Título: De colônias a salvadoras
Autor: Cavalcanti, Leonardo
Fonte: Correio Braziliense, 16/11/2012, Economia, p. 8
Em séculos passados, a cidade portuária de Cádiz teve papel destacado no comércio entre a Espanha e as colônias na América Latina, com mercadores e aventureiros trazendo tesouros ao país europeu, vindos das minas e das plantações do império. Nas décadas mais recentes, os empresários espanhóis e portugueses visitaram a região novamente, como parte de uma onda de investimentos que chegou a ser chamada de "a reconquista".
No entanto, os dirigentes reunidos em Cádiz para a Cúpula Ibero-Americana de hoje e amanhã se deparam com relações que mudaram profundamente nos últimos anos. As ex-colônias poderiam ter a chave de salvação da antiga metrópole. As economias da Espanha e de Portugal praticamente naufragaram em meio à crise na Zona do Euro. Ambas precisam de ajuda externa para manter-se flutuando e seus cidadãos saem às ruas para protestar contra as medidas de austeridade e a perda de empregos. Determinar um novo rumo econômico e explorar novas oportunidades de comércio e investimentos nestes tempos difíceis serão os principais objetivos desse encontro em Cádiz.
"Antes, Espanha e Portugal decidiam a agenda", afirmou à Reuters Ramón Pacheco Pardo, especialista em estudos sobre Espanha, Portugal e América Latina no King"s College, em Londres. "Agora, a relação tem mais a ver com a economia, com a necessidade. Espanha e Portugal realmente necessitam desses mercados. É também uma oportunidade para se sentar com países que sabem o que é atravessar uma crise econômica", acrescentou.
A profundidade do desespero dos cidadãos espanhóis e portugueses ficou evidente nos últimos dias. Milhões de pessoas saíram às ruas nos dois países, e em outras partes da Europa, contra os cortes de despesas sociais, nas pensões e nos empregos públicos. Uma mulher se suicidou em Bilbao na semana passada, quando estava prestes a ser despejada de sua casa, fato que abalou o país e deu lugar a uma reavaliação da política dos bancos.
As empresas espanholas também dependem em grande medida de suas operações na América Latina para compensar seus débeis resultados no mercado doméstico. O grupo Telefônica informou, na semana passada, que a região reverteu um prejuízo em lucro, ao contribuir com 49% de sua receita, compensando a contração de seus negócios na Espanha. Já o banco Santander obtém mais de 50% de seus ganhos na região, particularmente no Brasil.
As cúpulas anteriores foram com frequência dominadas por líderes fortes, como Fidel Castro, de Cuba, ou Hugo Chávez, da Venezuela, o que entreteve os participantes, mas não ofereceu nada a mais. Nenhum dos dois estará presente desta vez. E, sem dúvida, a figura mais importante da região será a presidente do Brasil, Dilma Rousseff.