Título: Especulação encarece gasolina
Autor: Ribas, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 17/11/2012, Economia, p. 15

Casos isolados de escassez começam a afetar inflação. Expectativa é que Petrobras também tenha de fazer reajustes

Além de assegurar aos consumidores que não faltará combustível para os seus veículos nos próximos meses, o governo também terá de impedir que episódios isolados de escassez contaminem índices de inflação. De acordo com analistas, mesmo sem um choque explícito entre a apertada capacidade de oferta de refino da Petrobras e a crescente demanda da frota doméstica, a simples percepção de risco já começa a alimentar especulações no varejo, algumas capturadas pelos índices de preços.

“Protestos recentes de clientes em postos de Curitiba contra uma variação das tabelas da gasolina, que este mês beira a 10%, sinalizam movimentos que, mais tarde, podem se refletir nos indicadores oficiais de inflação”, analisa o economista Wagner Alves, da gestora de recursos Franklin Templeton. Ele lembra que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência para o Banco Central (BC), absorveu a oscilação atípica verificada em Salvador no mês passado.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o litro do combustível passou de uma queda de 0,13% em setembro para uma alta de 0,75% em outubro, contribuindo para a aceleração no grupo Transportes, de -0,08% para 0,24% no período. Os postos de gasolina da região metropolitana de Salvador aumentaram seus preços no dia 10 de outubro, chegando a 9,15% na média. Bastou um posto subir para quase todos os demais acompanharem.

Embora os distribuidores das capitais baiana e paranaense aleguem que os seus reajustes inesperados se deveram a aumentos de custos, Alves vê ensaios de cartel. “A Agência Nacional de Petróleo (ANP) e a Petrobras admitem apenas problemas de fornecimento no Nordeste, mas as situações mais expressivas de falta de gasolina ocorreram em outras regiões (Sul e Norte)”, observou.

Pressão Em reforço às especulações de desabastecimento está a perspectiva, reiterada pela própria diretoria da Petrobras esta semana, de aumento da gasolina e do diesel, para reduzir a defasagem em relação aos preços internacionais, entre 25% e 30%. Para piorar, o conflito entre o Hamas e Israel, entre outros no Oriente Médio, deverá pressionar ainda mais o preço do petróleo e o caixa da Petrobras.

Só nos nove primeiros meses do ano, a estatal amargou deficit de R$ 14,6 bilhões entre os valores que paga pelos produtos no exterior e os de venda no mercado doméstico, conforme cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). A expectativa é de que a Petrobras tenha que adquirir mais gasolina e diesel no fim de ano para garantir a oferta. Além disso, terá de importar petróleo mais leve, diferente do que extrai no país, para produzir combustíveis.

Em resposta, a ANP ressaltou que não intervém diretamente no mercado, apenas realiza sondagens e publica levantamento semanal dos valores médios praticados. No mês passado, o órgão percebeu em 15 municípios baixa diferença de preços e promete aprofundar análises nesses locais a fim de “avaliar a existência de indícios” de cartel.