O Estado de São Paulo, n.46173, 18/03/2020. Metrópole, p.E1

 

SP registra 1° morte do Brasil; vítima estava fora da lista de infectados

Bruno Ribeiro

Fabiana Cambricoli

18/03/2020

 

 

Homem de 62 anos tinha diabete e hipertensão e não havia histórico de viagem ao exterior; outros quatro óbitos registrados na mesma rede hospitalar, na capital paulista, são investigados. Governo estadual estuda ampliar mecanismos de diagnóstico do novo coronavirus

A Secretaria de Saúde de São Paulo confirmou ontem a primeira morte pelo novo coronavírus no País – de um homem de 62 anos, que tinha diabete e hipertensão e sem histórico de viagem ao exterior. Ele morreu anteontem em um hospital privado da capital paulista. O governo informou que o paciente não constava na lista oficial de casos confirmados e, segundo o secretário municipal da Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, nem sequer no balanço de registros suspeitos.

O paciente começou a apresentar os sintomas no dia 10 e procurou o Hospital Sancta Maggiore, no Paraíso, zona sul, no dia 14. De acordo com Pedro Benedito Batista Junior, diretor executivo da Prevent Senior, operadora que administra a rede de hospitais, o paciente chegou à unidade com dificuldade para respirar e febre. “Como ele era diabético e hipertenso, já foi internado”, relatou.

Batista Junior disse que o resultado do teste só saiu ontem porque os laboratórios que realizam o exame estão pedindo prazos cada vez maiores para a análise. “Por causa da alta demanda, estão demorando até sete dias”, declarou.

O secretário Edson Aparecido afirma que o hospital só informou as autoridades sobre o caso depois do óbito, o que contraria uma recomendação do Ministério da Saúde de notificar esses registros em até 24 horas. “Não comunicaram nem a secretaria nem o Ministério da Saúde. Somente hoje (ontem) de manhã, uma pessoa da Prevent Senior ligou para o David Uip (coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus de SP) comunicando o fato e aí nós pedimos a documentação”, afirmou Aparecido.

A falha na comunicação fez com que os contatos próximos do paciente não fossem monitorados. Ao jornal O Globo, um irmão da vítima disse que parentes já apresentaram sintomas, procuraram uma unidade de saúde e não conseguiram fazer o teste de diagnóstico.

Segundo Batista Junior, a notificação do caso não foi feita às autoridades porque, embora o paciente tivesse sintomas compatíveis com um quadro de coronavírus, ele não tinha histórico de viagem nem de contato com um caso suspeito ou confirmado da doença.

O governo do Estado e a operadora Prevent Senior informaram que outros quatro óbitos ocorridos nos hospitais da rede entre anteontem e ontem estão sendo investigados como possíveis casos de coronavírus.

Testes. O Estado admitiu estudar modos de ampliar os centros de diagnóstico para mapear melhor o avanço da doença. Sem exames em massa, medida recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e usada com sucesso por países como a Coreia do Sul, o governo de São Paulo não tem o número exato de pacientes em estado grave (com risco de morte) que estão internados no Estado neste momento.

Há 164 casos confirmados em SP – no Brasil, o total é de 291, em 16 Estados e no Distrito Federal. Destes, 28 estão hospitalizados. O total de suspeitas investigadas é de 8.819.

Até segunda-feira, Uip dizia que a massificação de testes era “ideal”, mas não “real”. Ontem, ele disse que seu grupo de trabalho fará a recomendação ao governador João Doria (PSDB) para ampliação do centro de diagnóstico do Estado.

“O laboratório de saúde público tem de ampliar a sua rede, mas a finalidade dele é ampliar a vigilância para o controle da epidemia. Nós já temos informação suficiente para ver que a epidemia está subindo rapidamente, os números crescem a cada dia”, disse Paulo Menezes, coordenador do Centro de Doenças (CCD) de São Paulo.

Anteontem, o Ministério da Saúde já havia sinalizado a possibilidade de ampliar os exames, embora sem ações concretas. Ontem, a pasta afirmou que estuda criar hospitais de campanha e converter escolas em centros de atendimento para atender à demanda. Segundo o ministro, Luiz Henrique Mandetta, os meses de abril, maio e junho serão de “muito estresse” em relação ao surto. / COLABORARAM PEDRO CARAMURU e DANIEL GALVÃO

Mais testes

O governo estuda uma chamada pública para empresas com tecnologias desenvolvidas para exames. "Conseguimos produzir na Fiocruz, mas estamos vendo como adotar outras estruturas”, disse João Gabbardo.