O Estado de São Paulo, n.46176, 21/03/2020. Política, p.A8

 

Senado faz 1ª sessão virtual da história

Daniel Weterman

Camila Turtelli

21/03/2020

 

 

Online. Sessão deliberativa remota do Senado, que votou decreto de calamidade para ações de combate ao coronavírus

“Bom dia, senador (Antonio) Anastasia (PSD-MG), eu estou parada na estrada à beira de um posto de gasolina, indo de Brasília para Palmas de carro pra evitar o contágio”, anunciou a senadora Kátia Abreu (PDT-TO) ao conectar seu celular na primeira sessão virtual nos 196 anos de história do Senado. A votação online, na manhã de ontem, discutia o decreto que institui situação de calamidade pública no Brasil.

Lado a lado na tela da transmissão da TV Senado, parlamentares se revezavam nos discursos. Em vez da tribuna, cada senador estava em frente a um computador ou usando seu telefone celular. Fisicamente no Senado, apenas Anastasia, que assumiu a presidência da Casa após Davi Alcolumbre (DEM-AP) ser diagnosticado com o novo coronavírus, e o relator do projeto, Weverton Rocha (PDT-MA).

“O senhor está me ouvindo, presidente?”, foi a pergunta mais ouvida por Anastasia. “Perfeitamente, senador”, respondia o mineiro, na sala montada pela Secretaria de Tecnologia da Informação (Prodasen), com um telão que exibia a imagem de cada senador. Logo no início, o presidente da sessão tentou organizar a votação citando etiqueta em tempos de reuniões virtuais. “Quem não estiver falando, por favor, feche o microfone”, orientou.

Outro contaminado, o senador Prisco Bezerra (PDT-CE), suplente de Cid Gomes (PDTCE), fez questão de votar à distância. Por precaução, a senadora Maria do Carmo (DEM-SE), mesmo de casa, usava máscara cirúrgica. Com 83 anos, Arolde Oliveira (PSD-RJ) foi o primeiro a registrar seu sim ao decreto. “Eu sou um velhinho high tech”, disse o senador ao Estadão/Broadcast. Ele está em casa, em isolamento, no Rio. O parlamentar faz parte do grupo de risco da doença.

Alguns senadores, como Esperidião Amin (PP-SC) e Confúcio Moura (MDB-RO), não abriram mão do terno e gravata. Daniella Ribeiro (PP-PB) fez questão de usar maquiagem.

Enquanto uns usavam o traje social completo, Paulo Rocha (PT-BA) optou pelo chapéu. Foi elogiado pelo presidente da sessão. “Bem elegante o chapéu”, observou Anastasia.

Na hora de votar, Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) sumiu na imagem por instantes. “Entrou uma ligação aqui no meio, na hora”, justificou. Filho de Kátia Abreu, o senador Irajá (PSD-TO) votou usando uma fotografia do plenário do Senado no fundo. O senador mais idoso, José Maranhão (MDB-PB), de 86 anos, também falou de casa, após não conseguir conexão no início da sessão remota.

Em declaração para o Estadão/Broadcast, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) disse que a ideia é usar o sistema enquanto houver risco de transmissão da doença. “O sistema é extremamente seguro, mas eu gostaria de tranquilizar a população, a votação é somente para projetos de calamidade pública, não serve para outra coisa. O que significa que além dessa ferramenta, o Congresso Nacional terá votações normais assim que o resultado de todos os exames dos senadores derem negativo”, afirmou ela.

A inovação tecnológica também foi usada para as entrevistas. A assessoria do Senado abriu um canal no aplicativo WhatsApp para receber perguntas dos jornalistas na coletiva marcada para depois da sessão.

No fim da primeira sessão virtual da história do Senado, o decreto de calamidade foi aprovado por 75 a 0, sem as polêmicas habituais da Casa, onde as desavenças políticas já resultaram até em morte no plenário.

Provisório

“O sistema é seguro, e a votação é somente para projetos de calamidade pública. Além dessa ferramenta, o Congresso Nacional terá votações normais assim que o resultado de todos os exames dos senadores derem negativo.”

Simone Tebet (MDB-MS)

SENADORA