Título: Classe média espanhola encolhe
Autor: Cavalcanti, Leonardo
Fonte: Correio Braziliense, 17/11/2012, Economia, p. 12

Cádiz (Espanha) — Há uma profusão de discursos otimistas na Cúpula Ibero-americana de Chefes de Estado, iniciada ontem a 650km de Madri, mas os porta-vozes do encontro conseguem ser pouco ou nada convincentes frente à recessão econômica, aos altos índices de desemprego e ao aumento dos impostos na Zona do Euro.

Ontem, o anúncio de outro número negativo abalou ainda mais a confiança dos espanhóis. No país, desde 2007, mais de dois milhões de pessoas foram empurradas para a precariedade, estabelecida em núcleos familiares com salários inferiores a 12 mil euros por ano — cerca de R$ 2.500 por mês. Os dados foram apresentados no informe “Adeus classe média”, elaborado pelo sindicato dos técnicos do Ministério da Fazenda da Espanha. Os números e os protestos desta semana apenas confirmam a crise que atormenta o mundo.

Na abertura dos trabalhos da cúpula, os principais atores técnicos do evento destacaram a necessidade de investir nas pequenas e médias empresas, que são 99% das firmas latinas mas apenas 20% do Produto Interno Bruto (PIB) da região, e encontrar saídas para a crise. A intenção é criar um fundo específico para apoiar essas companhias ibero-americanas e qualificar empregados para internacionalizar suas atividades. Até o fim do evento, ações mais práticas devem ser divulgada.

A mexicana Alicia Bárcena, secretária executiva da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), afirmou que apenas medidas sociais não são suficientes para tirar a Zona do Euro das dificuldades em que se encontra. “Precisamos investir e capacitar as pequenas e médias empresas”", disse ela. “A única forma de diminuir a brecha entre ricos e pobres, entre os que têm e não têm, é uma mudança estrutural”, completou Alicia, reforçando que a América Latina, mesmo com todos os avanços dos últimos anos, quando reduziu a pobreza de 48% para 30% da população, continua sendo a região mais desigual do mundo.

O secretário geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), Angel Gurría, foi além. Ele assinalou que, a despeito do importante crescimento econômico da América Latina, que deve superar 3% neste ano e alcançar 4% em 2013, “não há lugar para a complacência”. A seu ver, “a região enfrenta importantes desafios para o desenvolvimento a longo prazo, como a menor demanda externa e a excessiva dependência da exportação de recursos naturais, em vez de se voltar para a manufatura, os serviços, um maior valor agregado e um conteúdo de conhecimento”. (LC)

Moratória para despejos O governo espanhol anunciou na quinta-feira medidas que protegem famílias sob risco de despejo, um crescente problema social em meio à crise econômica do país — há, até mesmo, casos de suicídio de pessoas prestes a ter de deixar os imóveis. Estão suspensos por dois anos os despejos de mutuários inadimplentes em situação vulnerável, que inclui famílias com filhos pequenos, deficientes e desempregados crônicos. A moratória nos despejos só valerá para famílias com renda inferior a 19.200 euros por ano. “É uma resposta emergencial para mitigar os efeitos do pior da crise econômica”, disse a vice-primeira-ministra Soraya Saenz de Santamaría. A Associação Espanhola de Bancos declarou que seus associados compreendem a necessidade de adotar a medida, e garantiu que os custos recairão apenas sobre as instituições financeiras.