O Estado de São Paulo, n.46177, 22/03/2020. Metrópole, p.A18

 

País já tem 18 mortos e mais de mil casos

Eduardo Rodrigues

Anne Warth

Felipe Frazão

Tulio Kruse

22/03/2020

 

 

Apresentação dos números. Taxa de letalidade no País é de 1,6%, abaixo da média global

O Brasil já registra oficialmente 18 mortes pelo novo coronavírus e passou pela primeira vez dos mil casos confirmados – são 1.128, o que resulta em uma taxa de letalidade de 1,6%. Com a declaração de transmissão comunitária em todo o País, os casos suspeitos deixaram de ser contabilizados. São Paulo concentra o maior número de óbitos, 15, e de casos suspeitos, 459. Na sexta-feira, de acordo com o ministério, eram 11 mortes no País, o que ainda aponta curva ascendente.

O secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo Reis, observou que a taxa de letalidade ainda é menor que a global, que gira em torno de 3,4%, mas ainda é cedo para comparações porque o País tem poucos casos registrados até o momento. Segundo ele, “estamos muito longe da curva da Coreia, estamos um pouco acima da Alemanha e abaixo da Itália (que ontem registrou 793 mortes em 24 horas)”.

De acordo com Wanderson Kleber de Oliveira, secretário de Vigilância em Saúde, o número de casos e óbitos ainda não está representando a realidade da epidemia que o Brasil está vivendo. Oliveira também falou sobre como se dá o quadro da doença no País. “A maioria absoluta dos casos está em cidades com mais de 500 mil habitantes. Em cidades menores, são sempre casos relacionados a viagens. Então, temos uma epidemia muito concentrada em grandes centros.” Segundo o governo, o Ministério da Defesa deve atender às solicitações de reforço para montar hospitais de campanha e outros espaços voltados ao atendimento de pacientes.

O número de mortes confirmadas pela covid-19 subiu de 9 para 15 no Estado de São Paulo, segundo a Secretaria Estadual da Saúde. Há, ainda, 396 casos confirmados, com 34 pacientes internados em unidades de terapia intensiva. E outros 9 mil casos suspeitos.

De acordo com o balanço, todos os 15 óbitos do Estado foram registrados na capital. Das 15 vítimas, 14 estavam internadas em hospitais privados, enquanto uma estava na rede pública. Dos 6 novos óbitos, quatro mulheres (89, 76, 89 e 73) e dois homens (de 90 anos e de  49 anos, esse último sofrendo de tuberculose). Entre os casos suspeitos, está a morte de uma médica generalista de 52 anos, que atuava na rede municipal de saúde de São Paulo. Ela estava internada no Hospital Sancta Maggiore desde 23 de fevereiro para o tratamento de uma cardiopatia, mas se suspeita que tenha contraído o novo coronavírus nesse período, segundo informações do secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido. 

Análises. O médico Naomar Almeida Filho, professor de Epidemiologia do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), alerta que a subnotificação de casos deve tornar a taxa de letalidade no País superestimada. “Prossegue a tendência de ascensão rápida, como era esperado”, disse o professor, sobre os números divulgados . “O Brasil tem uma das epidemiologias mais bem desenvolvidas do mundo. Depois de Estados Unidos e Reino Unido, estamos nessa faixa de competência junto a países europeus que agora estão no epicentro da pandemia.”

Para Almeida FIlho, no entanto, a comparação dos dados ainda é realmente difícil, mas porque a capacidade de realizar testes tem variado nos diversos países do mundo atingidos.

Ele sugere que pesquisadores e o governo façam um “estudo epidemiológico tipo ‘fasttrack’” para identificar detalhes da população mais afetada pelo vírus, e estimara sub notificação .“Micro indicadores de morbidade, internosàpo pulação afetada por um problema de saúde como a infecção por coronavírus, são muito úteis para planejamento e alocação de recursos”, diz ele. “Aí deixaremos de depender de análises de riscos feitas em outros países, com perfis demográficos totalmente distintos, em outros contextos.”

Já o professor Bernardino Alves Souto, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), considera que as autoridades brasileiras demorar ampara implementar medidas de restrição. Ele diz que acurva ascendente dos casos confirmados no Brasil é semelhante às itu açã ode países na Europa .“Quando se começa a agir tarde, quase não se tem mais o que fazer”, diz Alves Souto. “Enquanto a taxa de crescimento for positiva, a epidemia ainda está em ascensão. Quando a taxa de crescimento é menor do que no dia anterior, isso é um alento, mas essa redução tem de ser sustentada, não pode ser só de um dia para o outro.”