Correio braziliense, n. 20756 , 18/03/2020. Política, p.4

 

Brasil fechará fronteira

Ingrid Soares

18/03/2020

 

 

A portaria com a determinação será publicada hoje e se restringirá à Venezuela, porque "é a mais sensível", segundo Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro anunciou que fechará a fronteira do Brasil com a Venezuela por causa do coronavírus. A determinação será publicada numa portaria, hoje, no Diário Oficial da União (DOU). O chefe do Executivo, porém, minimizou a medida. “Alguns acham que a palavra fechar fronteira é uma palavra mágica. Se a gente pudesse, tivesse o poder de fechar a fronteira, como muitos pensam, não teriam entrado drogas nem armas no Brasil. Temos 17 mil quilômetros de fronteira. (…). Não é fácil isso aí.”

Bolsonaro voltou a dizer que “há uma certa histeria”. “É como se fechar as fronteiras resolvesse, alguns querem que a gente feche aeroportos, bem, a gente não sabe as consequências disso tudo”, frisou. Ele destacou que o fechamento da fronteira não será total. “O tráfego de mercadorias vai continuar acontecendo, porque separa Roraima. Se você fecha o tráfego com a Venezuela, a economia de Roraima desanca. A Venezuela, em parte, também tem esse tráfego de mercadorias conosco. Não tem como tomar medidas radicais. Não vai dar certo”, frisou.

Mais cedo, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que sua pasta já havia se manifestado favoravelmente ao fechamento. Ressaltou que o sistema de saúde da Venezuela já entrou em colapso, e Roraima não tem capacidade de atender mais venezuelanos. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também defendeu que a medida já deveria ter sido tomada.

“Festinha”
Em entrevista à Rádio Tupi do Rio de Janeiro, Bolsonaro disse que a economia “estava indo bem”. “Fizemos umas reformas, a taxa de juros lá em baixo, a questão de Risco Brasil também. Esse vírus trouxe certa histeria. E alguns governadores estão tomando medidas que vão prejudicar muito a nossa economia”, criticou. “Se for nos ônibus do Rio, metrô de São Paulo, está tudo lotado. A vida continua, não tem que ter histeria. A histeria leva a um baque da economia.”

O chefe do Executivo ressaltou, também, que idosos podem ter mais problemas com a Covid-19 e lembrou que fará 65 anos no próximo dia 21. “Vai ter uma festinha tradicional aqui, né. Até porque, eu faço aniversário dia 21 e a minha esposa, no dia 22. São dois dias de festa aqui”, afirmou.

Bolsonaro se submeteu, ontem, a mais um teste de coronavírus. Uma equipe do Hospital das Forças Armadas (HFA) esteve no Palácio da Alvorada pela manhã para recolher as amostras. O resultado sairá hoje. Ontem à noite, porém, Bolsonaro usou as redes sociais para dizer que esse segundo exame também deu negativo.

Reunião
Hoje, o chefe do Executivo vai se reunir com os presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia. Os três e “todos os ministros”, segundo o comandante do Planalto, darão entrevistas coletivas, às 14h30 e às 20h30. De acordo com o chefe do Executivo, o objetivo é mostrar que os poderes estão unidos para combater a doença. Na segunda-feira, Maia, Alcolumbre e Toffoli se reuniram com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta no STF, sem a presença de Bolsonaro. Eles discutiram medidas contra a pandemia.

"Se o Brasil parar, vai ser um caos. Vai morrer muito mais gente fruto de uma economia que não anda do que do próprio coronavírus”
Jair Bolsonaro, presidente da República

Panelaço contra o presidente
Moradores de bairros de São Paulo e Rio se anteciparam, ontem, a um protesto marcado para hoje, pelas redes sociais, e fizeram panelaços e entoaram gritos de protesto contra o presidente Jair Bolsonaro. Houve registro de manifestações na Pompeia, Vila Madalena, Perdizes, Vila Romana e Água Branca, na zona oeste, Vila Buarque, Bela Vista, República e Santa Cecília, no centro. Na zona sul, foram registrados panelaços no Morumbi. Na Pompeia, moradores de casas e prédios residenciais bateram panelas e gritavam “fora, Bolsonaro” e “Ele, não”. Alguns manifestantes também faziam as luzes piscar e outros, barulho com vuvuzelas. No Rio, houve registro de protestos no Jardim Botânico e nas Laranjeiras. Em Brasília, na Asa Norte, não foi registrado panelaço, mas houve muitos gritos de protesto.