O Estado de São Paulo, n.46172, 17/03/2020. Política, p.A6

 

Janaíana defende renúncia de Bolsonaro

Paula Reverbel

Pedro Venceslau

17/03/2020

 

 

Deputada se diz arrependida de ter votado nele; Reale Jr., outro autor do impeachment de Dilma, pede exame de ‘sanidade' do presidente

A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP), uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma Rousseff e que chegou a ser cotada para ser vice na chapa de Jair Bolsonaro em 2018, criticou ontem a participação do presidente em ato contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, e defendeu sua renúncia. Outro signatário do impeachment da petista, o jurista Miguel Reale Júnior também reprovou o comportamento de Bolsonaro e afirmou que uma junta médica precisa avaliar a sanidade mental do presidente.

No domingo, Bolsonaro ignorou a pandemia do coronavírus, deixou o isolamento recomendado pelos médicos e foi a ato em Brasília. Médicos ouvidos pelo Estado disseram que o presidente errou ao expor manifestantes ao risco de contaminação (caso esteja com o vírus incubado); ao não se proteger e ao ter contato com uma aglomeração que pode incluir pessoas infectadas; e ao não dar o exemplo à população de que a orientação de evitar multidões deve ser levada a sério.

“O que ele (Bolsonaro) fez ontem (domingo) é inadmissível, é injustificável, é indefensável”, disse Janaina durante discurso na Assembleia Legislativa de São Paulo. “Crime contra a saúde pública. Desrespeitou a ordem do seu ministro da Saúde. Esse senhor tem que sair da Presidência da República”, discursou a deputada, que é advogada. “Eu me arrependi do meu voto. As autoridades têm que se unir e pedir para ele se afastar, não temos tempo para um processo de impeachment.”

Segundo ela, “quando as autoridades têm o poder e o dever de tomar providências para evitar um resultado danoso, e assim não procedem, elas respondem por esse resultado”. “Isso é homicídio doloso”, disse. “Como um homem que está possivelmente infectado vai para o meio da multidão?”

Em 2018, Janaina, então apoiadora de Bolsonaro, foi a deputada estadual mais votada da história da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, com mais de 2 milhões de votos.

Na quinta-feira passada, a deputada já havia batido de frente com o governador João Doria (PSDB) por causa do avanço do novo coronavírus – o tucano ainda não tinha suspendido a realização de eventos públicos com mais de 500 pessoas.

Nas redes sociais, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) rebateu a parlamentar. “São 57.796.986 de brasileiros que votaram contra o sistema e a favor de Jair Bolsonaro. A senhora tem todo o direito de se arrepender. Mas nunca se esqueça: a vontade do povo é (e continuará sendo) soberana.”

Exame. Ex-ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso, Reale Jr. disse ao Estado que Bolsonaro deve passar por um teste de sanidade mental. “Seria o caso de submetê-lo a uma junta médica para saber onde está o juízo dele. O Ministério Público pode requerer um exame de sanidade mental para o exercício da profissão. Bolsonaro também está sujeito a medidas administrativas e, eventualmente, criminais. Assumir o risco de expor pessoas a contágio é crime”, afirmou.

Segundo Reale, a participação de Bolsonaro no ato de domingo fere a legislação que regulamenta as ações para enfrentar uma pandemia. O ex-ministro não defendeu, porém, o impeachment do presidente. “É um processo muito doloroso.”

‘Juízo’

“Esse senhor tem que sair da Presidência da República. Deixa o Mourão, que entende de Defesa. Como um homem que está possivelmente infectado vai para o meio da multidão?”

Janaina Paschoal

DEPUTADA ESTADUAL (PSL-SP)

  “Seria o caso de submetê-lo a uma junta médica para saber onde está o juízo dele. Assumir o risco de expor pessoas a contágio é crime.”

Miguel Reale Junior

JURISTA