Valor econômico, v.20, n.4957, 11/03/2020. Brasil, p. A2

 

Epidemia não é tudo isso que a grande mídia fala, diz Bolsonaro

Paola de Orte

11/03/2020

 

 

O coronavírus não é isso tudo, muito do que se fala sobre crise é fantasia e é melhor o preço do petróleo cair do que subir. Esta foi a visão compartilhada pelo presidente Jair Bolsonaro a uma plateia de empresários nos EUA, um dia após a bolsa brasileira ter a maior queda desde 1998, na esteira das preocupações globais com a epidemia e com a disputa pelo preço do barril de petróleo entre Arábia Saudita e Rússia.

"Durante o ano que se passou, obviamente, temos momentos de crise. Muito do que tem ali é muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propaga. Alguns da imprensa conseguiram fazer de uma crise a queda do preço do petróleo, entendo que daria muito mais... É melhor cair 30% do que subir 30% do preço do petróleo. Mas isso não é crise."

As declarações foram feitas na manhã de ontem em Miami em discurso acompanhado por menos de cem convidados. Bolsonaro está na Flórida desde o sábado, quando jantou com o presidente americano, Donald Trump.

O presidente argumentou durante o discurso que problemas podem acontecer no mercado de ações e afirmou que a bolsa já havia iniciado as operações em alta - o Ibovespa subiu 7,14%, na expectativa de novos estímulos econômicos pelos EUA. "Obviamente, problemas na Bolsa, isso acontece esporadicamente."

No dia anterior, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, havia afirmado que, no momento, o governo não aplicará nenhuma medida emergencial para lidar com a queda acentuada do petróleo e da bolsa. O presidente, como fez na segunda-feira, reiterou ontem, quando falou pela primeira vez com jornalistas durante a viagem, que não haverá mudança na política de preços da Petrobras.

"Zero, zero, não existe isso. A política que a Petrobras segue é a de preços internacionais, então a gente espera, obviamente, não como presidente, mas como cidadão, que o preço caia nas refinarias e seja repassado ao consumidor na bomba."

Bolsonaro disse também aos empresários que, durante o jantar de sábado com Trump, pediu para que a conversa bilateral sobre comércio passasse de temas pontuais para uma discussão mais ampla.

"Foi dado o primeiro passo, conversamos sábado com presidente Trump. Discutimos questões pontuais, como é do interesse americano, etanol e carne de porco. Pedi para ele para que nós deixássemos questões pontuais e discutíssemos de forma mais ampla. Ele concordou. Então nossas assessorias vão começar a discutir livre-comércio mais amplo com os Estados Unidos."