O globo, n. 31642, 25/03/2020. Especial Coronavírus, p. 15

 

Após crise, Bolsonaro e Xi Jinping conversam

Eliana Oliveira

Naiara Trindade

25/03/2020

 

 

Brasileiro diz que foram reafirmados ‘laços de amizade’; chinês propôs cooperação no combate à pandemia

 Após uma crise provocada por postagens do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) no Twitter, afirmando que a pandemia de coronavírus foi culpa do regime comunista chinês, o gelo foi quebrado ontem com uma conversa telefônica entre os presidentes do Brasil e da China, Jair Bolsonaro e Xi Jinping. A informação foi divulgada na rede social pela própria embaixada do país asiático.

De acordo coma embaixada, os dois mandatários conversaram“para trocar opiniões importantes sobre temas de interesse comum ”.

Uma alta fonte diplomática que presenciou a conversa telefônica afirmou que não se falou na crise que abalou as relações bilaterais na semana passada. Xi Jinping tomou a iniciativa de telefonar para Bolsonaro e ambos, segundo a Embaixada da China, trataram de uma agenda positiva: cooperação no combate ao coronavírus, manutenção dos fluxos comerciais, importância da coordenação mundial para vencera pandemia em antera atividade econômica e reafirmação da amizade entre os países.

Segundo a mesma fonte, a ligação comprovou que as relações entre Brasil e China seguem amistosas. Não se sabe, porém, se houve pedido de desculpas de uma das partes pelo ocorrido.

Ministros que acompanharam a conversa avaliaram que o clima tenso“distensionou” eque os países “continuam a parceria comercial”. Na quarta-feira da semana passada, antes do comentário do filho do presidente, a ministra Tereza Cristina havia aberto diálogo coma Chi napa raque aquele país volte a comprar excedentes brasileiros.

Por meio das redes sociais, Bolsonaro afirmou que Brasil e China “reafirmaram seus laços de amizade”, trocaram informações e ações sobre o combate à Covid-19 e debateram a ampliação dos laços comerciais.

Desde que o filho do presidente da República publicou as afirmações consideradas ofensivas por Pequim, na última quarta-feira, as relações bilaterais azedaram. Na quinta-feira, em comunicado, o embaixador da China, Yang Wanming, exigiu um pedido de desculpas de Eduardo Bolsonaro, por considerar que suas declarações teriam “ofendido a honra do povo chinês”.

Em seguida e no mesmo dia, o chanceler Ernesto Araújo deixou claro que a questão envolvendo o parlamentar só seria resolvida se o embaixador se “retratasse” perante o presidente. Isto porque Yang Wanming compartilhou uma postagem atacando a família Bolsonaro. O retuíte, porém, foi desfeito.

A conversa entre os dois presidentes foi acompanhada pelo chanceler Ernesto Araújo, pelos ministros da Agricultura e do Meio Ambiente, Tereza Cristina e Ricardo Salles, e pelo chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência, almirante Flavio Rocha. Ele foi nomeado há pouco mais de um mês e despacha no Palácio do Planalto. Segundo o embaixador da China, Bolsonaro e Xi Jiping destacaram a importância do G20 —grupo formado pelas 20 maiores economias do mundo — no combate à doença.