Correio braziliense, n. 20774 , 08/04/2020. Mundo, p.12

 

Apelo aos ricos

08/04/2020

 

 

Manifesto assinado por ex-líderes de 70 nações e por personalidades influentes da comunidade internacional insta os países do bloco do G20 a formularem resposta global coordenada às crises sanitária e econômica provocadas pela pandemia do novo coronavírus

Os remetentes da carta são 165 ex-chefes de Estado e de governo de 70 países, além de ativistas e personalidades dos campos da economia e das relações internacionais. Os destinatários, os líderes do G20, o grupo formado pelas 19 maiores economias do planeta e a União Europeia. O teor e o objetivo da carta: exigir uma resposta global coordenada às crises sanitária e econômica provocadas pela pandemia do novo coronavírus. “A emergência econômica não será resolvida até que a emergência de saúde seja efetivamente abordada, e isso requer uma liderança global coordenada agora”, afirmam os signatários — entre eles o ex-secretário-geral da ONU Ban Ki-moon; os ex-presidentes da Comissão Europeia José Manuel Barroso e Romano Prodi; os ex-premiês John Major, Tony Blair e Gordon Brown (Reino Unido), e Felipe González e José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha); os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (Brasil), Ricardo Lagos (Chile) e Juan Manuel Santos (Colômbia); Malala Yousafzai e Kailash Satyarthi (ambos laureados com o Nobel da Paz) e Joseph Stiglitz (Nobel de Economia).

Apesar de admitirem que a Cúpula Extraordinária de Líderes do G20, celebrada em 26 de março passado, reconheceu a gravidade e a urgência da situação das crises da saúde pública e econômica entrelaçadas, os signatários “exigem medidas específicas urgentes que podem ser acordadas em rapidez e escala: apoio de emergência a iniciativas globais lideradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e medidas emergenciais para restaurar a economia global”.

A carta exorta a formação de uma força-tarefa do G20 para coordenar o apoio internacional na mitigação dos efeitos da pandemia e a realização de uma conferência internacional para assegurar tal suporte. “Todos os sistemas e sociedades de assistência médica, mesmo os mais sofisticados e melhor financiados, cedem à tensão provocada pelo coronavírus. Se não fizermos nada, à medida em que a doença se propaga por cidades pobres da África, da Ásia e da América Latina, e em comunidades frágeis e com muito poucos equipamentos para realizar testes e respiradores (…), o coronavírus persistirá nessas zonas e reaparecerá para atacar o resto do mundo, com novos surtos que prolongarão a crise”, afirmam os signatários.

Doação

Para os signatários, a única forma de encerrar a crise é fazer o que a comunidade internacional omitiu por anos: financiar as agências de saúde pública, científicas e ecômicas. “Os líderes mundiais deveriam  imediatamente concordar com um compromisso inicial de US$ 8 bilhões — US$ 1 bilhão para que a OMS continue com o seu trabalho vital durante 2020 e o restante para apoiar a Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias, a fim de coordenar esforços para desenvolver, fabricar e distribuir testes de diagnóstico eficazes, tratamentos e vacinas (veja o teor da carta)”, acrescenta o manifesto, segundo o qual “esses avanços, com acesso equitativo a todos os países, são vitais para acabar com essa pandemia e impedir futuras tragédias”.

A preocupação maior é com os países da Ásia e da África — nos quais, respectivamente, um estudo do Imperial College estima 900 mil e 300 mil mortes. “Os países mais pobres precisam de assistência econômica especial. A comunidade internacional deveria começar a perdoar as dívidas dos países em desenvolvimento este ano, incluindo US$ 44 bilhões da África. Mas a realidade é que pelo menos US$ 150 bilhões em novos recursos serão necessários para proteger economias em desenvolvimento”, sustenta o manifesto, que sugere ao Banco Mundial ampliar o apoio aos países ao atingirem o seu teto de empréstimos. Os signatários lembram que, em 2009, durante a Grande Recessão, os gastos do Banco Mundial passaram US$ 16 bilhões para US$ 46 bilhões e recomendam uma expansão semelhante dos recursos para fazer frente à crise provocada pelo novo coronavírus. Eles também sugerem que o Fundo Monetário Internacional (FMI) firme acordos com os principais bancos centrais para viabilizar as reservas.

» O teor da carta

As principais reivindicações expressas na carta ao G20

Medidas de saúde global

» Os signatários da carta defendem que os líderes mundiais concordem imediatamente em comprometer US$ 8 bilhões para preencher as lacunas mais urgentes na resposta à Covid-19.

O valor inclui

» US$ 1 bilhão para a Organização Mundial de Saúde

» US$ 3 bilhões para vacinas

» US$ 2,25 bilhões para tratamentos

Medidas de economia global

» Para prevenir que uma crise de liquidez se transforme em crise de insolvência, e uma recessão global se torne depressão global, os signatários pedem iniciativas antiprotecionistas, fiscais, monetárias e de bancos centrais mais bem coordenadas.

Perdão de dívidas

» Os signatários pedem o perdão da dívida de países mais pobres, incluindo US$ 44 bilhões devidos pela África. Também recomendam o investimento de US$ 150 bilhões para que nações africanas e emergentes utilizem em urgências sanitárias, em redes de seguridade social, entre outros fins.