Título: Ministros vão ao Congresso
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 28/11/2012, Política, p. 3

Convocados pelos parlamentares, José Eduardo Cardozo e Luís Inácio Adams serão ouvidos na semana que vem

Os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, foram convocados para ir ao Congresso, na semana que vem, prestar esclarecimentos sobre a Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que investiga uma quadrilha que vendia pareceres técnicos e jurídicos para empresas com negócios com o governo. Cardozo será ouvido em uma audiência pública conjunta das comissões de Fiscalização e Controle e de Segurança Pública da Câmara. Já Adams comparecerá em sessão conjunta das comissões de Assuntos Econômicos e de Meio Ambiente do Senado.

Impedida pelo PT paulista, a oposição não conseguiu aprovar a convocação de Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo. Mas o PSDB apresentou um outro requerimento à Comissão Mista de Controle de Atividade de Inteligência pedindo a convocação dela. Por não ser uma comissão permanente, ela precisa ser convocada a partir do requerimento feito ontem pelo PSDB da Câmara.

A presidente Dilma Rousseff liberou a base para aprovar a convocação dos dois ministros para prestar esclarecimentos sobre o caso. O único cuidado tomado foi realizar as audiências apenas na semana que vem, na expectativa de que o caso esfrie. Além disso, a presença dos ministros perante os parlamentares reforça a estratégia de tirar o foco da crise de dentro do Palácio do Planalto. “A Polícia Federal investigou e abriu inquérito. O governo afastou os envolvidos para investigar e demitiu os que tinham cargo de confiança. Vamos esperar a PF concluir o inquérito”, disse o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (PT-SP). “Não há problema em ministros prestarem esclarecimentos. O governo é republicano e a Polícia Federal tem autonomia administrativa para investigar”, afirmou.

Pressão Em entrevista ao Correio, Adams diz que apoiou a exoneração de Weber, com quem ainda mantém relações de amizade. Mas integrantes da base aliada afirmaram que tanto Rosemary quanto Weber são da cota do PT paulista. Por isso, a preocupação dos petistas em blindar a ex-chefe da gabinete, receosos do que ela poderá falar pressionada pelos parlamentares e depois ser indiciada pela Polícia Federal. A preocupação maior é com um possível envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso, a quem Rose — como é conhecida — é ligada diretamente.

De acordo com as mesmas fontes, a presidente não faz a mínima questão de proteger Rosemary. Ela nunca gostou da chefe da gabinete — a exemplo da ex-primeira-dama Marisa Letícia — e aproveitou a primeira oportunidade para exonerá-la e extinguir o cargo. A partir de agora, toda a coordenação do escritório paulistano será feita por Brasília.

Outro receio dos governistas é com a extensão do escândalo. Ninguém sabe a quantidade ou a variedade de pareceres jurídicos concedidos pelos integrantes da quadrilha. O governo já cancelou a autorização para a permanência do ex-senador Gilberto Miranda na Ilha das Cabras (litoral paulista). Mas teme-se que outros negócios, mais vultuosos, tenham sido autorizados.