Título: Mercado testa Banco Central
Autor: Oliveira, Prsicila
Fonte: Correio Braziliense, 24/11/2012, Economia, p. 17

Autoridade monetária nega existência de banda para o dólar, mas tem de fazer Leilão quando a moeda americana chega perto de R$ 2,12

Rio de Janeiro — Um dia após o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmar na Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional que o país não utiliza banda cambial e que o governo não defende um patamar específico para taxa de câmbio, o BC faz uma nova intervenção no mercado.

O patamar de R$ 2,10 é considerado informalmente no mercado como o limite aceitável para valorização da moeda. Segundo o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, professor da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas (EPGE-FGV), Tombini “não quer confessar, mas o governo está operando claramente em câmbio fixo”.

Pastore participou ontem do seminário Perspectivas para 2013, realizado pela FGV. Segundo ele, houve mudança no regime cambial no momento em que essa variável foi transformada em instrumento de política econômica, apesar da resistência do governo em admitir a mudança. “Não sei direito como (o câmbio) vai ser mantido nessa banda, mas a tendência, pelo menos agora, é manter isso. A manifestação concreta hoje é de câmbio fixo, mas se você perguntar para o Tombini, ele vai dizer que não, que é de câmbio flutuante”, afirmou Pastore.

O professor declarou ainda que acredita na tendência de depreciação do câmbio nos próximos meses. Segundo Pastore, o patamar será mantido sempre no limite de R$ 2,10. “Além desse valor há também o fator inflação, que seria jogado para cima. Vamos ultrapassar R$2,10 daqui a seis meses talvez, mas não agora”, afirmou Pastore.

Atuação

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu ontem em São Paulo que o governo trabalha com o valor de R$ 2,10 como piso para a cotação do dólar. (leia texto abaixo). Após a fala de Mantega ontem, o dólar subiu a quase R$ 2,12, o que fez o BC intervir no mercado.

A atuação da autoridade monetária teve como objetivo evitar movimentos “artificiais” do dólar, num momento em que a liquidez está bastante restrita por conta dos feriados das últimas duas semanas, afirmou um técnico da equipe econômica que preferiu não se identificar.

O técnico da equipe econômica lembrou que, na quinta-feira, no Congresso, o presidente do BC, Alexandre Tombini, afirmou que atuaria para evitar distorções no mercado cambial. Mesmo sob anonimato, ele se ateve ao discurso oficial mencionado por Pastore na palestra da FGV. “Não temos no país qualquer objetivo de câmbio. Estamos com câmbio flutuante e nós sempre tomaremos precauções para evitar que o Brasil seja uma praça de desvalorização de importantes moedas contra a nossa moeda”, disse o técnico do governo, acrescentando ainda que, se necessário, o BC intervirá no câmbio para prover moeda. Segundo ele, a avaliação é de que, a falta de liquidez acaba favorecendo movimentos mais abruptos e artificiais da moeda.

Maior queda

O dólar teve a maior queda ante o real em quase três meses, após o BC voltar a intervir no mercado de câmbio para conter o avanço da moeda norte-americana, vendendo 32.500 contratos de swap cambial tradicional de até R$ 62,8 mil, com vencimento em 3 de dezembro. A cotação da moeda chegou a R$ 2,117, mas com a intervenção, voltou a R$ 2,082. A trajetória doméstica do dólar ontem teve impacto também no mercado de juros futuros. A maioria dos contratos também encerrou em queda — as perdas da moeda norte-americana depois da atuação do BC reduziram preocupações sobre o impacto da alta da divisa na inflação.