Título: Conduta de ex-servidor investigada pelo TCU
Autor: Kleber, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 28/11/2012, Política, p. 4

Tribunal de Contas da União vai apurar a atuação de ex-auditor que denunciou a quadrilha à Polícia Federal, após receber propina para beneficiar empresa em processo no órgão

O Tribunal de Contas da União (TCU) anunciou ontem que vai apurar a conduta do ex-servidor Cyonil da Cunha Borges de Farias, responsável por denunciar à Polícia Federal as irregularidades que resultaram na Operação Porto Seguro. A posição oficial do órgão sobre a postura do ex-auditor federal na última segunda-feira, em e-mail enviado ao Correio, era de que o tribunal “está acompanhando o desenrolar dos fatos e a investigação da PF”. Ontem, o TCU informou, em nota, que a “conduta funcional do ex-servidor e seus respectivos desdobramentos serão objeto de apuração perante a Corregedoria da Corte”.

Em depoimento, Cyonil, que não é mais funcionário do TCU desde abril deste ano, afirmou que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu tinha interesse em um processo envolvendo a empresa Tecondi (Terminal para Contêineres da Margem Direita S/A). De acordo com um relatório do TCU, cujo relator é o ministro José Múcio, a empresa acabou beneficiada pela Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) ao receber lotes não previstos na licitação original.

A investigação da PF começou em março de 2011, após Cyonil declarar aos policiais que havia recebido uma tentativa de cooptação por criminosos interessados em comprar um parecer técnico em benefício da Tecondi. A recompensa, segundo depoimento prestado por ele, seria o pagamento de R$ 300 mil. Informações preliminares dão conta de que o então auditor elaborou o documento, favorecendo a empresa no processo envolvendo a Codesp. Ele chegou a receber a primeira parcela, de R$ 100 mil, mas teria se arrependido depois. Paulo Rodrigues Vieira, diretor de Hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA), afastado do cargo pela presidente Dilma Rousseff, foi quem ofereceu a propina. Ele é um dos principais articuladores da organização criminosa descoberta pela Polícia Federal.

Fórum na internet O ex-servidor, porém, nega que tenha recebido dinheiro. Ele afirmou na última segunda-feira, ao ser questionado sobre a veracidade das informações divulgadas na imprensa por alunos num fórum de discussão de concurseiros na internet, que nunca aceitou qualquer quantia. Cyonil contou que Paulo o procurou na portaria do seu prédio “depois de milhões de e-mails (praticamente me caçando na cidade de São Paulo)”. “Adivinha pra quê? Pra entregar R$...! Bati pino, não achava que ele fosse capaz de uma p… desta. Na ocasião, não desci pra receber nada dele. Fiquei p...Mudei de endereço...Tive paralisia facial (sic)”, escreveu. Paulo faz parte do conselho da Codesp.

O TCU informou, na nota, que a Polícia Federal não está investigando servidores ou autoridades do tribunal. Segundo o órgão, o tribunal oficiou a PF para obter cópia do inquérito policial. Em nota, José Dirceu afirmou que não tem nenhuma relação com o caso.

R$ 300 mil Valor oferecido ao ex-auditor federal Cyonil da Cunha Borges de Farias para produzir um parecer em benefício da Tecondi S/A