Título: País cria menos empregos
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 24/11/2012, Economia, p. 14
Queda foi de 47% em comparação com outubro do ano passado e surpreendeu técnicos do governo
A criação de empregos com carteira assinada despencou em outubro. Segundo dados divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho, foram gerados 66.988 empregos formais. A queda foi de 46,8% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Trata-se do pior outubro desde 2008, quando, em plena crise financeira internacional, foram criados 61.401 postos de trabalho.
Diante desse quadro, o secretário interino de Políticas de Emprego e Salário do Ministério do Trabalho, Rodolfo Torelly, foi obrigado a admitir que a geração de vagas no ano vai ficar bem abaixo dos 2 milhões, estimadas antes pelo então ministro da pasta Carlos Lupi. No máximo, os contratos com carteira assinada, medidos pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), vão chegar a 1,4 milhão, podendo o dado global alcançar 1,7 milhão depois de incorporar os números da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), que levam em conta dados da iniciativa privada e do serviço público.
O desempenho de outubro surpreendeu até mesmo a equipe técnica do Ministério do Trabalho, que não esperava uma desaceleração do emprego no setor de serviços e muito menos que a construção civil apresentasse dados negativos. Torelly chamou a atenção para o fato de ter sido registrado o maior volume de demissões (1,64 milhão) e também de admissões (1,71 milhão) para este mês na série histórica do Caged. "A rotatividade está comendo solta", declarou.
Desaceleracão
O setor de serviços, que vinha puxando o emprego nos últimos meses, deixou o primeiro lugar. Geralmente, o segmento apresentava um saldo líquido positivo em torno de 70 mil. Em outubro, só foi capaz de gerar 32.724 postos, sendo superado pelo comércio, com 49.597 vagas. A agricultura, sempre negativa nesse período do ano, queimou 20.153 vagas.
O que surpreendeu mesmo foi o desempenho da construção civil. O saldo líquido do mês foi negativo em 8.290 postos de trabalho. As construtoras alegam que as demissões são fruto de encerramentos de contratos e das condições climáticas — chuvas em excesso em boa parte do país impedem o início de mais obras e, com elas, novas contratações.
Foi o setor da construção civil que levou o Distrito Federal a também apresentar um resultado líquido negativo, com a perda de 620 vagas. No total, nove das 27 unidades da Federação tiveram perdas. A troca de prefeitos pode ter contribuído para esse quadro. O Caged registrou menos 3.521 contratos celetistas na administração pública.
Para o secretário interino de Políticas de Emprego e Salário, não existe discrepância entre os dados do Caged e a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontou, para outubro, a menor taxa de desemprego do país: 5,3%. Torelly explicou que essa taxa mede o nível de ocupação apenas nas seis maiores regiões metropolitanas do país, ao contrário do Caged, que é um registro administrativo da movimentação de pessoal em todo o país, incluindo o interior.
Rodolfo Torelley não arriscou a prever um resultado negativo para novembro. Ele aposta no desempenho da indústria de transformação que, graças aos incentivos dados pelo governo, vem conseguindo apresentar resultados positivos para o emprego, para ajudar o mês. Em dezembro, no entanto, não espera milagre. Em anos bons são fechados no país cerca de 400 mil vagas. Em anos ruins, esse número ultrapassa a 600 mil.