Valor econômico, v.20, n.4963, 19/03/2020. Brasil, p. A4

 

Ministério da Saúde vai regular atendimento médico à distância

Matheus Schuch 

Fabio Murakawa 

Rafael Bitencourt 

19/03/2020

 

 

Diante do aumento do número de doentes e mortes pelo coronavírus, o governo federal traçou novas estratégias para minimizar o gargalo no atendimento à população no pico da pandemia. Ontem, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que regulamentará nos próximos dias os serviços de telemedicina, teleatendimento e teleconsulta.

"Faremos controle por algoritmo, deveremos ter ferramenta inovadora para todo o brasileiro ter classificação de risco à distância", ressaltou Mandetta, em entrevista a jornalistas ao lado de Jair Bolsonaro e de outros ministros.

Ontem, os casos confirmados de covid-19 subiram, em 24 horas, de 291 para 428 no Brasil. Quatro mortes decorrentes da doença também foram confirmadas, todas no Estado de São Paulo. Até agora, somente as capitais de São Paulo e Rio de Janeiro contam com casos de transmissão sustentada da doença - quando não é possível identificar a origem e trajetória de infecção pelo vírus.

Numa mensagem de ânimo, o ministro disse que o Sistema Único de Saúde (SUS) está presente em todas as cidades e comunidades brasileiras. "Podemos ter dificuldades, mas o SUS estará ao lado dos 215 milhões de brasileiros", disse. Ele destacou que o país que conseguiu levantar os casos com mais rapidez.

"Tivemos a primeira morte quando já tínhamos praticamente 300 casos confirmados. Sabemos que há muitos casos acontecendo em paralelo que ainda não estão nas estatísticas, devemos começar a perceber uma subida nos casos", disse Mandetta, ressaltando que todos os laboratórios centrais dos Estados estão capacitados para "rodar" exames.

Durante a entrevista, o ministro voltou a criticar a orientação dada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de que todas as pessoas, com ou sem sintomas, deveriam passar pelo teste da coronavírus. "O presidente [da OMS] coloca que todo o planeta deve fazer teste, 100% das pessoas. Do ponto de vista sanitário, é um grande desperdício de recursos preciosos para as nações", destacou, lembrando que nem o Estados Unidos têm kits suficientes para realização dos testes. Mesmo assim, ele disse que o país está trabalhando na produção máxima de kits.

Ao lado do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), o secretário de Vigilância em Saúde da pasta, Wanderson de Oliveira, afirmou que, dos 30 mil testes para covid-19 adquiridos pelo governo federal, 15 mil já foram distribuídos para todo o Brasil. Ele explicou que outros dez mil serão entregues ainda nesta semana.

Oliveira firmou que hoje foi concluído o treinamento nos 27 laboratórios centrais, distribuídos em todos os Estados. Agora, todas as unidades estão aptas a realizar teste para coronavírus. Segundo ele, a rede de laboratórios passa, agora, a funcionar com um sistema automatizado.

"Precisamos ampliar a capacidade de detecção, e este é um dos legados que essa pandemia deixa, em qualificar a vigilância das síndromes respiratórias. O coronavírus é apenas mais um vírus que causa doenças respiratórias. Dessas doenças, 30% têm algum coronavírus envolvido. Então, ele não é uma novidade, ele já circula. São 42 espécies diferentes e sete delas causam doenças em humanos", disse. (Colaboraram Edna Simão, Mariana Ribeiro, Lu Aiko Otta)

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Fechamento de fronteira pode ser ampliado, diz Moro 

Edna Simão

Fabio Murakawa 

Mariana Ribeiro 

Lu Aiko Otta

Matheus Schuch 

Isadora Peron

Juliano Basile 

19/03/2020

 

 

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, afirmou ontem que o Brasil estuda fechar as fronteiras com mais países para conter o avanço da pandemia mundial causada pelo novo coronavírus. A medida já foi tomada em relação à Venezuela.

Ele contou que o presidente Jair Bolsonaro participou de uma reunião, por videoconferência, com presidentes de países do Mercosul para avaliar como colocar em prática essa nova ação. Além do Brasil, fazem parte do grupo Argentina, Paraguai e Uruguai.

"Hoje [ontem] teve uma reunião presidida pelo presidente da República, com os presidentes do Mercosul, nos quais esse tema foi tratado, e está em avaliação dentro do governo federal a possibilidade do fechamento temporário, exclusivamente por medidas sanitárias, da fronteira do Brasil com outros países, nos termos semelhantes a essa medida feita em relação à Venezuela, claro que talvez com circunstância diversas" disse Moro, durante entrevista coletiva no Palácio do Planalto para detalhar medidas de combate ao coronavírus.

Ontem à noite, uma fonte próxima ao ministro afirmou que essa medida continuava "em avaliação".

Em relação à Venezuela, a portaria editada ontem estabelece a proibição da entrada no país, "por rodovias ou meios terrestres, de estrangeiros oriundos da República Bolivariana da Venezuela". A restrição atendeu a uma recomendação técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), já que há um grande fluxo de imigrantes do país vizinho, especialmente em Roraima.

De acordo com Moro, o fechamento da fronteira com a Venezuela ocorreu devido ao "colapso do sistema de saúde pública daquele país".

Nos últimos dias, diversos países da América Latina já tomaram essa medida. A Argentina decretou o fechamento de todas as fronteiras do país por 15 dias e só vai autorizar a entrada de argentinos ou estrangeiros residentes. Já o Uruguai optou pelo fechamento das fronteiras terrestres com o Brasil, nas cidades do Rio Grande do Sul. Ontem, foi a vez de o Paraguai decidir por fechar por 15 dias a Ponte da Amizade, que fica na divisa do país com o Brasil entre as cidades de Foz do Iguaçu (PR) e Ciudad del Leste.