O Globo, n. 95, 22/03/2020. Mundo, p. 38

 

Crise de Eduardo com China se reflete nas redes

Camila Zarur

22/03/2020

 

 

Atrito em que deputado responsabilizou Pequim por pandemia gerou 1,7 milhão de tuítes. Segundo levantamento, base a favor do presidente vem perdendo espaço na discussão geral sobre novo coronavírus

 Editoria de Arte

O atrito entre o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, gerou 1,7 milhões de postagens no Twitter — mais de 50% das interações eram de rejeição às postagens do filho do presidente Jair Bolsonaro, mostra o levantamento feito pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV. O estudo levou em conta as publicações feitas entre 18h de quarta-feira, dia em que o parlamentar usou a rede social para responsabilizar o gigante asiático pela pandemia do novo coronavírus, e 13h de sexta. O filho do presidente usou a rede social para culpara China, comparando ocaso ao desastre de Chernobyl e dizendo que o país escondeu o vírus do mundo. Em seguida, tanto Yang quanto o perfil oficial da embaixada chinesa responderam repudiando a acusação.

O embate criou uma crise diplomática entre os dois países. Segundo acoleta dedados da FGV DAPP, muitos perfis atu aramem grupos e mini grupos para discutira situação diplomática. Três de lesse destacaram: o formado por apoiadores do presidente, que agregou 36% das interações; oque reuniu os perfis oficiais da embaixada, do embaixador, da imprensa tradicional e os de figuras públicas que repudiaram o tuíte de Eduardo, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com 33%; e o terceiro, menor, com 12%, formado por perfis comuns eque também foram críticos ao deputado. De acordo com o estudo, esses dois últimos grupos, somados a outros menores, formaram a maior parcela das interações — o que engloba desde publicações a compartilhamentos e curtidas. O gráfico mostra a divisão dos grupos, sendo o primeiro representado em azul, o segundo em verde e o terceiro em rosa.

GUERRA DE HASHTAGS

Apesar de a maioria ter se posicionado a favor da China e contra opar lamentar,é possível notar pelo estudo que aba sede apoio de Bolso na rose engajou para defender Eduardo na rede social. O foco central desse grupo foi rejeitar o comunismo e colocá-lo com o vetor da propagação mundial da Covid-19: menções ao regime somaram 170 mil tuítes (10% do total), e 132 mil (8%) usaram o radical “culpa” —englobando palavras como culpados, culpar, etc. —para criticar aposturados chineses no início da pandemia.

A hashtag #víruschinês — como é chamado o novo coronavírus por Donald Trump — foi usada pelo grupo e apareceu em 198 mil tuítes.Esse volume não foi alcançado estas emanap orne nhum a hashtag pró-Bolsonaro articulada para fomentar os “panelaços” em apoio ao governo.

Já para explicar o impacto negativo da postagem de Eduardo, apalavra“bananinha ”, usada pelo vice-presidente Hamilton Mourão para defender o deputado, apareceu em 43 mil tuítes —incluindo a hashtag irônica #EduardoBananinha. Segundo o levantamento, a base a favor do presidente vem perdendo espaço na discussão geral sobre a pandemia. Desde o começo da semana, grupos pró-governo não responderam por mais de 15% das interações totais e, na quinta, reuniram somente 8% das mais de 5 milhões de postagens sobre o vírus no Brasil. Após o tuíte de Eduardo, perfis de direita alinhados ao governo começaram o fluxo de debate crítico ao comunismo, que apontam como o responsável pela pandemia.

Segundo o estudo, nesse momento, a discussão fica restrita a núcleos de influenciadores pró-governo, que também divulgam postagens de teor conspiratório sobre os “interesses” da China — econômicos, militares, estratégicos e sociais. Coma respostada Embaixada da China e do embaixador, por volta das 22h de quarta, iniciou-se a organização de grupos de oposição, da direita à esquerda, em repúdio ao comentário do parlamentar. Houve o primeiro pico de engajamento sobre o assunto no Twitter,c om média superiora 1,4 mil tuítes por minuto.

Ao longo do fim da noite de quarta e da manhã de quinta, autoridades, políticos e influenciadores continuaram ase posiciona rea mobilizar impacto. Na manhã de quinta, após a rápida repercussão negativa em relação a Eduardo, a base pró-governo voltou-se às redes para defendê-loe reiteraras críticas aos chineses. Movimento semelhante, mas de menor fôlego, foi visto à esquerda. O último pico de interações ocorre a partir das 21h de quinta e reflete a polarização no engajamento — desta vez, porém, com foco maior no chanceler Ernesto Araújo, que criticou reação da embaixada chinesa, e em interações a partir de artigos e notícias.