Correio braziliense, n. 20768 , 02/04/2020. Economia, p.9

 

Petrobrás se ajusta à economia parada

Simone Kafruni

02/04/2020

 

 

Com a disseminação da Covid-19 pelo país, estatal reduz a produção diária de petróleo, altera funcionamento de refinarias e mexerá até nas remunerações e nos turnos de serviço

A combinação de forte contração da demanda global por combustíveis, excesso de oferta de óleo e queda de preços no mercado internacional colocou o setor petroleiro em xeque. Para se adequar ao momento que chama de “a pior crise da indústria do petróleo nos últimos 100 anos”, a Petrobras anunciou, ontem, novas medidas capazes de assegurar a sustentabilidade da companhia. Decidiu reduzir ainda mais a produção de barris diários, postergar desembolsos de caixa e promover um enxugamento mais severo nos custos, que inclui corte nos salários dos funcionários.

O presidente Roberto Castello Branco chegou a afirmar que está preparando a estatal para um cenário de barril de petróleo a US$ 25. No entanto, a forte retração na demanda e a guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita levaram o valor do barril a menos de US$ 20 pela primeira vez, desde fevereiro de 2002, o que provocou novos ajustes na Petrobras.

Desde ontem, a produção de petróleo passa a sofrer corte de 200 mil barris diários, volume que inclui a redução anunciada em 26 de março, de 100 mil barris diários. Para decidir quais campos de exploração terão a produção diminuída, a Petrobras levará em consideração condições mercadológicas e operacionais. “A duração da restrição, assim como potenciais aumentos ou diminuições, será continuamente avaliada”, explicou.

A companhia também está ajustando o processamento de suas refinarias conforme a demanda por combustíveis. Como parte das ações destinadas a promover o corte anunciado de US$ 2 bilhões de gastos operacionais em 2020, foram tomadas decisões para poupar aproximadamente R$ 700 milhões em despesas com pessoal. A empresa vai postergar o pagamento, entre 10% a 30%, da remuneração mensal de empregados com função gratificada, como gerentes, coordenadores, consultores e supervisores.

Além disso, adotou mudanças temporárias de regimes de turno e de sobreaviso de cerca de 3,2 mil empregados, mais alterações na jornada de trabalho, com redução de 8 horas para 6 horas para aproximadamente 21 mil empregados. A Transpetro, subsidiária que cuida da parte de transnporte de petróleo e derivados, também aprovou plano de resiliência, que consiste em medidas para reduzir a estrutura de custos, tanto de gastos operacionais quanto de investimentos, postergando ou otimizando desembolsos, no valor de R$ 507 milhões em 2020.

Na semana passada, a Petrobras tinha anunciado o adiamento, para 15 de dezembro, do pagamento de dividendos, no valor de R$ 1,7 bilhão, e redução de gastos com recursos humanos em R$ 2,4 bilhões, postergação do pagamento do Programa de Prêmio por Performance 2019 e das horas-extras. Ontem, a petroleira reforçou que “segue monitorando o mercado e, em caso de necessidade, realizará novos ajustes”.

Já a BR Distribuidora, que tem a Petrobras como principal acionista, comunicou aos fornecedores e parceiros que precisa distribuir os volumes contratados de acordo com as demandas e necessidades do mercado, dialogando com cada um. “A decisão considerou o cenário atípico, fazendo com que a companhia identificasse a necessidade de flexibilizar o percentual de variação de volume assegurado em contrato até que todo o mercado se normalize”, explicou. Paralelamente, a distribuidora também tomou algumas medidas junto à sua revenda, prorrogando o prazo para cumprimento do volume contratado.

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Aeroporto de Brasíliaterá apenas 21 voos diários

02/04/2020

 

 

Com a drástica redução na movimentação aeroportuária, devido às medidas de restrição impostas pelo combate à disseminação da Covid-19, o Aeroporto de Brasília passa a operar por dia o que fazia em menos de 30 minutos. Em abril, o terminal receberá apenas uma média de 21 pousos e decolagens diários –– em condições normais, movimenta, em média, 380 voos diários. Por causa da pandemia, o terminal, que tem capacidade para operar um voo a cada 56 segundos, receberá, ao longo de um dia inteiro, o total de voos que teria condições para receber em menos de 30 minutos.

Os 21 voos remanescentes representam uma redução de mais de 90% no fluxo do terceiro maior aeroporto do país em movimentação de passageiros. As chegadas e partidas que continuarão a operar são relativas a apenas os trechos domésticos. Desde 25 de março, os voos internacionais regulares no terminal foram completamente suspensos e não há previsão para que sejam retomados.

O Aeroporto de Brasília é o centro de conexão do país, ligando a capital a 43 destinos domésticos e nove internacionais. Com a brusca redução, a oferta de voos é limitada a 16 cidades, para as regiões Sudeste, Nordeste e Norte do Brasil, de acordo com a Inframerica, concessionária que administra o complexo.

Por conta da redução, houve fechamento de uma das alas de embarque, a que comporta os portões de 1 a 14. A Inframerica ainda estuda a suspensão das operações de uma das pistas de pousos e decolagens. “A medida tem por objetivo otimizar a utilização da infraestrutura aeroportuária durante o período de pandemia e mitigar os efeitos econômicos da crise causada pela Covid-19”, explicou a concessionária, por meio da assessoria de comunicação.

Com isso, muitas lojas do terminal brasiliense encontram-se fechadas temporariamente. Mas, ainda é possível encontrar serviços essenciais, como farmácia e lanchonetes, principalmente nas salas de embarque. A aviação civil foi o primeiro setor a sentir os efeitos da pandemia e poderá ser um dos últimos a sair da crise.

Avisos sonoros

Um estudo publicado pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) mostrou que, em 2015, a produção do setor do transporte aéreo representou 11% do total da produção do Distrito Federal, com a geração de 737 mil empregos diretos, indiretos e catalisados; o pagamento de R$ 6,5 bilhões em salários nos mais diversos setores da economia local; e o recolhimento de R$ 2,7 bilhões em impostos e taxas. Representa que o DF é a unidade da Federação com maior impacto do modal aéreo sobre a economia local.

Além da queda na movimentação, a rotina no Aeroporto de Brasília mudou. Agora, funcionários do atendimento ao cliente usam máscaras e luvas, e os colaboradores cujas atividades podem ser desenvolvidas fora do terminal estão trabalhando em regime home office. Telas informativas e avisos sonoros alertam sobre os riscos da Covid-19 e as formas de se prevenir. Nos banheiros, comunicados instruem como lavar bem as mãos, e nos elevadores novas regras pedem ocupação máxima de três pessoas.

No chão, adesivos alertam para a necessidade de se manter um distanciamento de 2 metros entre as pessoas. Há dispensadores de álcool em gel nas áreas de grande circulação de trabalhadores. A equipe de limpeza intensificou a higienização de balcões de check-in, corrimãos, escadas e esteiras rolantes, totens de autoatendimento, e a reposição de sabonete nos 33 banheiros do aeroporto.

Os bombeiros militares do Distrito Federal e o GDF estão realizando triagens e medições de temperatura de passageiros que desembarcam. A ação acontece diariamente na saída dos voos domésticos. (SK)

43 destinos

é a quantidade de ligações, entre cidades do Brasil e do exterior, realizada pelo JK, que é o principal centro de conexão aérea do país