhóis encontraram corpos de idosos abandonados em asilos. As autoridades de Madri improvisaram o centro comercial Palacio de Hielo como um necrotério. Segundo o jornal El País, os primeiros caixões foram transportados, ontem, ao local por homens da Unidade Militar de Emergências (UME) vestidos com roupas especiais. Todos os corpos serão cremados.
América Latina
Na América Latina, com 4.900 infecções e 65 mortos (incluindo o Brasil), de acordo com dados compilados pela agência France-Presse, muitos países adotaram restrições severas à circulação. O México fechou museus, teatros, cinemas e sítios arqueológicos. Uruguai e Brasil estabeleceram, no domingo, o fechamento da fronteira terrestre durante pelo menos 30 dias. O Chile começou a aplicar um toque de recolher noturno, após medidas similares na Bolívia, no Peru e no Equador, que, no domingo, registrou 14 mortes. República Dominicana e Guatemala também adotaram o toque de recolher. Bolívia, Argentina, El Salvador e Paraguai optaram pela quarentena total. Cuba decidiu colocar em isolamento 32 mil turistas em hotéis da ilha.