Título: Carvalho provoca Alckmin
Autor: Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 21/11/2012, Política, p. 5

Ministro saúda governo paulista por ter aceito, "finalmente", a ajuda federal. Para o PSDB, ele faz "politicagem eleitoral"Juliana Braga

Apesar de dizer que se tratava de um tema “grave” e que, portanto, não deveria ser politizado, o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, alfinetou o governo do estado de São Paulo, ontem, ao saudá-lo por ter “finalmente” aceitado a ajuda do governo federal. “O passo que eu quero saudar é esse: finalmente, houve uma aceitação por parte do governo de São Paulo dessa parceria como governo federal. Eu acho que todos temos que ganhar com isso, particularmente a população de São Paulo”, provocou. A declaração foi dada 14 dias após o governador Geraldo Alckmin ter recebido, no Palácio dos Bandeirantes, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e criado um grupo de trabalho conjunto para enfrentar a onda de violência no estado.

Carvalho ainda comparou o número de mortos em São Paulo com os números de vítimas na Faixa de Gaza, que vive em clima de guerra por causa do conflito entre o grupo palestino Hamas e o governo de Israel. “Eu estava vendo ontem. A gente estava alarmado com os mortos na Palestina e as estatísticas mostram que, só na Grande São Paulo, em um dia, você tem mais gente perdida, assassinada, do que num ataque desses. Então, a gente tem que ter consciência disso”, criticou o ministro.

Gilberto Carvalho destacou também que o resultado das ações conjuntas entre governo federal e governo paulista podem demorar. “A gente nunca deve vender ilusões. A gente sabe que os problemas se desenvolvem durante longo tempo, criam tal raiz que, depois, o combate a esses problemas, à essa raiz, nunca se dá de maneira imediata, abrupta e tão rápida quanto a gente sonharia”, disse ele. Apesar de todas as críticas, Carvalho fez questão de ressaltar a gravidade do assunto e que, por isso, não deveria ser politizado. “Não pode haver, nesse momento, nenhuma tentativa de uma utilização política ou partidária do tema. Ele é muito grave. Ele é suficientemente grave para que a gente não brinque nessa hora”, ponderou.

Quem rebateu as críticas do ministro foi o presidente do PSDB estadual, Pedro Tobias. Por meio de nota, lamentou as declarações. “É lamentável que o governo federal mantenha no cargo um ministro de Estado que se especializou no ofício de degradar o cargo que ocupa para fazer politicagem eleitoral. A frase revela ignorância e má-fé”, respondeu Tobias. Um auxiliar do governador Alckmin, que não quis se identificar, classificou as declarações como “totalmente irresponsáveis”, por fazer comparações de cidades em contextos diferentes, sem fazer ressalvas como a relação com o número de habitantes, por exemplo.

Os atritos entre o Ministério da Justiça e o Palácio dos Bandeirantes começaram em meados de outubro, quando os titulares trocaram farpas sobre a oferta de ajuda do governo federal. No dia 11, Alckmin criticou falta de ação nas fronteiras. Dois dias depois, Cardozo acusou o governador de fazer “jogo de empurra”. As farpas haviam cessado quando a presidente Dilma Rousseff, em 2 de novembro, ligou para o tucano propondo uma ação coordenada de inteligência para combater a onda de criminalidade. Na madrugada de segunda para terça-feira, pelo menos duas pessoas foram mortas na Grande São Paulo, e três ficaram feridas.