Título: Uma peça muito importante
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 28/11/2012, Política, p. 2
A ex-chefe de gabinete do escritório da Presidência da República em São Paulo Rosemary Nóvoa de Noronha vendia sua proximidade política para conseguir o que queria. Considerada peça “muito importante” na investigação, ela aproveitava o trânsito que tinha e o nome do cargo que ocupava para “pegar no pé do alto escalão”, segundo a procuradora da República Suzana Fairbanks Schnitzlein. No “alto escalão”, no entanto, não aparece o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, responsável pela indicação do nome de Rosemary para o cargo. De acordo com a procuradora, não existem nos dados coletados qualquer conversa entre os dois. Foi quebrado o sigilo dos e-mails de Rosemary.
A investigação começou em fevereiro de 2011, mas Rosemary só se tornou alvo há cerca de três meses — os fatos considerados importantes relacionados à ex-chefe de gabinete são de 2009 e 2010. De acordo com Suzana Schnitzlein, as situações apuradas até a deflagração da operação não apontavam a necessidade de prisão cautelar da investigada. Esse pedido, no entanto, ainda pode ocorrer, a depender das provas colhidas pela Polícia Federal que ainda estão em análise. Os cumprimentos dos mandados de busca e apreensão resultaram em 18 malotes de documentos. “Ela fazia trabalho de secretaria de luxo do gabinete em São Paulo. Rosemary tinha trânsito livre dentro do governo. Com base no cargo que ocupava, ela cometia crimes de tráfico de influência e corrupção passiva”, afirmou a procuradora.
Quando fazia os contatos, de acordo com Suzana Schnitzlein, Rosemary não mandava. “Ela insistia. E conseguia.” O principal feito de Rosemary, segundo as investigações, foi conseguir interferir nas nomeações de Paulo e Rubens Vieira para os cargos de diretores da Agência Nacional das Águas (ANA) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), respectivamente. Segundo a procuradora, Rosemary usava o nome do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu nas conversas com Paulo Vieira como se o petista ainda estivesse no governo e tivesse poder. Sobre o delator do esquema, o ex-auditor do Tribunal de Contas da União Cyonil de Farias Júnior, a procuradora afirmou que “ele é um corrupto que sofreu um golpe”. De acordo com Suzana, Cyonil, que só recebeu R$ 100 mil dos R$ 300 mil acordados, cobrou os outros R$ 200 mil, mas não recebeu.
18
Total de malotes apreendidos na última sexta-feira, durante a realização da Operação Porto Seguro