Correio braziliense, n. 20771 , 05/04/2020. Economia, p.10
17 milhões de desempregados
Marina Barbosa
05/04/2020
Cálculo do Ibre aponta que a taxa subirá de 11,6% para 16,1% no segundo trimestre. Isso significa que 5 milhões de pessoas vão perder seus postos de trabalho em apenas três meses, chegando ao maior contingente da história
O garçom José Roberto Lima, de 28 anos, não sabe se terá emprego depois de amanhã. É que o restaurante em que ele trabalha já demitiu 10 pessoas e antecipou as férias de vários outros empregados desde o início da pandemia do novo coronavírus. E, ainda assim, convocou para amanhã uma nova reunião de funcionários. “A gente não pode ficar parado, mas, com a doença, não tem jeito. Não pode se arriscar”, diz o garçom, que admite estar com medo de ser demitido.
O jovem trabalhador de Sol Nascente, contudo, não é o único brasileiro que está preocupado em perder o emprego. Afinal, a Covid-19 abalou o sistema de saúde, mas também bateu forte na economia brasileira. Economistas calculam que o Produto Interno Bruto (PIB) nacional pode cair até 4,4% neste ano. E lembram que esse baque vai afetar diretamente o mercado de trabalho brasileiro, que já não andava bem. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre) calcula que a taxa de desemprego do Brasil pode pular dos atuais 11,6% para 16,1% já neste trimestre. Isso significa que 5 milhões de pessoas podem entrar na fila do desemprego em apenas três meses, elevando de 12,3 milhões para 17 milhões o número de pessoas sem trabalho no Brasil.
Se confirmada, essa previsão levará o mercado de trabalho brasileiro ao pior momento da série histórica, pois, nem no auge da recessçai de 2015 e 2016 tanta gente ficou sem emprego. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o recorde foi registrado em março de 2017, quando a taxa de desocupação bateu 13,7%, com 14,1 milhões de brasileiros sem trabalho. “É de se esperar que tenhamos a maior taxa de desemprego da história, porque, por mais que o governo tente ajudar e que haja uma expansão do crédito, nem todas as empresas conseguirão manter suas atividades nesse quadro de paralisia da economia. Há muitos custos fixos para as empresas”, explica o pesquisador da área de Economia Aplicada do Ibre, Daniel Duque.
Empresários admitem que a perda de receita causada por esse momento de pandemia vai levar ao fechamento de inúmeros postos de trabalho, mesmo depois das medidas de socorro anunciadas pelo governo federal. Afinal, milhões de negócios precisaram fechar as portas por conta da necessidade de isolamento social e, por isso, tiveram uma queda de quase 100% da receita. Alguns dizem que as demissões já começaram. O setor de bares e restaurantes, justamente o que José Roberto trabalha, por exemplo, calcula 150 mil desligamentos no país. Mas analistas alertam que é só o começo.
O Ibre calcula que a taxa de desemprego brasileira, que já subiu de 11,2% para 11,6% no trimestre encerrado em fevereiro, antes da pandemia, pode subir para 12,9% em março, diante do primeiro choque da crise do coronavírus. Isso elevaria de 12,3 milhões para 13,6 milhões o número de desempregados em apenas um mês. Mas, como a paralisação de boa parte dos negócios brasileiros vai se estender por abril, o Ibre calcula a taxa em 16,1% no segundo trimestre, com 17 milhões de desempregados.
Passada a necessidade de isolamento social, o instituto acredita que haverá certo nível de recontratações. Por isso, espera que a taxa de desemprego caia para 15,7% no terceiro trimestre e para 14,7% no fim do ano. A projeção coincide com os cálculos de outras instituições financeiras.