Correio braziliense, n. 20770 , 04/04/2020. Cidades, p.17

 

DF é exemplo de isolamento

Alan Rios

04/04/2020

 

 

COVID-19 » Relatório mundial da Google analisou localização dos aparelhos móveis nos últimos dois meses e concluiu que percentual de moradores do DF que fica em casa é um dos maiores do Brasil, junto a Rio Grande do Sul e Santa Catarina

A pandemia do coronavírus, que contaminou mais de 972 mil pessoas no mundo segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), tem exigido mudanças na rotina das pessoas, como o isolamento domiciliar. Para especialistas, essa é uma alternativa eficaz para controlar novos casos e conter a sobrecarga aos sistemas de saúde. Observando este novo cenário, a Google divulgou um relatório internacional sobre o distanciamento social relacionado à Covid-19, que mostra percentuais de aumento de fluxo de pessoas nos lares e diminuição de deslocamentos a locais de trabalho e lazer, por exemplo. Na pesquisa do Brasil, o Distrito Federal aparece como uma das três unidades da federação que mais respeitam o isolamento domiciliar.

O Covid-19 Community Mobility Report analisou a localização dos aparelhos móveis — logados com uma conta Google e com permissão de acesso ao GPS — nos últimos dois meses. O estudo segmentou diferentes países, estados e atividades, mostrando a queda do fluxo a estabelecimentos de lazer e locais de trabalho, por exemplo, e o aumento da permanência em casa. De acordo com a avaliação, o número de pessoas que tem ficado nas residências cresceu 20% no DF, o maior percentual do país junto ao Rio Grande do Sul e a Santa Catarina. O crescimento nacional foi de 17%. O percentual da população que se desloca para o trabalho caiu 36% na capital, contra a média do país de 34%. Por outro lado, a média do fluxo de pessoas em paradas de ônibus e estações de metrô caiu mais no Brasil (62%) do que no DF (56%).

No relatório, a Google informa que "as informações são criadas com um conjunto de dados anônimos de usuários que ativaram a localização, que é desativada por padrão". A empresa também ressalta que ouviu de autoridades de saúde pública que esse tipo de dado agregado pode ser útil para a tomada de decisões críticas no combate à Covid-19.

Os locais que mais tiveram registro de queda de deslocamento no DF foram os estabelecimentos categorizados como de recreação, como restaurantes, cafés, shoppings, parques temáticos, museus, bibliotecas e cinemas. Houve uma queda de 68% de locomoção a esses lugares. No dia 19 de maio, o governador Ibaneis Rocha (MDB) determinou a suspensão de eventos, o fechamento de bares, boates e comércios semelhantes. Apesar dos mercados permanecerem abertos, por se tratar de um serviço considerado essencial, o fluxo nesses estabelecimentos caiu em 29% na capital.

 Prevenção
Gustavo Henrique Gomes, 24 anos, foi um dos brasilienses que aproveitou para comprar um pouco mais do que o que costumava para evitar deslocamentos diários ao supermercado. "Compramos alimentos e outros produtos para durar um bom tempo, assim não precisamos sair. Acho importante ficar em casa mesmo sendo jovem, porque tenho a consciência de que o coronavírus poderia me trazer malefícios, e eu também poderia contaminar meus pais, por exemplo", conta o advogado. No tempo livre, ele aproveita para tocar projetos que estavam parados e se distrair com filmes e séries.

Para a Sociedade de Infectologia do DF, o isolamento é, hoje, a melhor opção de combate à Covid-19, como explica o vice-presidente Alexandre Cunha. "O distanciamento social é a única medida que temos no momento contra o vírus, porque não temos vacina ou tratamento. Sem o isolamento, teríamos um grande número de infectados simultaneamente. Mesmo que sejam pacientes jovens, isso será suficiente para ocupar leitos de hospitais. Por outro lado, os idosos continuam tendo os problemas de saúde deles, e precisam ter atendimento em unidades de saúde, que podem ficar sem leitos", explica.

Alexandre ainda critica a visão de quem subestima a doença. "Essa argumentação de que não precisa tudo isso porque são poucos casos, não faz sentido. Nós temos poucos casos justamente por conta dessa estratégia de distanciamento social. A gente está observando uma ascensão gradual no número de casos, mas não é explosiva, graças a essas medidas", conclui.

 Comparativo
Cenários do Brasil e do DF de queda ou aumento de frequência aos locais citados:

 Recreação e lazer
- 71% no Brasil / - 68% no DF

 Supermercados e drogarias
- 35% no Brasil / - 28% no DF

 Parques
- 70% no Brasil / - 63% no DF

 Estações e paradas de metrôs e ônibus
- 62% no Brasil / - 56 % no DF

 Locais de trabalho
- 34% no Brasil / - 36% no DF

 Casa
+ 17% no Brasil / 20% no DF