Título: Costa Neto diz viver um verdadeiro inferno
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 29/11/2012, Política, p. 4

Recém-condenado no mensalão, deputado do PR é indiciado em novo escândalo e pode voltar ao banco dos réus no Supremo

A Operação Porto Seguro chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) com o desmembramento da ação para investigar os deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Sandro Mabel (PMDB-GO). A Polícia Federal identificou 1.179 ligações entre Valdemar e o diretor afastado da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira, preso desde a última sexta-feira. "O Paulinho é meu amigo de longa data, é triste isso que estão fazendo", lamentou Valdemar, ao Correio. No caso de Mabel, não foi divulgada a relação que ele teria com o indiciado na operação da PF.

Valdemar Costa Neto acaba de ser condenado a sete anos e 10 meses no julgamento do mensalão, além do pagamento de multa de R$ 1,08 milhão. "Estou vivendo uma tortura chinesa, um verdadeiro inferno. O julgamento do STF foi uma tragédia", disse o deputado. Ele foi acusado de receber, entre 2003 e 2004, R$ 8,8 milhões do mensalão para votar a favor dos interesses do governo. Segundo a acusação da Procuradoria Geral da República, ele recebeu a propina por meio da empresa Guaranhuns, usada para dissimular a origem dos recursos, e do Banco Rural. Acabou renunciando ao mandato, em 2005, para escapar da cassação, mas foi eleito no ano seguinte. Agora, na semana após ser condenado no STF pelo mensalão, corre o risco de voltar ao banco dos réus caso o Supremo aceite a denúncia — que compete à Procuradoria-Geral da República — referente à Operação Porto Seguro.

A liderança de Valdemar no partido também está sendo questionada. Setores da legenda defendem que ele renuncie à Secretaria-Geral do PR, principalmente após a condenação pelo STF. O caminho havia sido aberto quando ele indicou o senador Antônio Carlos Rodrigues (PR-SP) para ser adjunto na função. "A promessa é que ele renunciaria caso fosse condenado. Estamos esperando", declarou o senador Cidinho Santos (PR-MT), suplente de Blairo Maggi (PR-MT).

Espaço perdido Valdemar, que já perdeu espaço no governo após a exoneração de Alfredo Nascimento (PR-AM) do Ministério dos Transportes, admite que o momento não é favorável. O PR reconhece que perdeu o controle sobre a pasta com a efetivação de Paulo Sérgio Passos. Com trânsito em diversas legendas, inclusive as da oposição, Passos também tem prestígio com a presidente Dilma Rousseff. "Ele soube aproveitar o poder dado a ele pelo Planalto", diz, em tom de crítica, um desafeto do atual ministro.

Já Mabel, que deixou o PR e filiou-se ao PMDB justamente por considerar-se perseguido por Valdemar, atribuiu ao ex-correligionário as suspeitas de ter envolvimento com Paulo Vieira. "Eu era líder do PR em 2009 e o Valdemar me pediu para apoiar a indicação do Paulo para a ANA. Eu apenas defendi o nome dele na bancada", disse o parlamentar. Mabel afirma que, naquela época, pode ter trocado alguns telefonemas com o hoje indiciado Paulo Vieira, mas nega que tenha qualquer relação pessoal com o diretor afastado. "Tanto que eu nem fui na posse", apressou-se a dizer.

Durante o escândalo do mensalão no Congresso, Mabel chegou a ser investigado pelos parlamentares, sob a acusação de ter oferecido dinheiro à deputada Raquel Teixeira (GO), para que ela deixasse o PSDB para se filiar ao PL (hoje PR). No entanto, ele acabou sendo absolvido pelos deputados e sequer foi indiciado pelo Ministério Público no processo que tramita no STF. Da mesma forma, agora, Mabel alega inocência: "Eu só tive contato com o Paulo Vieira antes da posse. Os problemas ocorreram depois que ele assumiu o cargo".