Correio braziliense, n.20759, 24/03/2020. Mundo, p.13

 

África se antecipa ao impacto

24/03/2020

 

 

A África está se preparando para o confinamento, já em vigor em Ruanda e nas Ilhas Maurício, e impôs ontem, em Lubumbashi, capital econômica da República Democrática do Congo (RDC), para enfrentar o coronavírus em um contexto material e cultural desfavorável. O Correio levantou que 44 países e dois terrítórios independentes, como Mayotte e Reunião, registram ao menos um caso da Covid-19. Egito (327), Argélia (201) e Marrocos (115) apresentavam a  maior quantidade de testes positivos até o fechamento desta edição. Gâmbia e Nigéria anunciaram, ontem, as primeiras mortes.
A atividade em Lubumbashi — sede da economia mineradora da RDC — e seus quatro milhões de habitantes pararam ontem por 48 horas, por ordem das autoridades provinciais. O motivo: dois passageiros de Kinshasa deram positivo para a Covid-19 quando saíram de um voo regular com 77 pessoas.
Cerca de 30 casos foram declarados oficialmente desde 10 de março na RDC — com duas mortes — todos na capital de 10 milhões de habitantes. Quatro deputados pediram para “colocar Kinshasa em quarentena e isolá-la do resto do país” para impedir a propagação do vírus no território de 2,3 milhões de km² e pelo menos 80 milhões de habitantes. Uma reunião sobre o coronavírus estava agendada na presidência da RDC.
Na África Ocidental, os presidentes do Senegal, Macky Sall, e da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, podem anunciar novas medidas após o fechamento de fronteiras e locais públicos, entre outros.
Com 67 casos anunciados oficialmente, sem mortes, o Senegal é um dos países da África Ocidental onde o coronavírus está mais presente. Em Burkina Faso — com um total de 99 casos —, as autoridades “contemplam cada vez mais um confinamento total da população em um período de duas a três semanas”, segundo uma fonte de segurança.
Na África Central, o presidente do Gabão, Ali Bongo Ondimba, anunciou restrições noturnas ao movimento das 19h30 às 6h, que começaram a valer no domingo. No vizinho Camarões (56 casos), o confinamento ainda está em debate. “Esperamos que não tenhamos que confinar o país inteiro”, disse a ministra da Saúde Malachie Manaouda no último domingo.
Ruanda (17 casos) proíbe  “movimentos não essenciais” desde sábado. “Duas semanas sem trabalho em uma cidade onde tudo é caro é uma sentença de morte”, diz Alphonse, 29 anos, que trabalha em seu táxi.
Desde sexta-feira, 1,3 milhão de habitantes das Ilhas Maurício, localizados a 1.800km da costa leste da África, devem permanecer confinados em suas casas por 14 dias. A Nigéria está tentando aplicar as medidas em vigor, começando com a proibição de multidões.
“O que vamos comer, o que nossos clientes vão comer?”, questiona Alice, uma fornecedora de frutas e legumes, indignada. “Pago (meus legumes) a crédito e agora não posso mais vendê-los. Precisamos sobreviver, não posso ficar em casa!”, reclama.
“Na realidade, o confinamento parcial ou total corre o risco de ter efeitos desastrosos para o continente africano”, avalia a famosa escritora camaronesa Calhixte Beyala, em sua página no Facebook.
“A população mais desfavorecida será a primeira vítima, eles morrerão de fome ou então seu corpo enfraquecido pela desnutrição, o que os tornará mais propensos a contrair a doença”, disse. “Precisamos encontrar estratégias de emergência para a África que melhor respondam às necessidades de nossos povos”, conclui a escritora.
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, decretou ontem um confinamento nacional de três semanas a partir de quinta-feira, a fim de tentar conter a rápida propagação do novo coronavírus e anunciou que o exército patrulhará as ruas para fazer cumprir a quarentena.
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Números de países e territórios do continente africano que registram ao menos um caso do novo coronavírus
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Morte de imã assusta Gâmbia

24/03/2020

 

 

Um líder religioso muçulmano de 70 anos, originário do Bangladesh, foi a primeira vítima do novo coronavírus na Gâmbia, onde ele estava depois de várias celebrações religiosas feitas em outros país, conforme anunciaram as autoridades. Ele tornou-se o segundo caso detectado no pequeno país da África Ocidental, depois de ter chegado do Senegal em 13 de Março, disse o Ministério da Saúde em comunicado.
O imã de Bangladesh havia se estabelecido na parte residencial de uma mesquita em Bundung, na periferia da capital, Banjul, “e estava envolvido em atividades religiosas, estando em contato com várias pessoas”, diz a nota publicada no domingo sobre o óbito.
“Dizem que o imã viajou antes para outros seis países, nos quais também celebrou cerimônias religiosas”, continua o texto, dando conta  de que o homem, diabético, morreu numa ambulância a caminho do hospital.
A Nigéria também anunciou a primeira morte causada pela Covid-19, depois de o país mais populoso da África, com 200 milhões de habitantes, ter registado um aumento acentuado do número de casos de infecção nos últimos dias. “Trata-se de um homem de 67 anos, que regressou à Nigéria depois de ter sido hospitalizado na Inglaterra”, adiantou  o governo nigeriano.