Título: Gurgel pressionado
Autor: Campos, Ana Maria; Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 21/11/2012, Política, p. 2

O relatório final da CPI do Cachoeira, que pediu o indiciamento de 46 pessoas e foi protocolado na noite de ontem, recomenda que o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) investigue a conduta do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. De acordo com o documento, elaborado pelo relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), Gurgel não deu prosseguimento às investigações referentes à Operação Vegas, iniciada em 2008 pela Polícia Federal. Para o relator, que vai realizar a leitura do documento na manhã de hoje, não foi apresentada nenhuma justificativa para a paralisação da investigação.

O inquérito da Polícia Federal foi remetido à Procuradoria Geral da República em 2009. No entanto, a subprocuradora Cláudia Sampaio, mulher de Gurgel, entendeu que não havia indícios para o prosseguimento da apuração contra as autoridades com foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF). Ontem, o procurador-geral da República não comentou o relatório. Na época, Gurgel informou que teria sobrestado o inquérito para possibilitar que novas investigações fossem desenvolvidas. Ele só pediu abertura do procedimento no Supremo Tribunal Federal mais de dois anos depois, quando a CPI já havia sido instalada.

O relatório final foi antecipado pelo Correio na edição do dia 4 de novembro. O calhamaço, com mais de 3 mil páginas, pede, entre outros, o indiciamento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB); do ex-senador Demóstenes Torres; do dono da Delta Construções, Fernando Cavendish; do ex-vereador de Goiânia Wladimir Garcez; do deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO); e do prefeito de Palmas, Raul Filho (PT). Além disso, o relator pediu o enquadramento de todos os integrantes da quadrilha que ficaram em silêncio, a exemplo de Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta no Centro-Oeste. Mais da metade dos depoentes ficou calada. Perillo informou que a CPI faz um julgamento meramente político e disse esperar a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o caso. O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), que prestou depoimento na comissão, foi inocentado.

Ontem à tarde, Odair Cunha visitou o gabinete de vários líderes partidários para fechar os últimos detalhes do documento. Houve muita pressão. O relatório utilizou um eufemismo para as pessoas que têm foro privilegiado: a palavra “indiciamento” foi substituída por “responsabilização administrativa” pelo crime cometido. No relatório, mesmo sem ter quebrado o sigilo de 15 empresas fantasmas que receberam dinheiro da empreiteira Delta, o relator menciona o assunto e encaminha a listagem para o Ministério Público, com o objetivo de que procedimentos investigativos sejam instaurados.

O deputado Sílvio Costa (PTB-PE) vai solicitar hoje, por meio de uma questão de ordem, o adiamento da leitura do relatório. O parlamentar pedirá que a CPI aprove a reconvocação do bicheiro Carlos Augusto Ramos. O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) concordou com o posicionamento de Costa.

Relatório paralelo Insatisfeitos com o resultado final da CPI do Cachoeira, quatro parlamentares, que pertencem a um grupo considerado independente, vão protocolar hoje, na Procuradoria Geral da República (PGR), um relatório paralelo por considerar que os trabalhos investigativos da comissão foram prejudicados por questões políticas e partidárias. Além do indiciamento do governador de Goiás, Marconi Perillo, já sugerido no relatório oficial, o documento pedirá o enquadramento dos governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), e do Tocantins, Siqueira Campos (PSDB). Também serão oferecidas representações contra os deputados Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) e Sandes Júnior (PP-GO).