Correio braziliense, n. 20755 , 17/03/2020. Política, p. 3

 

Saúde suplementar faz demandas ao governo

17/03/2020

 

 

A assistência da saúde suplementar no combate à disseminação da Covid-19 e no tratamento de pacientes é uma alternativa para eventual inchaço do Sistema Único de Saúde (SUS), afirma o Ministério da Saúde. A medida é prevista por lei e pode entrar no cenário, visto que a oferta de leitos de UTI na rede pública é quase igual à disponível na particular, mesmo com demanda três vezes maior. Para conseguir atender ao governo e, ao mesmo tempo, garantir a continuidade dos serviços sem prejuízo aos usuários, a Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) protocolou, ontem, um ofício solicitando facilidades econômicas e sanitárias para equipar os hospitais.
 
Entre as demandas enviadas à Presidência da República há a redução temporária a zero do imposto de importação para insumos e equipamentos associados ao diagnóstico e ao tratamento da doença, além da facilitação alfandegária para a exportação desses materiais. A confederação também pede linha de financiamento sem juros, via BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), para as aquisições e ações do governo para combater a preços abusivos dos produtos usados no enfrentamento à pandemia.
  
A preocupação, segundo o diretor executivo da CNSaúde, Bruno Sobral, é evitar um contingente maior do que a capacidade de ambos os sistemas, em um momento de emergência da saúde. “O setor tem atendido todos os casos de Covid-19 com a maior agilidade possível, sempre em parceria com as autoridades sanitárias. Como exemplo, cito o desenvolvimento do teste para detectar o vírus pelo setor de diagnóstico privado e a preparação de toda a equipe e hospitais quanto aos procedimentos e protocolos necessários”, ressaltou.
  
O tratamento para os infectados pela Covid-19 é garantido na saúde suplementar. A obrigatoriedade de cobertura pelos planos de saúde, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), varia de acordo com a cobertura de cada convênio. Os planos também são obrigados a arcar com os custos dos testes para o novo coronavírus.
 
Na opinião de Sobral, no entanto, ainda há a necessidade de uma organização do SUS na solicitação dos leitos de UTI. “Esse processo, de como será a alocação, ainda não está claro e é esperado”, explicou. Atualmente, apenas um a cada quatro brasileiros consegue pagar por um plano de saúde. Os outros três dependem exclusivamente do SUS. No entanto, os 55 mil leitos de UTI em funcionamento no Brasil são distribuídos quase que meio a meio entre o sistema público e privado. Com isso, a proporção de leitos de UTI públicos é de um a cada 10 mil habitantes, enquanto a relação na rede particular é de mais de quatro para 10 mil.
  
Em coletiva, o secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, afirmou que a pasta vai trabalhar junto aos representantes da saúde suplementar para alinhar as atividades. “Vamos regular esses leitos privados e queremos saber qual é a ocupação, quem tem leito ocioso, onde eles estão e, se for necessário, requisitá-los para atendimento da população brasileira.” (BL, colaborou Maria Eduarda Cardim)
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Casos chegam a 234

17/03/2020

 

 

O número de casos do novo coronavírus no Brasil continua a crescer, de acordo com o Ministério da Saúde. Novo boletim emitido pelo órgão, ontem, registrou 234 casos confirmados e 2.064 investigados. No balanço anterior, divulgado no domingo, eram 200 casos confirmados. Além do Distrito Federal, 15 estados têm registros: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Sergipe e Amazonas.

Entre os pacientes confirmados com Covid-19, 18 estão hospitalizados. Um deles é a primeira paciente diagnosticada com coronavírus no DF, que continua internada na UTI do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), em estado grave. O Brasil também registrou o segundo caso grave da doença. Trata-se de um médico de 65 anos internado na rede privada de saúde no Rio de Janeiro. O país ainda não registrou nenhum óbito pela doença. Outros 1.624 casos já foram descartados.

Até domingo, somente São Paulo e Rio de Janeiro registraram transmissão comunitária, que acontece quando não é possível mais identificar o vínculo epidemiológico de algum caso, ou seja, quando não é possível identificar a origem de um caso confirmado. De acordo com dados da pasta, Rio de Janeiro tem oito e São Paulo, 13. A maioria dos casos ainda é importada, ou seja, de pacientes que vieram de outro país. Há também alguns episódios de transmissão local nos seguintes estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. No total, são 80 casos de transmissão local no Brasil.

Uma das medidas para conter a transmissão do vírus é a contratação de médicos para reforçar o atendimento à população. Até ontem, primeiro dia de inscrições do programa Mais Médicos, cerca de 4.400 profissionais já tinham se inscrito, ou seja, 75% das 5.811 vagas ofertadas. Os novos médicos contratados serão distribuídos nos estados e municípios do país. Os profissionais com CRM Brasil podem se inscrever até as 18h de hoje.

O órgão ainda convocará médicos cubanos que foram desligados por causa da ruptura do programa entre Cuba e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Segundo o ministério, cerca de 1.800 profissionais daquele país poderiam ser convocados. “Inicialmente, vamos chamar os médicos brasileiros. Após a terceira chamada desses médicos é que os profissionais cubanos poderão ser chamados.

Esses médicos deverão passar pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que avaliará a documentação deles e, após a aprovação desses documentos, entrarão no programa”, explicou o secretário executivo da pasta, João Gabbardo.

A expectativa é de que os novos médicos comecem a atuar no início de abril. Há ainda a previsão da convocação de estudantes que estiverem no último ano da graduação de medicina, enfermagem, fisioterapia e outros cursos relacionados à área da saúde, tanto da rede pública quanto da privada.

Os estudantes serão voluntários e desempenharão atividades complementares à assistência. Profissionais da área da saúde já aposentados também podem ser convidados. (BL e MEC)